Reuters
26/10/2001 - 17h28

"Dias de Cão", em cartaz na Mostra, disseca a miséria humana

da Reuters

Um soco no estômago é uma das melhores descrições para a produção austríaca "Dias de Cão", atração de hoje na 25ª Mostra BR de Cinema.

É o primeiro filme de ficção do documentarista Ulrich Seidel, capaz de manter a platéia de respiração suspensa com uma dissecação implacável da miséria humana num subúrbio de classe média alta de Viena.

O calor insuportável de um verão excessivo são tão desesperadoras quanto a neurose das pessoas, cujas vidas esbarram sem real contato humano.

O exemplo mais patético deste vazio é Anna (Maria Hofst tter), uma louca que passa seus dias pedindo carona em auto-estradas.

Uma vez dentro dos carros, dispara freneticamente sua sabedoria de almanaque, enumerando as listas dos dez mais de praticamente tudo: as dez apresentadoras de TV mais sensuais, as dez doenças mais comuns, as dez posições sexuais favoritas do público.

Seus diálogos non stop provocam a ira dos outros e inevitavelmente ela termina na rua, recomeçando seu compulsivo ritual.

Nem um pouco normal é o velho viúvo (Eric Finsches) que paga sua empregada (Gerti Lehner), quase da sua idade, para fazer um striptease. Ou o marido (Victor Rathbone) e a mulher (Claudia Martini) que vivem em guerra dentro da mesma casa depois da morte da filha, e a professora (Christine Jirku) que se faz espancar e humilhar por dois amantes (Georg Friedrich e Victor Hennemann) -o que dá oportunidade a uma apresentação das mais escandalosas do hino nacional austríaco, com um uso nada ortodoxo de uma vela de aniversário.

Pagando um tributo a "Os Idiotas", de Lars von Trier, "Dias de Cão" mostra-se assustador e corajoso.

Antes deste filme, que obteve o Grande Prêmio do Júri do Festival de Veneza/2001, Ulrich Seidel só tivera exibido no Brasil seu documentário "Amor Animal", na Mostra Internacional de Cinema de 1996.

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