Folha Online sinapse  
29/10/2002 - 03h08

A primeira estrada pavimentada do Brasil

GONZALO NAVARRETE
free-lance para a Folha de S.Paulo


Considerado um dos "sobreviventes" históricos mais importantes de São Paulo, a Calçada do Lorena, construída em 1792 para escoar a produção de açúcar para o litoral, deverá ser reaberta novamente para visitação pública.

Tombado pelo patrimônio histórico, o acesso para a trilha do período colonial está totalmente fechado desde 1998, em decorrência da falta de segurança provocada por desabamentos em três pontos diferentes da Estrada do Caminho do Mar (sucessora da calçada).

A Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) deverá finalizar, até o final de novembro, um projeto para a criação de um parque ecológico em uma área de propriedade da empresa que abriga cerca de 2,5 quilômetros recuperados da calçada, considerada a primeira estrada pavimentada do Brasil e uma das primeiras da América Latina. O trecho fica dentro do Parque Estadual da Serra do Mar.

Construída por engenheiros portugueses, a Calçada do Lorena tinha uma extensão de aproximadamente sete quilômetros (ligava o planalto até uma base no pé da serra, onde hoje existe Cubatão). Seu caminho era todo em ziguezague, para facilitar o transporte da carga feita no lombo de animais. Tinha 160 curvas e um tráfego estimado de até 60 mulas por dia.

Com a grande incidência de chuvas na serra, não era mais possível escoar a produção crescente de açúcar produzido no interior da província utilizando as trilhas indígenas. O caminho recebeu o nome em homenagem ao governador da província na época, Bernardo José Maria de Lorena. A calçada foi abandonada em 1840, com a construção da Estrada da Maioridade, idealizada para receber tráfego de carroças, que levavam açúcar e café até o litoral. Mais tarde, a estrada ficaria conhecida como Caminho do Mar, depois de ter sido modernizada e asfaltada em 1922.

O futuro parque, que, além da calçada, ainda englobará uma área de preservação de Mata Atlântica, já tem nome definido: Caminhos do Mar, Pólo Ecoturístico.

"A calçada estava enterrada e tomada pelo mato. Ela foi escavada e recuperada em 1992. Nós chegamos a manter um serviço de visitas monitoradas até 98. Mas decidimos fechar o acesso porque, sem uma infra-estrutura adequada e recursos para fazer a manutenção do local, o caminho seria ainda mais danificada pelo uso indevido", afirma o chefe do Departamento de Gestão Ambiental da Emae, Edson Fernando Escames.

Segundo ele, a Emae encaminhou um estudo de viabilidade para implantação do parque para o Instituto Florestal, que vai avaliar o impacto ambiental do projeto. A empresa terá uma previsão de quando a visitação ao parque sera liberada somente depois de finalizado o estudo. O objetivo é criar um sistema de acesso controlado de visitantes, que poderão ver três roteiros básicos: histórico, das águas e da energia.

Leia mais:
- Introdução: Viagem sem fim
- Aventuras de um Nobel
- Viajando na escola
- Pré-História: O Nordeste remoto pintado nas rochas
- Historinha primitiva
- Sítios arqueológicos do Nordeste: o que visitar e quando
- É ali na esquina
- Etiqueta de Indiana Jones
- Sul das Missões: Sul de muitas colonizações
- Caminhos do Sul
- Caminhadas pelas Missões
- Rio da Monarquia: Cheia de histórias mil
- Ciclo do Ouro: O caminho da riqueza
- Poesias Gerais
- Barroco Baiano: Barroco a céu aberto
- Bahia com H
- Sátira e religião marcam literatura baiana
- Entenda o barroco
- Leia soneto de Gregório de Mattos sobre Salvador
- São Paulo na História: São Paulo, da colônia ao caos
- A primeira estrada pavimentada do Brasil

     

Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).