Folha Online sinapse  
29/04/2003 - 02h54

Caminho das Pedras: Relatividade: absolutamente acessível

MARCELO GLEISER
colunista da Folha de S.Paulo

Reuters
O físico Albert Einstein em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, em 1933
Todo mundo gosta de dizer que tudo é relativo ou que E=mc2, mas muito pouca gente sabe realmente do que trata a teoria da relatividade. Pois agora existe uma oportunidade única de compreender, mesmo que amadoristicamente, as misteriosas idéias dessa teoria, que revolucionou a concepção moderna de o que são o espaço e o tempo.

O Museu de História Natural de Nova York organizou uma exposição espetacular sobre a vida e o trabalho do cientista Albert Einstein (1879-1955), incluindo vários detalhes de suas famosas teorias —entre elas, é claro, a da relatividade. A exposição vai até dia 10 de agosto. Se não der para ir até lá pessoalmente, vale a pena dar uma olhada no próprio site do museu e navegar pela exposição.

Do que trata a teoria da relatividade? Existem duas teorias: a especial, de 1905, e a geral, de 1916. Ambas são baseadas na seguinte questão, aparentemente inofensiva: imagine duas pessoas, uma parada na calçada e outra passando de carro. Ambas querem medir o tempo que uma bola solta pela pessoa que está na calçada demora para cair alcançar o chão. A questão colocada por Einstein foi: "Como as duas pessoas podem comparar as suas medições?".

O que Einstein mostrou e que surpreendeu muita gente —e ainda surpreende— é que essas medidas não são idênticas, mas dependem do movimento relativo entre as duas pessoas. Quanto mais rápido o movimento, mais diferentes elas são entre si.

Na teoria da relatividade especial, Einstein se limitou a movimentos com velocidade constante. Ele mostrou que tanto as medidas de tempo como as de espaço (comprimentos) dependem dessa velocidade. Em particular, quanto mais perto da velocidade da luz, maior é essa diferença. A teoria permite que os dois observadores possam comparar seus resultados sem confusão e também comprova que nada pode ter velocidade mais rápida do que a da luz.

Já na teoria da relatividade geral, Einstein incorporou movimentos com aceleração. Nesse caso, o surpreendente foi que essa teoria tornou-se também uma nova teoria da gravidade, substituindo a elaborada pelo inglês Isaac Newton (1643-1727) em 1687. Por que isso? Porque é impossível diferenciar a aceleração da gravidade. Nós sentimos isso quando andamos de elevador. Quando ele sobe rápido (acelerado), nós nos sentimos mais "pesados", quando ele desce rápido, mais "leves". Ou seja, a aceleração do elevador imita a gravidade, "mudando" nosso peso. Einstein concluiu que a gravidade pode ser compreendida como um efeito de curvatura no espaço, como quando colocamos uma bola de boliche em um colchão: quanto maior a massa, maior a curvatura.

Dessas idéias e teorias surgiram outras que despertam muita curiosidade. Entre elas, viagens no tempo, buracos negros, ondas gravitacionais, o Big Bang e por aí afora. Para aprender mais sobre o assunto não é preciso ser um Einstein ou um físico teórico. Basta ser curioso.

Marcelo Gleiser, 43, é professor titular de física e astronomia no Dartmouth College, EUA. Dois de seus livros —"A Dança do Universo" (Companhia das Letras, 1997) e "O Fim da Terra e do Céu" (Companhia das Letras, 2002)— tratam da teoria da relatividade. Resolveu fazer física por achar que a natureza é mais esperta que os homens.

Leia mais
  • Saiba como compreender Einstein e a teoria da relatividade
  • Leia o prólogo de "Einstein Apaixonado"
  • Leia a apresentação de "Einstein e o Brasil"

         

  • Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).