Reuters
16/11/2001 - 18h17

Biotecnologia pode ser aliada no combate a doenças endêmicas

da Reuters, em Londres

A engenharia genética, normalmente criticada por grupos ambientais e consumidores por seu papel na alteração de alimentos, pode ter encontrado um nicho capaz de ajudar a salvar a vida de milhões de pessoas afetadas pela maioria das doenças endêmicas do mundo.

Com o uso da biotecnologia para incorporar genes úteis na variedade quase ilimitada de plantas comuns, desde tabaco até batata, tomate e banana, os cientistas pretendem produzir vacinas baratas e permanentes em uma forma comestível e, com elas, combater doenças.

Problemas como cólera, tuberculose e hepatite, responsáveis pela morte de milhões de pessoas todos os anos incluindo muitas crianças em países em desenvolvimento, têm sido alvo de candidatos a vacinas que podem ser alterados a partir de plantas.

Atualmente existe uma esperança realista de que a luta da humanidade, que já dura séculos, contra a malária pode estar chegando ao fim com a descoberta no ano passado da produção do primeiro mosquito transgênico do mundo.

Até agora, parece não haver um final óbvio para a variedade das aplicações potenciais da biotecnologia na luta contra doenças. Mesmo as raízes de tabaco estão sendo usadas para produzir em grande quantidade uma vacina contra veneno de escorpião no Brasil, que pode ser incorporada a frutas.

"Essa é uma tecnologia relativamente recente e não sei quando vamos ter vacinas disponíveis comercialmente. Mas isso é bastante excitante", disse Mike Steward, imunologista da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

"Não importa em que planta você insere (genes) já que os princípios de biologia molecular são idênticos. A versatilidade é impressionante", explicou ele.

A alteração genética envolve a troca ou junção de genes de espécies não relacionadas que não podem se cruzar naturalmente e as espécies podem ser bastante diferentes.

Os cientistas inseriram genes do veneno de aranha em milho e outros grãos como um pesticida natural para impedir insetos e pássaros de se alimentarem das plantas e inseriram genes de peixe em tomates para estender sua época de crescimento no inverno.

Recentemente isolou-se em um laboratório britânico uma proteína não-tóxica do veneno de um pequeno escorpião que é comum em partes do Brasil.

Quando injetada em animais, a proteína provou ser uma boa vacina potencial à medida em que ela forneceu uma forte imunidade contra o veneno. Mas o problema era que apenas quantidades muito limitadas da proteína podiam ser obtidas, apenas o suficiente para algumas pessoas.

Os cientistas conseguiram então decifrar o código genético da proteína e usaram as raízes de tabaco para purificar o gene cultivado em laboratório em maiores quantidades da vacina de proteína, sem o risco do gene do escorpião invadir espécies de plantas.
 

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