Reuters
06/09/2001 - 12h16

Faces do Subúrbio vai mostrar vida na periferia em Grammy Latino

da Reuters, em São Paulo

O grupo pernambucano Faces do Subúrbio vai levar um pouco da realidade da periferia de Recife (PE) para o Grammy Latino, que acontece na próxima terça-feira, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A banda foi indicada ao prêmio de melhor álbum de rap/hip hop com "Como é Triste de Olhar", seu mais recente disco.

O Faces do Subúrbio nasceu no Alto José do Pinho, em Recife, em 1992, sob a liderança de Zé Brown e Tiger. Mais tarde, juntaram-se ao grupo Garnizé (baterista), Marcelo Massacre (baixista), Ony (guitarrista) e o DJ KSB.
Com a mistura de hip-hop, punk, embolada (ritmo tradicional do Recife), hardcore e repente, o grupo vai competir com o Planet Hemp e o Sindicato Argentino Del Hip Hop.

A indicação ao Grammy Latino representa uma chance a mais para o grupo que há quase uma década circula no underground da música brasileira.

"Essa indicação nos trouxe muita alegria. Somos conhecidos mundialmente, mas mesmo assim nos limitamos mais a shows pelo Nordeste ou em festivais de música alternativa'', disse Garnizé.

"Nossa indicação é a indicação do movimento do Recife. Tem que descentralizar o rap (do eixo Rio-São Paulo) e mostrar as bandas boas que existem aqui. Não se pode negar a cultura de um povo. É preciso mantê-la viva", afirmou Garnizé.

Polêmica e política

Graças a um subsídio do governo de Pernambuco, o primeiro disco do Faces do Subúrbio ficou pronto em 1997 e o grupo passou a ser perseguido pela polícia por causa da música "Homens Fardados".

Mas o engajamento do grupo vai além das denúncias do preconceito da polícia contra o negro. "Queremos erradicar o trabalho infantil e melhorar a vida nas comunidades mais pobres", disse Garnizé.

O baterista - assim como os outros integrantes da banda - faz parte de diversas organizações não-governamentais, como as ONGs Tortura Nunca Mais e Luz da Periferia. Como parte do trabalho que desenvolve nestas entidades, Garnizé ensina percussão a crianças carentes. Graças a esses trabalhos sociais, ele viaja para vários países para participar de debates e ensinar música em outros países.

"Estive em Havana em abril e vou para a Alemanha em breve. Sempre que viajo eu levo os discos do Faces e tento divulgar a banda", afirmou Garnizé.

Documentário

O baterista fez parte do documentário "O Rap do Pequeno Príncipe Contra As Almas Sebosas", de Paulo Caldas e Marcelo Luna, que retrata a vida nas favelas a partir da trajetória de Garnizé e Helinho, um matador do Recife famoso por promover justiça com as próprias mãos.

"O filme teve muita projeção internacional e talvez por isso o Faces tenha conseguido a indicação ao Grammy", disse o músico referindo-se à indicação da produção para o Festival de Veneza de 2000.

Garnizé nasceu em Camaragibe, bairro pobre do Recife, e afirma que a música literalmente o regenerou. "Meu pai era alcoólatra e a minha mãe tem mal de Parkinson. Eu saí de casa com 17 anos e tive chance de ser de tudo. Apesar disso, tive uma boa família e uma boa educação. E a música também me ajudou a ser quem eu sou hoje", diz.

O baterista conta com orgulho que descobriu o dom da música aos 6 anos, quando viu pela primeira vez uma roda de candomblé e ficou batucando em uma caixa de papelão. "Hoje ando de cabeça erguida. Meu pai parou de beber e tem orgulho de mim, me respeita. Todo mundo olha para mim e me admira por tudo o que eu me tornei", disse ele.

Produção independente

Sem gravadora, o Faces do Subúrbio já está em fase de pré-produção de um novo disco. Em setembro a banda pretende lançar um CD-Rom com toda sua história.

"Vamos ter uns 1.500 CDs para vender pelo Brasil e acho que vamos ser a primeira banda com uma idéia como esta", contou Garnizé.

VEJA A LISTA COMPLETA DO GRAMMY LATINO
 

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