Faces do Subúrbio vai mostrar vida na periferia em Grammy Latino
da Reuters, em São PauloO grupo pernambucano Faces do Subúrbio vai levar um pouco da realidade da periferia de Recife (PE) para o Grammy Latino, que acontece na próxima terça-feira, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A banda foi indicada ao prêmio de melhor álbum de rap/hip hop com "Como é Triste de Olhar", seu mais recente disco.
O Faces do Subúrbio nasceu no Alto José do Pinho, em Recife, em 1992, sob a liderança de Zé Brown e Tiger. Mais tarde, juntaram-se ao grupo Garnizé (baterista), Marcelo Massacre (baixista), Ony (guitarrista) e o DJ KSB.
Com a mistura de hip-hop, punk, embolada (ritmo tradicional do Recife), hardcore e repente, o grupo vai competir com o Planet Hemp e o Sindicato Argentino Del Hip Hop.
A indicação ao Grammy Latino representa uma chance a mais para o grupo que há quase uma década circula no underground da música brasileira.
"Essa indicação nos trouxe muita alegria. Somos conhecidos mundialmente, mas mesmo assim nos limitamos mais a shows pelo Nordeste ou em festivais de música alternativa'', disse Garnizé.
"Nossa indicação é a indicação do movimento do Recife. Tem que descentralizar o rap (do eixo Rio-São Paulo) e mostrar as bandas boas que existem aqui. Não se pode negar a cultura de um povo. É preciso mantê-la viva", afirmou Garnizé.
Polêmica e política
Graças a um subsídio do governo de Pernambuco, o primeiro disco do Faces do Subúrbio ficou pronto em 1997 e o grupo passou a ser perseguido pela polícia por causa da música "Homens Fardados".
Mas o engajamento do grupo vai além das denúncias do preconceito da polícia contra o negro. "Queremos erradicar o trabalho infantil e melhorar a vida nas comunidades mais pobres", disse Garnizé.
O baterista - assim como os outros integrantes da banda - faz parte de diversas organizações não-governamentais, como as ONGs Tortura Nunca Mais e Luz da Periferia. Como parte do trabalho que desenvolve nestas entidades, Garnizé ensina percussão a crianças carentes. Graças a esses trabalhos sociais, ele viaja para vários países para participar de debates e ensinar música em outros países.
"Estive em Havana em abril e vou para a Alemanha em breve. Sempre que viajo eu levo os discos do Faces e tento divulgar a banda", afirmou Garnizé.
Documentário
O baterista fez parte do documentário "O Rap do Pequeno Príncipe Contra As Almas Sebosas", de Paulo Caldas e Marcelo Luna, que retrata a vida nas favelas a partir da trajetória de Garnizé e Helinho, um matador do Recife famoso por promover justiça com as próprias mãos.
"O filme teve muita projeção internacional e talvez por isso o Faces tenha conseguido a indicação ao Grammy", disse o músico referindo-se à indicação da produção para o Festival de Veneza de 2000.
Garnizé nasceu em Camaragibe, bairro pobre do Recife, e afirma que a música literalmente o regenerou. "Meu pai era alcoólatra e a minha mãe tem mal de Parkinson. Eu saí de casa com 17 anos e tive chance de ser de tudo. Apesar disso, tive uma boa família e uma boa educação. E a música também me ajudou a ser quem eu sou hoje", diz.
O baterista conta com orgulho que descobriu o dom da música aos 6 anos, quando viu pela primeira vez uma roda de candomblé e ficou batucando em uma caixa de papelão. "Hoje ando de cabeça erguida. Meu pai parou de beber e tem orgulho de mim, me respeita. Todo mundo olha para mim e me admira por tudo o que eu me tornei", disse ele.
Produção independente
Sem gravadora, o Faces do Subúrbio já está em fase de pré-produção de um novo disco. Em setembro a banda pretende lançar um CD-Rom com toda sua história.
"Vamos ter uns 1.500 CDs para vender pelo Brasil e acho que vamos ser a primeira banda com uma idéia como esta", contou Garnizé.
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