Reuters
05/11/2001 - 16h51

Cientistas russos pedem vacinação contra varíola

da Reuters, em Moscou

Cientistas da ex-União Soviética, especialistas em armas biológicas, fizeram um apelo nesta segunda-feira para que haja uma ampla reintrodução da vacinação contra o vírus da varíola, considerado extinto. Eles alertaram para o risco de que grupos mal intencionados possam negociar com pesquisadores russos, cujos salários estão muito baixos.

"Na mão de terroristas, esse vírus pode se tornar uma arma perigosa. Não é necessário muita inteligência para espalhá-lo", disse Lev Sandakhchiyev, diretor do Instituto Vektor, que possui uma das duas amostras oficiais de varíola existentes no mundo.

"Tudo o que vocês precisam é de um fanático doentio que chegue a qualquer lugar habitado", disse o cientista em uma entrevista coletiva em Moscou. "O sistema de saúde mundial está completamente despreparado para isso."

Autoridades declararam o vírus da varíola erradicado em todo mundo em 1981 e desde então suspenderam a vacinação. A doença matou milhões de pessoas ao longo da história da humanidade.

Mas as autoridades nos Estados Unidos e em outras partes do mundo agora temem que a doença reapareça se alguns indivíduos como os misteriosos remetentes de cartas contaminadas com a bactéria antraz tiverem acesso ao vírus da varíola. Quatro pessoas já morreram nos Estados Unidos em decorrência do antraz.

Sandakhchiyev afirmou que os cientistas da Vektor ganham apenas cerca de US$ 100 por mês. Por isso, em tese, alguns poderiam ser seduzidos financeiramente por pessoas que quisessem adquirir conhecimentos sobre o vírus.

"Tudo é possível no mundo de hoje", disse o diretor.

"Se a pergunta fosse 'há cientistas russos trabalhando no Irã ou no Iraque?', minha resposta seria não. Ou 'há iraquianos na Vektor?', não", disse ele, nomeando dois países que Washington acusa de patrocinar o terrorismo. "Mas só o diabo sabe com quem nossos empregados se encontram. Nossos cientistas vão a conferências internacionais como parte de grandes delegações."

Mas ele acrescentou que a coleção de agentes letais existente no instituto é protegida: "Temos um sistema de segurança contra terrorismo e contra ataques à nossa coleção. Além disso, nosso prédio tem entrada controlada. As pessoas não aparecem ali por acaso."

Anatoly Vorobyov, general da ex-URSS e líder do programa secreto de armas biológicas de Moscou nos anos 80, afirmou que a varíola é um dos maiores riscos em termos de armas biológicas porque é altamente contagiosa.

"Em princípio, toda a população precisa ser vacinada, não somente nos Estados Unidos, mas também na Rússia e em outras partes do mundo", disse.

Os Estados Unidos iniciaram a vacinação de alguns médicos contra a doença em meio ao crescente temor de que ela volte a se manifestar. O vírus mata pelo menos 30% das vítimas não vacinadas.

Os avisos vindos dos veteranos cientistas russos são especialmente aterrorizantes, já que têm uma extensa experiência no assunto.

Em um livro recente sobre pesquisas em armas biológicas, um dos mais prestigiados cientistas de Moscou, Ken Alibek, diz que o Instituto Vektor testou uma arma com varíola em 1990.

Desde 1984, esse laboratório da Sibéria possui uma das duas únicas amostras oficiais do vírus existentes no mundo. A outra está no Centro de Controle de Doenças de Atlanta, nos Estados Unidos.

Os serviços de inteligência ocidentais suspeitam que algumas nações, entre elas o Iraque e a Coréia do Norte, também possam ter estoques do vírus da varíola, doença altamente infecciosa que causa erupções na pele e febre alta.

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