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28/01/2003 - 02h40

Caminho das Pedras: Cada um à sua moda

ERIKA PALOMINO
colunista da Folha de S.Paulo

A moda é hoje um assunto de extrema relevância. Deixou o ambiente dos show-rooms e mesmo o dos desfiles e faz parte do dia-a-dia das pessoas. Nas sociedades em que a aparência conta muito, aparecer bem é importante (quem não se lembra da comoção gerada pelo cabelo da apresentadora Fatima Bernardes, que ocupou lugar nobre em jornais e revistas, em plena campanha presidencial?). O próprio Lula operou revolucionária mudança em sua imagem, e parece claro que seu novo visual ajudou a comunicar também o reposicionamento que o levaria à Presidência. Da mesma forma, informações sobre que roupa usou sua mulher, que estilo de cabelo tem etc. ocupam lugar de destaque nos noticiários.

Conhecer os códigos da elegância, do vestir, saber o que usar, o que comprar, é parte integrante desse processo, naturalmente. Daí o fato de todo mundo estar mais interessado em como estar "na moda". Além disso, os desfiles em si transformaram-se em eventos culturais e sociais, fazem parte da badalação da vida das cidades. As modelos —e a brasileira Gisele Bündchen é mesmo o supremo exemplo disso— funcionam como ícones pop. Com a ampla cobertura da mídia global —há emissoras de TV que transmitem ao vivo os desfiles das coleções das marcas em São Paulo, Rio, Nova York e Paris—, o universo fashion chega para o alcance de todos, e o resultado é uma legião de novos especialistas: gostei, não gostei, usaria ou não, modelos lindas ou magras demais... Todo mundo tem sua opinião sobre a moda da estação.

Uma corrente dá conta de suposta morte da moda, de perda de relevância desse sistema diante de novos aspectos da vida moderna (tecnologias e ciência, por exemplo). Mas, por sua natureza mutante, novas regras vão sendo criadas a cada dia. Moda vem do latim "modus", significando modo, maneira. Em inglês, moda é fashion, corruptela da palavra francesa "façon" (modo, maneira).

O conceito de moda apareceu no final da Idade Média (século 15) e princípio do Renascimento, na corte de Borgonha (atual parte da França), com o desenvolvimento das cidades e a organização da vida nas cortes. Enriquecidos pelo comércio, os burgueses passaram a copiar as roupas dos nobres. Ao tentar variar suas roupas para se diferenciar dos burgueses, os nobres inventavam algo novo e assim por diante. Naquela época, não havia nem sequer sombra do conceito do estilista ou do costureiro. Somente no final do século 18 uma pessoa foi responsável por mudanças "assinadas", quando Rose Bertin ficou famosa por cuidar das "toilettes" de Maria Antonieta (1755-1793).

Aos poucos, a velocidade das mudanças no vestuário foi aumentando até chegarmos nesse ritmo ansioso de hoje, e é por isso mesmo que a moda é considerada reflexo dos tempos.

Erika Palomino, 35, é jornalista. Assina coluna às sextas na Ilustrada e edita a revista trimestral "Moda", publicada pela Folha. É autora de "A Moda" (série "Folha Explica", Publifolha, 2001) e "Babado Forte: Moda, Música e Noite na Virada do Século 21" (Mandarim, 1999). Adora moda porque adora mudança.

Leia mais:
- O mundo da moda, passo a passo

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