Reuters
29/09/2001 - 09h40

Cavallo adverte sobre risco de recessão no Brasil

da Reuters, em Beunos Aires

O ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, advertiu sobre o perigo de que o Brasil entre em processo recessivo e alimente as incertezas dos mercados ao adotar certas medidas para tentar conter a persistente depreciação de sua moeda.

A desvalorização do real "chegou a um extremo que, se persistir, prejudica a própria economia brasileira e obriga a adotar decisões no país irmão que podem dar lugar a um fenômeno recessivo e criar mais incerteza quanto ao futuro", declarou Cavallo a um auditório de empresários argentinos.

Só no acumulado do ano, o real perdeu quase 30% de seu valor em relação ao dólar, uma depreciação que acirrou as disputas entre os principais sócios da união aduaneira Mercosul, que também inclui Uruguai e Paraguai.

O Brasil anunciou na sexta-feira que sacaria a primeira parcela, de US$ 4,7 bilhões, de um pacote de ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional) no valor total de US$ 15 bilhões, o que dará ao Banco Central (BC) mais reservas para intervir no mercado de câmbio.

O governo brasileiro tentou reverter esta semana um panorama econômico incerto com uma série de medidas que frearam a queda da moeda do país.

O Banco Central e a CVM (omissão de Valores Mobiliários) anunciaram medidas para ajustar a demanda por reservas com o objetivo de absorver liquidez para operações no mercado de câmbio, enquanto o governo criava uma comissão para estimular as exportações e reduzir a dependência de financiamento externo.

Os mercados financeiros temiam que a debilitada economia brasileira pudesse sucumbir ante o que parecia uma queda insustentável da moeda após os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos.

A preocupação era de que a contínua queda do real fizesse disparar o custo da dívida, porque 75% dos compromissos do Brasil estão ligados a taxas overnight ou a moedas estrangeiras.

O nível de endividamento do Brasil cresceu para 53,7% do PIB (Produto Interno Bruto) em agosto. No final do ano 2000, a dívida representava 49,5% do PIB.

Os economistas se perguntavam se o Brasil se encaminhava para uma nova crise cambial, como a da desvalorização do real em janeiro de 1999.

Os problemas macroeconômicos do gigante latino-americano alimentaram as disputas no Mercosul, que atravessa uma das piores crises desde seu início, em 1995, devido a assimetrias cambiais entre suas maiores economias -Brasil e Argentina- e às severas críticas feitas por Cavallo a seu funcionamento.

A Argentina mantém desde 1991 um tipo de câmbio fixo que atrela sua moeda, o peso, ao dólar em paridade um para um, enquanto que o Brasil decidiu em janeiro de 1999 deixar sua moeda ser cotada através de um sistema de livre flutuação.

Cavallo propôs recentemente uma mudança no Mercosul, suspendendo a vigência da Tarifa Externa Comum (TEC) que dá forma ao bloco, o que daria liberdade a cada membro para definir seus próprios impostos aduaneiros.

Mas na sexta-feira o ministro argentino assegurou que "sem dúvida, vai fazer tudo o que estiver ao seu e vai tratar para que o Mercosul sirva de apoio, de modo que o mercado não siga desvalorizando a moeda brasileira. Sem dúvida esta é a chave para a economia brasileira e também para a nossa economia".

"De outra maneira, os avanços que produzimos nos últimos meses em matéria de incentivos para nossos exportadores, podem ser anulados pela situação macroeconômica do Brasil", advertiu Cavallo.

Apesar da diferença cambial, a Argentina mantém superávit comercial com o Brasil desde 1995, e só nos primeiros oito meses de 2001 teve um saldo favorável no comércio bilateral de 701 milhões de dólares.

 

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