Reuters
20/12/2001 - 21h02

Filme "Apocalypse Now" volta com 53 minutos a mais

da Reuters, em São Paulo

O "Apocalypse Now", de Francis Ford Coppola, volta aos cinemas nesta sexta-feira com mais 53 minutos, cópia e som novíssimos, mas sem perder um milímetro da fúria original.

O filme, rebatizado de "Apocalypse Now Redux", já foi exibido na 25 Mostra BR de Cinema, em outubro, e estreou em maio em Cannes, 22 anos depois de ter levado a Palma de Ouro por sua primeira versão.

A grande vitória, desta vez, foi provar que a produção sobreviveu intacta à passagem do tempo e credenciou-se mais do que nunca ao título de clássico.

O impacto deste relançamento acabou tornando-se uma saboreada revanche para o velho chefão do cinema americano. Afinal, quando Coppola esteve em Cannes em 1979, levou seu filme debaixo do braço numa cópia de serviço ainda quente, que encalhara dois anos no processo de montagem e tivera algumas das filmagens mais complicadas da vida do diretor.

Ele chegou a hipotecar a própria casa para garantir a conclusão da obra, depois de sobreviver a furacões nas Filipinas e a uma crise cardíaca do protagonista, o ator Martin Sheen, entre inúmeras outras catástrofes.

Por ironia, ao contrário do que o próprio Coppola imaginava, "Apocalypse Now" acabou sendo um grande sucesso comercial.

Quase todo mundo já viu este filme - mas nunca desta forma. São exatamente três horas e 16 minutos intensos e sem sobras. O diretor trabalhou nela seis meses, voltando ao material bruto das tomadas diárias de 1979.

Assim, foram retomadas cenas que haviam sido expurgadas da primeira montagem - com duração original de mais de quatro horas e vista por muito poucos - além de incorporar material nunca mostrado antes.

Sem mudar fundamentalmente nem a história nem o final - que agora o diretor acredita mais justificado pelos acréscimos - as novas cenas dividem-se basicamente em quatro momentos.

Mostra-se novo material da sequência em que o capitão Willard (Martin Sheen) faz camaradagem com os soldados, que o acompanharão na jornada ao inferno da selva vietnamita para capturar o ensandecido coronel Kurtz (Marlon Brando).

O grupo é visto rindo e brincando depois que Willard rouba a prancha de surfe de outro militar maluco, Kilgore (Robert Duvall), que no filme comanda o clássico bombardeio de helicópteros ao som da "Cavalgada das Valquírias", de Richard Wagner.

Uma nova sequência se passa numa fazenda pertencente a uma família francesa, que fica bem no meio do fogo cruzado e na rota do barco de Willard.

Nessa parte, faz-se o funeral do jovem soldado Clean (Lawrence Fisburne) e acontece mais tarde um tenso jantar entre o capitão e os franceses, remanescentes dos colonizadores da Indochina que, tanto quanto os americanos dos anos 1970, eram predadores e estranhos no ninho do Vietnã.

A mágica conjunta de Coppola e do montador Walter Murch conseguiu alongar a sequência em que coelhinhas da Playboy visitam o front - mesmo que não tenha sido filmado nada novo.

Uma outra cena reintroduz um corte da versão original, por conta da preocupação de Coppola com o que parecia uma duração excessiva e anticomercial do filme em 1979.

Agora pode-se ver Kurtz (Brando) abrindo a porta de um calabouço para Willard (Sheen), pronunciando um novo diálogo, onde alude ao comentário do presidente Nixon sobre como as coisas cheiravam melhor no sudeste asiático.

"Como elas cheiram aqui e agora para você, soldado?", pergunta Kurtz para o atônito capitão, que esteve prisioneiro num cubículo sem comer, beber, tomar banho ou ver a luz do sol por vários dias.

"O horror, o horror", é a frase final de Kurtz, que já era antológica e agora se consolidou como testemunho de uma época.
 

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