Reuters
23/12/2001 - 15h07

Alemanha lembra o centenário de Marlene Dietrich

da Reuters, em Berlim

A atriz Marlene Dietrich morreu há uma década detestando Berlim porque muitos em sua cidade natal a consideravam traidora. Mas isso não impediu que a cidade celebrasse o centésimo aniversário da diva do cinema.

Uma série de exibições em museus, musicais de gala, documentários na televisão e homenagens está acontecendo em homenagem à atriz, que faria 100 anos no próximo dia 27.

"Existe um fascínio por Marlene Dietrich porque ela sempre polarizou as pessoas e sempre foi capaz de fazer provocações", disse Werner Sudendorf, autor de uma biografia de Dietrich e curador de uma exposição sobre ela em Berlim.

"Ela sempre será um ícone do século 20. Ela lançava moda, era corajosa. Marlene era uma atriz, uma cantora e uma heroína política relutante. Ela era um microcosmo da história germano-americana no século passado", disse Sudendorf.

Nascida Marie Magdalene Dietrich no dia 27 de dezembro de 1901, a atriz começou a carreira aos 20 anos de idade. Ela trabalhou na década de 20 em teatros locais como cantora e atriz antes de fazer o papel que a consagrou em "O Anjo Azul", filme de 1930.

O papel de Lola-Lola, uma cantora de cabaré no filme de Josef von Sternberg, filmado em inglês e alemão, lançou sua carreira e abriu caminho para sua ida a Hollywood.

"Dietrich foi uma estrela manufaturada, uma obra de arte produzida por seu descobridor Josef von Sternberg, embora isso seja apenas um lado da moeda. Ela não era um objeto sexual, mas um sujeito de sexualidade, a encarnação do próprio sexo", diz um artigo do jornal suíço "Neue Zuercher Zeitung".

Dietrich, considerada um ícone também pelos homossexuais, não fascinava apenas os homens - um museu em Berlim inaugurou uma exposição sobre o "lado lésbico" da diva. Sempre excêntrica, a atriz vestiu calças compridas, smokings e ternos masculinos muito antes de outras mulheres ousarem fazer o mesmo.

"A maneira como ela se sentava sedutoramente na cadeira em "O Anjo Azul" foi absorvida pela memória coletiva das pessoas em todo o mundo. Não importa se Madonna e outros a imitaram mais tarde. Nós todos nos lembramos da cena com Marlene Dietrich", disse Sudendorf.

Amor e ódio

Outros papéis memoráveis em filmes incluem "A Imperatriz Galante", de 1934, "A Mundana", de 1948 e "Julgamento em Nuremberg", de 1961 - muitos dos quais estão sendo exibidos na televisão alemã este mês.

A carreira de Dietrich foi formada no cenário de filmes decadentes e teatros da Berlim pré-guerra, mas ela ficou famosa depois de se mudar para os Estados Unidos, naturalizando-se em 1937.

Dietrich recusou convites dos nazistas de Hitler para voltar à Alemanha e mais tarde vestiu um uniforme americano para se apresentar diante das tropas na linha de frente durante a Segunda Guerra Mundial.

Suas apresentações para os soldados aliados causaram ressentimento em Berlim. Quando ela voltou ao país para um concerto em 1960, foi recebida com protestos. Alguns manifestantes cuspiram nela, chamando-a de vagabunda e carregando cartazes que diziam "Vá para casa, Marlene". No entanto, dentro do teatro ela foi ovacionada.

Apesar disso, Dietrich ficou profundamente magoada e disse: "Eu nunca mais irei para a Alemanha. Já me cansei das pessoas cuspindo em mim, das manifestações, do amor e do ódio".

Ainda assim, depois da queda do muro, em 1989, ela escolheu Berlim para ser enterrada.

Dietrich permaneceu em reclusão nas últimas décadas de sua vida e morreu em Paris em 1992. "Ninguém nunca viu Marlene Dietrich velha. Não há fotos ou filmes. Ela deixou sua imagem de mulher sedutora fatal e é assim que ainda é conhecida pelo mundo", disse Sudendorf.

O enterro de Marlene Dietrich em Berlim, em 1992, foi marcado por controvérsias e uma cerimônia oficial foi cancelada por causa do longo ressentimento. Sua sepultura já foi profanada por vândalos.
 

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