Reuters
06/12/2001 - 08h55

Poderoso líder afegão anuncia boicote a novo governo

da Reuters, em Cabul (Afeganistão)

Dois poderosos líderes que fazem oposição ao Taleban manifestaram-se hoje contrários ao acordo de divisão de poder assinado nesta semana na Alemanha. Um deles afirmou que boicotaria o novo governo afegão.

O general Abdul Rashid Dostum, cujas forças controlam um pequeno território no norte do Afeganistão, incluindo a cidade de Mazar-e-Sharif, disse que sua facção, a Junbish-i-Milli, formada sobretudo pela etnia uzbeque, não estava suficientemente representada no acordo assinado em Bonn, na quarta-feira.

"Estamos muito tristes", afirmou Dostum. "Anunciamos nosso boicote a este governo e não iremos para Cabul enquanto não houver um governo adequado no poder."

O líder espiritual Sayed Ahmad Gailani, da etnia pashtu, afirmou que o acordo é "injusto".

"Foram cometidas injustiças na distribuição dos ministérios", declarou Gailini, durante entrevista coletiva na capital paquistanesa, Islamabad. "Aqueles que tiveram um papel importante na jihad [contra a ocupação soviética] não estão representados."

Gailani não especificou quais eram os grupos ou indivíduos que ele tinha em mente.

"Embora a nova estrutura não seja tão equilibrada, ainda espero que as Nações Unidas formem um comitê para reunir pessoas para uma Loya Jirga (assembléia tradicional), de forma que as coisas sejam resolvidas nas últimas etapas", afirmou.

Gailani, que lidera a Frente Nacional Islâmica do Afeganistão e apóia o rei deposto Zahir Shah, foi representado na conferência de nove dias de Bonn por seu filho, Hamed Gailani.

Dostum, cuja renúncia poderia prejudicar o novo governo e esvaziar a euforia inicial em relação ao acordo de Bonn, disse ter solicitado que o Ministério das Relações Exteriores ficasse com a sua facção -parte da Aliança do Norte, que domina militarmente o Afeganistão.

Em vez disso, o grupo de Dostum ficou com as pastas da Agricultura, Mineração e Indústrias.

"Para nós isso é uma humilhação", declarou, acrescentando que negaria o acesso ao norte aos funcionários do novo governo. O gás e o petróleo do Afeganistão estão nessa região.

Ele afirmou que a razão do boicote não se deve ao fato de terem sido negados postos-chave aos uzbeques, mas que seu partido, que inclui outros grupos étnicos, deveria ser mais bem representado porque havia desempenhado um papel crucial para expulsar o Taleban do norte.

"Minha recusa não tem o objetivo de dizer que os uzbeques não foram representados", disse. "Há intelectuais em Junbish sem cuja luta e sacrifício os norte-americanos não poderiam ter derrotado o Taleban e o terrorismo. Nós de fato provocamos a queda do Taleban."

Ele afirmou ainda que o boicote não significa que ele esteja contra o processo de paz.

Leia mais:
  • Saiba tudo sobre a guerra no Afeganistão

  • Conheça as armas dos EUA

  • Conheça a história do Afeganistão

  •  

    FolhaShop

    Digite produto
    ou marca