Reuters
22/04/2001 - 19h37

Skol Beats iguala DJs brasileiros a atrações estrangeiras

da Reuters, em São Paulo

A edição de 2001 do festival de música eletrônica Skol Beats terminou pontualmente às 8h da manhã de domingo, encerrando um evento que igualou em popularidade DJs nacionais a nomes estrangeiros e cujo nível profissional terminou de consolidar a presença do gênero no país.

Quando a música parou, as tendas trance e drum'n' bass eram as mais lotadas -reflexo do cenário durante toda a madrugada e da popularidade dos dois estilos.

Apesar de ter começado de tarde, o festival só pegou fogo mesmo no início da madrugada do domingo.

O canadense Richie Hawtin (ou Plastikman), uma das atrações internacionais mais esperadas, teve a dura tarefa de esquentar a pista techno a partir das 22h30, horário nada nobre, frio. Seu set foi tradicional, sincopado, mas prejudicado pelo volume do som do festival -muito baixo. A coisa só melhorou para ele depois dos dez minutos de chuva fria que caiu pouco antes da meia-noite. O público entrou na tenda para se proteger da água, lotando a pista e animando a performance de Hawtin.

Hawtin levou a vibração em 140 bpms (número de batidas por minuto considerado ideal para dançar) e conseguiu alguns momentos de palmas e assobios na pista até ser substituído pelo brasileiro Mau Mau. Este segurou o ritmo e manteve a pista cheia com uma apresentação entre o tech-house e o techno.

"Vim na fúria (com vontade) de ver o Plastikman e não me decepcionei. Seu trabalho é tecnicamente perfeito, as músicas passam sem perceber", comentou "André Gê", ao lado da namorada "Alessandra Agá", que moram no Jardim São Bento, zona norte de São Paulo.

Enquanto isso, na tenda trance, a cerca de 40 metros do espaço dedicado ao techno, Christopher Lawrence mostrava seu trabalho contínuo e dançante, variando momentos de hard trance com melodias psicodélicas que provocaram delírio no público.

Um pouco distante dali (cerca de 150 metros), gente comum tentava driblar a segurança para dançar ao lado de conhecidos ou quase famosos na área VIP e ganhar uma cerveja de graça. Apesar de o sistema de bares do festival ter sido impecável, os preços eram abusivos. Uma lata de cerveja custava 2 reais, o mesmo preço de uma garrafa pequena de água mineral. Já os drinques energéticos saíam por 8 reais e uma dose de uísque, 10 reais.

De volta à tenda techno, Renato Cohen levantava de vez o astral apresentando ao vivo seu vibrante projeto Level 202, com batidas secas e criativas. O público fiel do DJ e produtor brasileiro respondeu dançando e aplaudindo. Depois dele, foi a vez do norte-americano Rolando assumir os toca-discos, mas nessa altura, 3h30 da manhã, a concorrência das outras pistas era forte.

No espaço house, Roger Sanchez (Nova York), relembrava os anos 80 com "Sweet Dreams" (Eurythmics) e Andy C (de Londres) dava show de música negra para uma pista de drum'n' bass lotada.

"Ele é ótimo. Sua música mistura d&b, hip hop e até rap. É música negra de primeira. Mas quero ouvir mesmo é o Marky", dizia a estudante de publicidade Renata, 27, cabelo pintado de verde, piercing no nariz e 13 tatuagens pelo corpo.

Aqui e ali as atrações do festival apareciam. Bonecos articulados de extraterrestres e de dragões chineses movimentavam-se entre o público. Contorcionistas desciam por tiras de pano desde o teto das pistas.

"Estou adorando. Só achei ruim o desnível da grama, atrapalha na hora de dançar", dizia Gabriela ("só Gabriela"), 18.

Pouco depois das 5h o festival pulava do ápice para a finalização. Marky passava dos limites como DJ e exibia seu lado showman, acenando para a platéia, fazendo paradas para depois voltar com seu melhor som. Vista de fora, a pista era um mar de cabeças subindo e descendo na mesma toada, sonho de todo DJ.

A enfurecida dupla alemã X-Dreams se apresentava ao vivo e não deixava ninguém parado na tenda trance, apoiada por sons metálicos e melódicos sobre a tradicional batida 3/4 do estilo. Os alemães pulavam, agitavam os braços, pedindo para o público "se levantar", enquanto o telão exibia imagens cósmicas. Rica Amaral assumiu em seguida e contagiou seu público colorido, fiel e exigente com um set psicodélico e progressivo.

De volta à tenda techno, Camilo Rocha tocava um som bem menos pesado do que costuma apresentar em raves. O DJ brasileiro herdara uma pista esvaziada de Rolando e teve que se contentar com um público pequeno diante da dimensão da tenda, mas que se aglomerou em frente ao palco e por vezes se entusiasmou.

"Gostei do festival. Foi melhor do que o do ano passado. As tendas estão mais próximas e o parque de diversões é mais legal. Pulei até de bungee jump", contou Milena Travesi, 23, enquanto comia batatas fritas e tomava água às 7h30 da manhã, ao lado do irmão Márcio, 21.

"Para mim, o melhor foi Bryan Gee", disse Milena, antes de ser interrompida pelo irmão, que disse ter ficado cerca de oito horas na tenda house.

"Joe Claussel é irreparável. Foi o melhor som de todos", disse Márcio.

Os irmãos passaram então a discutir sobre preferências até que a música de todas as tendas parou repentinamente às 8h.

Era o final do Skol Beats de 2001. Cybermanos, gays, patricinhas, playboys, maurícios, tatuados, coloridos, normais, surfistas e demais tribos deixaram o autódromo de Interlagos aparentemente satisfeitas com o festival.

"Perfeito. Deu para conhecer um pouco de cada estilo. Gostei da decoração fluorescente do trance e dos vídeos coloridos que passaram no telão do espaço house. Não sei o nome de nenhum DJ, mas gostei do drum 'n' bass", disse o bancário Jonas Fariat, que nunca tinha ouvido um disco de música eletrônica na vida antes do festival.
 

FolhaShop

Digite produto
ou marca