Reuters
11/10/2001 - 07h37

Raimundos lança disco e mostra que continua sem Rodolfo

ANDRÉ SPINA
especial para a Reuters

Depois da saída do vocalista Rodolfo Abrantes, em junho, Digão (guitarra), Canisso (baixo) e Fred (bateria), do Raimundos, haviam decido encerrar o grupo. Mas a paixão dos fãs fez com que eles optassem por um novo rumo.

Digão assumiu o vocal e o grupo está lançando esta semana a coletânea "Éramos 4" (Warner Music), gravada em 2000 durante o show de aniversário da rádio paulista 89FM, com Marky Ramone na bateria (o Fred ficou dando uma de fotógrafo).

O disco traz uma faixa gravada com os dotes vocais de Digão e, num primeiro momento, pode até causar a impressão de ser material inédito. Mas é, na verdade, o adeus derradeiro de Rodolfo e uma espécie de comunicado da banda: foi muito bom com ele no front, e vai continuar sendo também sem ele.

Música demo

"As músicas têm mais importância do que nós indivíduos", disse o baixista Canisso durante entrevista coletiva à imprensa, na quarta-feira.

Ele também contou que, no período do rompimento de Rodolfo com a banda, costumava visitar o fórum de discussões do site oficial do grupo, onde encontrava mensagens do tipo: "O Raimundos não pode acabar!" e "Digão no vocal é a solução".

A sugestão foi aceita. "Sanidade", primeira música de trabalho do novo CD, tem o guitarrista comandando os timbres e é a única música do disco gravada pelo Raimundos já como um trio.

"Sanidade" fazia parte da primeira fita demo do grupo, de 1992, e agora ganhou um novo arranjo (produzido por Carlos Eduardo Miranda, o mesmo que contratou o Raimundos para o selo Banguela, no início dos anos 1990).

Curiosamente, foi essa música que mais destacou a banda na procura por uma gravadora. "Os executivos ouviam 'Nega Jurema', 'Palhas do Coqueiro' e 'Marujo' e diziam 'ok'. Quando chegava essa, diziam 'pronto, temos um hit! Um milhão de cópias vendidas'", lembrou Digão, que já era o vocalista na versão original.

Por causa do entusiasmo excessivo dos executivos, o grupo "pegou bronca" e decidiu guardar a música na gaveta. E ela acabou sendo essencial para a continuação do Raimundos.

"Tinha certeza que um dia voltaríamos a fazer algo juntos", disse Fred. "Mas foi na hora do '1 2 3 4' da gravação de 'Sanidade' que (realmente) tive certeza de que tudo ainda funcionaria entre nós."

Apesar de a "magia" da banda estar intacta, o grupo achou melhor dar um tempo para que Digão se sentisse confortável com a sua nova posição de vocalista. Por isso, "Éramos 4" é praticamente um CD de covers do Ramones, acrescentando "Sanidade", a versão hardcore de "Nana Neném" e a regravação punk de "Desculpe Mas Eu Vou Chorar", da dupla Leandro & Leonardo.

"Seria injusto mudar minha vida em dois meses", afirmou Digão. A retomada dos shows deve ocorrer no Anhembi, no dia 28 deste mês, em um show da rádio paulistana MixFM.

É nos palcos que o aquecimento da nova formação vai acontecer, numa espécie de ensaio ao vivo. "Nossa terapia sempre foi tocar", explicou Canisso. "É como uma droga para um viciado."

Para ajudar, Marquinho (do Peter Perfeito, outro grupo da Warner) foi recrutado. Ele assumirá as partes de guitarra que eram de Digão. Para Fred, "o tempo vai dizer se ele se tornará um membro oficial (do Raimundos)".

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