Reuters
26/11/2001 - 15h25

Clonagem dos EUA não é inovação científica, diz pai da Dolly

da Reuters, em Londres

Os cientistas que criaram a ovelha Dolly subestimaram hoje o feito da companhia americana que clonou um embrião humano, classificando-o de pesquisa preliminar

A Advanced Cell Technology, companhia de biotecnologia baseada em Worcester, Massachusetts, anunciou ontem que clonou um embrião humano, o que vem sendo considerado como uma inovação científica.

Usando as técnicas pioneiras dos pesquisadores do Instituto Roslin, na Escócia, onde Dolly nasceu em
1997, a ACT disse que criou um embrião humano de seis células que não havia sido fertilizado por esperma

Mas Harry Griffin, um dos cientistas do Roslin que ajudou a criar Dolly, descreveu o trabalho americano como um experimento de pequena escala.

"É mais uma conquista política e ética do que científica e certamente não é uma inovação científico", disse.

Os cientistas da ACT enfatizaram que o seu objetivo não era criar seres humanos clonados, mas desenvolver tratamentos para uma variedade de doenças que vão desde o câncer ao mal de Alzheimer usando o embrião como fonte de célula-tronco, células diferenciadas que podem ser transformadas em qualquer outra do corpo, inclusive neurônios.

A ACT usou a técnica clássica de clonagem, que fertiliza um óvulo substituindo o seu DNA pelo DNA de um célula comum do corpo. A célula assim se multiplica sem a necessidade de um espermatozóide.

O jovem embrião dividiu-se então ao estágio de seis células. Para ser uma fonte viável de células-tronco, o embrião humano deveria se desenvolver ao estágio de blastocisto, uma massa de 100 a 150 células das quais as células-tronco podem ser removidas.

Griffin e Ian Wilmut, que liderou a equipe que criou Dolly, disseram que quando um embrião é criado, ele está praticamente programado para desenvolver as três ou quatro primeiras divisões celulares.

"Mesmo se você retirar o núcleo de um óvulo que não foi fertilizado, ele ainda iria se desenvolver até o estágio de seis células sob condições certas sem necessariamente acrescentar o núcleo de uma célula adulta", disse Wilmut.

"O fato de que ele não se desenvolveu além das seis células sugere que esta é uma pesquisa de pequeno peso", acrescentou ele.

Até agora, cientistas clonaram vacas, ovelhas, porcos, camundongos e cabras. Diversas outras espécies atingiram o estágio de blastocisto, mas pesquisadores nunca conseguiram chegar até o nascimento dos animais, de acordo com Griffin.

A ACT foi a primeira a relatar seu avanço no meio científico, mas Griffin disse que ainda há um longo caminho pela frente.

"A inovação significativa nesta área seria a criação de um blastocisto -- um embrião que chegou ao estágio de 100 a 150 células", disse.

Preliminar ou não, o anúncio da ACT desencadeou uma torrente de críticas de políticos e grupos que defendem a vida. Ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha tenta aprovar uma legislação emergencial para dar um fim a uma brecha legal com o objetivo de impedir a clonagem reprodutiva humana.

O Congresso dos Estados Unidos também pretende tornar ilegal a clonagem humana. Um projeto de lei está sob análise no Senado.

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