Reuters
06/09/2001 - 19h40

Vítimas aparecem no final da Conferência contra o Racismo

da Reuters, em Durban (África do Sul)

Um sul-africano de 84 anos que ainda sofre abusos de chefes brancos racistas, um colombiano expulso de casa por paramilitares e uma garota que fugiu da escravidão ajudaram a colocar uma face humana na Conferência contra o Racismo da ONU (Organização das Nações Unidas).

Entre o barulho político e o furor que dominaram o encontro, pessoas comuns contaram suas histórias de intolerância e discriminação.

De representantes de curdos da Turquia e indígenas Mapuche do Chile a uma ex-escrava de 17 anos do Niger -que caiu em lágrimas ao contar sua história- grupos étnicos e minorias tiveram a chance de apresentar suas reclamações na cidade de Durban, na África do Sul.

A Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância havia deixado de lado vítimas individuais desde o seu início, em 31 de agosto.

"Suas histórias estão impressionando, mas eles não representam apenas a si mesmos, representam milhões", disse Mary Robinson, alta comissária da ONU para direitos humanos, durante o evento "Vozes das Vítimas", na véspera do encerramento da conferência.

"Este é o nosso mundo. Cada país tem seus problemas. É por isso que precisamos sair daqui com um programa definitivo de ação para lidar com esses problemas."

O encontro foi marcado pela disputa política sobre a relação de Israel com os palestinos e a escravidão do século 19.

A conferência, da qual participam 160 países cerca de 4.000 organizações não-governamentais, pretende fazer uma declaração de princípios e um programa de ação para cada país.

"Sinto-me muito orgulhosa de ter vindo. Agora o importante é continuar a luta contra o racismo", disse Mariama Oumarou, 17 anos, da etnia tuaregue (tribos africanas nômades). Ela foi vendida como escrava aos 15 anos por US$ 300 e levada para a Nigéria, de onde escapou.

A Organização Internacional do Trabalho afirma que a escravidão ainda existe na África e na Ásia. O tráfico humano -principalmente para prostituição- explodiu na Europa com o colapso da União Soviética.

Griffiths Aaron Molefe, sul-africano que trabalhou para fazendeiros brancos a vida inteira, disse à conferência que a discriminação piorou com o fim do apartheid, a libertação de Nelson Mandela e a eleição de Thabo Mbeki à presidência. Ele foi expulso de casa por seu último patrão porque "não servia mais" aos 80 anos.

Leia mais no especial sobre a conferência da ONU
 

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