Reuters
24/09/2001 - 20h18

Taleban se prepara para enfrentar ataque

da Reuters, em Islamabad

O grupo Taleban aumentou hoje os preparativos para a ameaça de ataque dos Estados Unidos, mobilizando tropas, confiscando estoques de alimentos da ONU e apelando para o povo norte-americano impedir "uma guerra vã e sangrenta".

Mas o principal porta-voz do grupo insistiu que o Taleban (grupo islâmico que controla 90% do território do Afeganistão) não entregará Osama bin Laden se os Estados Unidos não fornecerem provas de seu envolvimento nos ataques de 11 de setembro, que deixaram cerca de 6.000 vítimas.

O fugitivo de origem saudita de 44 anos de idade, em rara mensagem enviada à TV al-Jazeera, do Qatar, pediu para os paquistaneses impedirem o uso de seu país pelas tropas norte-americanas como trampolim para "a nova cruzada judaica e seu maior cruzador, Bush".

O Taleban admitiu ter perdido o controle da cidade de Zari, a 100 quilômetros de Mazar-I-Sharif, para a Aliança do Norte, grupo de oposição ao regime. A milícia também enfrenta resistência de Ismail Khan, comandante da oposição que já governou Herat e diz estar com 7.000 homens para recuperar a cidade.

Em mensagem divulgada simultaneamente em Cabul, Islamabad e no Golfo, autoridades do Taleban disseram estar reforçando seu grupo com mais 300 mil homens _número considerado improvável por um especialista paquistanês.

"Em vista das atuais condições, 300 mil homens bem equipados e experientes foram posicionados no centro (do país), nas fronteiras e outras áreas importantes", disse em comunicado enviado o ministro da Defesa, o mulá Obaidullah.

Obaidullah não revelou o tamanho atual do Exército, mas o analista Ahmed Rashid disse que não poderia ser mais de 45 mil.

"Eles têm cerca de 25 mil soldados no norte e cerca de 20 mil no sul", disse. "Eles podem recrutar jovens à força, mas estamos falando sobre somente 10 a 15 mil."

O mulá Mohamad Omar, líder do Taleban, advertiu Washington de que não poderá vencer sua "guerra contra o terrorismo" matando Bin Laden e disse que os Estados Unidos terão de mudar sua política no Oriente Médio ou encarar uma "guerra vã e sangrenta".

"A América não deve se enganar. Não pode emergir desta crise com o meu assassinato ou o de Bin Laden", disse comunicado distribuído por seu gabinete em Kandahar, no sul do Afeganistão.

"Se a América quer o fim do terrorismo, deveria retirar suas forças do Golfo e encerrar sua parceria na Palestina", disse o mulá Omar.

Washington quer Bin Laden "vivo ou morto". "Se a América não tomar os passos mencionados, será envolvida numa guerra vã e sangrenta e se queimará a si própria e a outros", disse o comunicado.

Aparentemente, Omar tenta manobras políticas para evitar ataques do maior Exército do mundo.

O mulá Abdul Salaam Zaeef, único enviado estrangeiro que ficou em Cabul desde que os Emirados Árabes Unidos suspenderam os laços diplomáticos no sábado, mandou uma mensagem diplomática aos norte-americanos.

"O simpático povo dos Estados Unidos, durante a ocupação soviética, nos ajudou de maneira sem precendentes e ainda apreciamos essa assistência", disse durante entrevista coletiva em sua embaixada na capital do Paquistão.

"Infelizmente o governo dos Estados Unidos está ameaçando o povo do Afeganistão. Fazemos um chamado ao povo da América para alertar as autoridades das graves consequências e salvar os povos do Afeganistão e da América destas consequências."

Taleban

Em Kandahar, o Taleban confiscou 1.400 toneladas de comida do Programa Mundial de Alimentação e fechou os escritórios da agência da ONU, disse um porta-voz em Islamabad.

A ONU disse que o Taleban fechou seus escritórios e sedes de grupos de ajuda em Kandahar, além de ter trancado os equipamentos de comunicações em Cabul durante o fim de semana.

Bin Laden, diz o Taleban, ainda está desaparecido. O movimento afirma que ainda está tentando entregar a ele a decisão dos clérigos, exigindo que se entregue. A informação é de Abdul Hai Mutmaen, principal porta-voz do movimento.

"Não é permitido mandá-lo contra sua vontade. Quando o encontrarmos entregaremos o veredito e caberá totalmente a ele decidir se quer ir ou ficar, mas até agora não conseguimos localizá-lo."

"Descartamos a possibilidade de sua entrega à América sem prova substancial", disse.

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