Reuters
17/10/2001 - 16h59

Para o bósnio Emir Kusturica, fazer filme é como jogar futebol

da Reuters, em São Paulo

O diretor bósnio Emir Kusturica, que abre nesta quarta-feira a 25ª Mostra BR de Cinema - 25ª Mostra Internacional de São Paulo, está de passagem pelo Brasil, país que sempre sonhou visitar, especialmente por ser apaixonado por futebol.

Kusturica também não esconde sua admiração e respeito pela seleção brasileira e conta que, em 1982, acompanhou pela televisão a final da Copa do Mundo entre Brasil e Itália, e chorou quando Paolo Rossi marcou o gol que acabou com o sonho brasileiro.

"Foi uma época em que o futebol era a mais perfeita tradução do carnaval, com sua alegria. Era um ideal estético para mim", disse ele à Reuters em entrevista na última terça-feira.

"A beleza daquele jogo foi um dos maiores impactos estéticos em minha vida", acrescentou o cineasta, que considera que fazer um filme se assemelha a disputar uma partida de futebol, na qual o comprometimento coletivo é muito grande.

Em São Paulo, trajeto da excursão de sua banda pela América Latina (iniciada em Santiago, Chile, e que prosseguirá em Buenos Aires), Kusturica fará dois shows (nesta quarta e quinta-feira), com sua "No Smoking Orchestra".

Ele terá ainda uma retrospectiva na Mostra, com a apresentação de alguns de seus principais trabalhos, incluindo "Memórias em Super-8", o filme digital que rodou com as apresentações de sua banda. O cartaz do festival de cinema também é de sua autoria.

Poucas palavras

Acompanhado de alguns integrantes da banda, o cineasta não quis falar muito de sua obra cinematográfica para não quebrar o encanto do espectador.

"Os filmes são feitos para serem vistos ou não. Quando o autor começa a explicá-los, rouba da platéia o conteúdo que ela poderia apreciar", afirmou.

Um de seus ídolos no cinema é o falecido cineasta italiano Federico Fellini, cujo humor pode ser observado em seus filmes. "O Fellini era um anjo que infelizmente não tocava numa banda", brincou Kusturica entre baforadas de seu inseparável charuto.

O cineasta revelou que antes de ser diretor pensava que conseguiria traduzir melhor suas preocupações através da música. Mas acabou acontecendo o contrário.

"Para mim é mais fácil fazer música do que um filme, porque o grau de liberdade é maior e o resultado, mais rápido."
 

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