Reuters
07/09/2001 - 20h31

Guerrilheiros albaneses entregam armas na Macedônia

da Reuters, em Radusa (Macedônia)

Centenas de guerrilheiros da etnia albanesa entregaram hoje suas armas à Otan, mas disseram que conseguirão outras novas caso seja necessário. Eles pediram que a aliança militar ocidental prolongue sua permanência na Macedônia, onde começou a segunda etapa do processo de paz.

O clima era quase festivo, e muitos soldados levaram acordeões e violões. Mas vários disseram que, se necessário, voltarão às armas. "Estamos entregando até nossa última bala, mas se for preciso compraremos outras", disse Mevlud Bushi, um "comandante" de 19 anos, com uniforme preto.

Os rebeldes entregaram a parte mais poderosa de seu arsenal - inclusive um tanque e um veículo blindado, roubados do Exército - na aldeia de Radusa, perto da fronteira com Kosovo e a 35 km da capital Skopje.

Segundo o capitão britânico Ian Hutchinson, o tanque "disparava, mas não se movia", e por isso foi destruído no local.

Depois de seis meses de rebelião, a guerrilha Exército de Libertação Nacional aceitou depor suas armas em troca da aprovação de mais direitos para a minoria albanesa do país.

Na primeira etapa, 1.200 armas foram entregues. Até 26 de setembro, a Otan espera recolher 3.300. O processo parou nesta semana até que o Parlamento autorizasse o início da reforma constitucional.

Isso aconteceu ontem e logo em seguida começou a segunda fase do processo. A Otan abriu um posto para recolher as armas às 8h (3h em Brasília), entre um campo de futebol e uma piscina desativada de Radusa. Cerca de 600 soldados da Otan, a maioria britânicos, foram deslocados para proteger a área.

Apenas por volta das 12h apareceu a primeira coluna de guerrilheiros uniformizados, a maioria adolescentes levando rifles AK-47 nos ombros, poucos deles com armas automáticas.

À frente da tropa, um rebelde levava a bandeira albanesa (uma águia preta de duas cabeças sobre fundo vermelho). Seus colegas gritavam: "Somos heróis albaneses" e "Só existe uma Albânia".

No final da comitiva vinha o APC, um dos blindados pilhados do Exército, com a bandeira da guerrilha em ambos os lados. O veículo estava muito danificado na frente, com marcas de balas no pára-brisas. Ao final da entrega, as armas foram levadas de helicóptero para serem destruídas.

"Vamos entregar todas as armas, mas se a Otan não permanecer por pelo menos cinco anos, a missão será um fracasso", disse Ratif Msusi, um professor que comandava 400 guerrilheiros.

A Otan quer uma missão curta para evitar situações parecidas que enfrentou na Bósnia e em Kosovo. O mais provável é que monitores civis vigiem o desenrolar do processo de paz, mas há sérias dúvidas quanto ao seu sucesso, pois existem descontentamentos e rancores entre albaneses e eslavos.

Políticos macedônios mais radicais dizem que a meta da Otan, de recolher 3.300 armas, é muito baixa. Especialistas e diplomatas ocidentais consideram o número realista, mas dizem que a guerrilha pode facilmente se armar outra vez com o arsenal mantido em Kosovo e na Albânia.


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