Reuters
16/04/2001 - 17h06

Polícia russa é acusada de perseguir ex-jornalistas da NTV

da Reuters, em Moscou

Um porta-voz do magnata russo da mídia Vladimir Gusinsky disse hoje que a polícia está usando acusações de sonegação fiscal para pressionar a estação de TV que aceitou transmitir a programação noticiosa gerada pela equipe rebelde de outra emissora, a NTV.

Dmitry Ostalsky disse em um comunicado que a polícia especializada em impostos acusou o tesoureiro da TNT, um canal de Gusinsky, por causa de uma dívida fiscal que já havia sido paga. Ele disse que o diretor-geral da emissora também deve ser indiciado, mesmo que os US$ 7.000 em questão já tenham sido pagos.

``As autoridades estão usando uma força sem precedentes para destruir a antiga equipe da NTV e outras companhias do Media Most (a holding que controla os negócios de Gusinsky)'', disse Ostalvsky em um comunicado.

``Fazendo pressão sobre o comando da TNT, as autoridades tentam definitivamente privar a antiga equipe da NTV de sua habilidade de emitir notícias'', afirmou.

Os jornalistas rebeldes, que deixaram a rede privada de notícias no último sábado, após uma tomada do poder por dirigentes indicados pela empresa estatal de gás, nova proprietária da NTV, agora estão trabalhando na TNT e têm planos de criar a sua própria emissora.

Entre os rebeldes estão as principais estrelas do jornalismo da emissora. Eles acusam a gigante estatal Gazprom de ter decidido retomar a força o canal sob ordens do presidente Vladimir Putin, que estaria incomodado com o jornalismo crítico praticado por eles.

A Gazprom disse que o seu braço de mídia decidiu intervir para resgatar a endividada NTV de uma catástrofe financeira e para proteger seus investimentos na companhia, até então a principal fonte independente de notícias da Rússia.

Putin tem evitado intervir na crise, dizendo tratar-se de uma disputa puramente comercial, a ser resolvida nos tribunais. O Kremlin diz que não há nenhuma campanha política em curso contra Gusinsky. O empresário está na Espanha, onde tenta evitar sua extradição para a Rússia devido a acusações de fraude, que, segundo ele, têm motivações políticas.

Gusinsky mantém conversações com seu ex-rival Boris Berezovsky, também rompido com Putin, para a criação de um novo canal nacional de TV. Ele seria construído a partir da TV6, de Berezovsky, que hoje cobre 69 cidades na Sibéria e na Rússia Européia.

Temendo sua prisão, Berezovsky vive em um auto-exílio. Na sua ausência, ele convidou o ex-diretor-geral NTV Yevgeny Kiselyov, para comandar o canal. Não se sabe qual será o destino da atual equipe caso os ex-jornalistas da NTV passem a trabalhar no canal.

Há relatos conflitantes sobre quantos dos 1.200 funcionários da NTV deixaram a emissora. Os novos diretores dizem que 40 pessoas, entre as quais dez repórteres, pediram demissão. Mas o site da NTV (www.ntv.ru), aparentemente sob comando da antiga equipe, diz que o número chega a 300.

Yelena Bonner, viúva do Nobel da Paz Andrei Sakharov, disse no fim de semana que lamentava o que estava acontecendo na NTV e agradeceu a todos os que pediram demissão ``por não aceitarem trair a si mesmos e a nós''.
 

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