Reuters
11/12/2001 - 12h10

Contrastes marcam ano de 2001 pré e pós-11 de setembro

da Reuters, em Londres

Três meses depois, ainda há fumaça. A nuvem que se formou a partir de Manhattan (Nova York) lançou uma sombra negra sobre 2001 e enegreceu o horizonte do ano que ainda não começou.

O dia 11 de setembro, algo que se disse várias vezes, mudou tudo, revolvendo e provocando emoções, atitudes culturais e alianças militares e políticas na maior parte do planeta.

As manchetes de jornais de todo o mundo que se liam horas antes de os aviões atingirem Nova York e Washington parecem paradoxais agora. Havia espaço nas primeiras páginas para a eleição na Noruega e para um caso da doença da vaca louca no Japão.

Mas também existiam rumores distantes, no dia 10 de setembro, da tempestade que se avizinhava: um êxodo de refugiados afegãos rumo à Austrália e o misterioso assassinato, por meio de um atentado suicida, de um líder anti-Taleban no norte do Afeganistão.

Então aconteceu. A narrativa ponto a ponto de como o World Trade Center, parte do Pentágono, quatro aviões e milhares de vidas foram destruídos em poucos momentos não precisa ser recontada.

As imagens apocalípticas do desabamento das torres gêmeas tomaram a maior parte das pessoas com horror, e algumas com alegria. Talvez a única sociedade em que as imagens não foram vistas foi o Afeganistão do Taleban, onde a TV era considerada um pecado.

A rede Al Qaeda, de Osama bin Laden, recebeu a culpa. Em pronunciamentos gravados em vídeo, o ativista não negou vigorosamente sua culpa e ameaçou a realização de outros atos violentos.

Ele se assemelhava a um profeta, e em dezembro ao menos uma de suas profecias parecia próxima de se realizar. "Este lugar [o Afeganistão] pode ser bombardeado", afirmou em uma entrevista. "E seremos mortos. Nós amamos a morte. Os EUA amam a vida. Essa é a grande diferença entre nós."

Se, no começo de dezembro, Bin Laden parecia perto de receber a morte pela qual ansiava, o ativista havia perdido tudo o mais. A jihad (guerra santa) que ele conclamou contra o Ocidente, Israel e os dirigentes muçulmanos "corruptos" não dava sinais de ocorrer.

O regime de seus protetores do Taleban ruiu, a maior parte de seus combatentes, no fim, decidiu que amava menos a morte que a derrota. Combatentes muçulmanos afegãos que não pertenciam ao Taleban colaboraram entusiasticamente com os aviões norte-americanos na conquista do país.

Longe de se retirarem do mundo islâmico, como desejava Bin Laden, as forças norte-americanas estavam ao final do ano no Paquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão, junto com algumas unidades européias.

O conflito entre israelenses e palestinos cozinhava em fogo brando no começo de 2001 e fervia ao final do ano. A violência ameaçava desestabilizar a região e polarizar o mundo de modo mais efetivo do que as táticas de Bin Laden.

Terroristas palestinos mataram 25 israelenses em um único final de semana de dezembro, aviões de Israel bombardearam a Autoridade Palestina, liderada por Iasser Arafat, e a polícia do líder palestino entrou em choque com militantes do grupo muçulmano Hamas.

O inimigo de meu inimigo é meu amigo

Fora do mundo islâmico, as ondas de choque que se seguiram a 11 de setembro mostraram-se quase tão intensas quanto. Países inimigos no início do ano eram aliados no segundo semestre, em uma campanha descrita algumas vezes não apenas como uma "guerra contra o terror", mas uma batalha pela civilização.

Para a Rússia, 11 de setembro significou a justificativa de suas advertências sobre a ameaça que Bin Laden representava para a separatista Tchetchênia e para outros locais.

O país ofereceu cooperação na área de inteligência com os EUA e não fez objeções ao envio de soldados norte-americanos para as ex-Repúblicas soviéticas do norte do Afeganistão, algo até então impensável.

As relações entre os dois países melhoraram, depois de dificuldades no começo do ano devido aos planos dos EUA de construir um escudo de defesa antimíssil. Os presidentes George W. Bush (norte-americano) e Vladimir Putin (russo) parecem agora perto de chegar a um acordo que abarque a questão do escudo e o corte nos arsenais nucleares.

A hostilidade entre a China e os EUA atingiram altos níveis em abril, depois de um avião espião norte-americano ter colidido com um jato chinês. A China apreendeu o avião e a sua tripulação.

Ao final do ano, as relações haviam melhorado bastante.


Conflitos nas bordas do Islã

Nas áreas em que o mundo islâmico encontrava-se com outras culturas, os conflitos parecem ter se intensificado.

As forças indianas na Caxemira e os militares filipinos intensificaram suas ações, elevando o nível dos conflitos contra os "terroristas" muçulmanos, e centenas de pessoas morreram em choques entre muçulmanos e cristãos na Nigéria e na Indonésia.

Uma onda de ataques contra mesquitas e contra muçulmanos surgiu em setembro no Ocidente, mas acabou cedendo.

Parecia que a ordem de prioridades para milhões de pessoas havia mudado repentinamente. A Aids levou mais vidas do que o desabamento das torres gêmeas e as guerras mundiais combinadas. Cerca de 40 milhões de pessoas estariam infectadas pela doença.


Estações espaciais

Até setembro, 2001 parecia um ano bom para a área de ciência e tecnologia. O recém-mapeado genoma humano havia sido publicado e a Estação Espacial Internacional (ISS) tornava-se, depois da adição do módulo Destiny, a maior estrutura a ser construída em órbita. O uso da internet e dos telefones celulares aumentou enormemente, mesmo levando em conta as dificuldades financeiras no setor.

Cientistas norte-americanos clonaram um embrião humano, mas não para criar um ser humano e sim para usar as células-tronco no tratamento de doenças. O Vaticano condenou a prática como havia condenado a Holanda, em abril, quando o país legalizou a prática da eutanásia.

Os EUA, e por alguns momentos o resto do mundo, foram tomados pelo pânico depois do envio de cartas contaminadas pela bactéria antraz, um componente de armas biológicas. Cinco pessoas morreram até dezembro, mas a identidade dos responsáveis pelos ataques continuava desconhecida.

O período de expansão econômica desenfreada terminou, ou ao menos perdeu força, aumentando a pressão sobre economias em dificuldade como a Argentina, que em dezembro encontrava-se à beira do abismo de uma desvalorização e de uma moratória.

O cenário é mais favorável na Europa, onde o euro entra em circulação no dia 1º de janeiro do próximo ano.

De todo modo, os arranha-céus, as companhias aéreas e os mercados financeiros continuam a parecer frágeis.

E três meses depois dos ataques, a pergunta continua a mesma: onde está Bin Laden?

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