Reuters
23/10/2001 - 17h39

Cientistas associam câncer de tireóide a acidente em Tchernobil

da Reuters, em Lisboa

O acidente na usina nuclear de Tchernobil, lembrado como pior do gênero no mundo, é associado a aproximadamente 2.000 casos de câncer na tireóide, o maior número da doença relacionado a uma causa conhecida com data específica, informaram cientistas hoje.

Embora a explosão radioativa tenha ocorrido há 15 anos, novos casos de câncer ligados ao material nocivo ainda são registrados.

"Quatro anos depois do acidente, um excesso de casos de câncer da tireóide foi notado entre crianças que foram expostas às partículas radioativas do desastre", disse o professor Dillwyn William, do Laboratório de Pesquisa de Strangeways, da Universidade de Cambridge.

"Esse aumento continua e novos casos ainda são detectados nas pessoas que eram crianças na época do acidente."

William disse durante a conferência Ecco 11, em Lisboa, que as crianças são particularmente sensíveis ao câncer depois da exposição à radiação -a única causa do câncer da tireóide.

"A exposição aos isótopos do iodo atinge a tireóide 1.000 vezes acima da dose média absorvida pelo resto do corpo. A particular sensibilidade de crianças ao câncer da tireóide, depois da exposição à radiação, pode estar ligado à combinação de uma dose mais alta da tireóide e a biologia do crescimento da glândula -que cai para um nível baixo na vida adulta", destacou.

A nuvem de radioatividade que surgiu depois da explosão na Ucrânia continha gás xenônio e césio inativos, mas a maioria dos componentes era isótopos radioativos de iodo, afirmou o especialista.

A tireóide é uma glândula na base da garganta que absorve o iodo dos alimentos e produz hormônios para manter o corpo funcionando devidamente. O câncer de tiróide é raro.

A médica Elaine Ron, do Instituto Nacional do Câncer dos EUA em Bethesda, Maryland, afirmou que o risco de desenvolver esse tipo de enfermidade poderia ser maior entre 15 e 19 anos depois da exposição.

Se a teoria estiver correta, muitas pessoas que eram crianças quando o desastre ocorreu deverão desenvolver o câncer.

Outra pesquisa apresentada na conferência de cinco dias mostrou que o acidente também poderia estar ligado ao câncer de pulmão.

Victor Chizhivov, do Centro de Pesquisa de Câncer em Moscou, disse que 43 funcionários da limpeza, fumantes e não-fumantes, que tiveram material radioativo encontrado nos pulmões depois da explosão, tiveram taxas mais altas de câncer nesse órgão que outras pessoas não expostas à radioatividade.
 

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