Folha Online sinapse  
30/09/2003 - 03h16

A medicina vai vencer a morte?

da Folha de S.Paulo

Para responder "não" à pergunta da quarta palestra da "Semana Sinapse", "A medicina vai vencer a morte?", o médico urologista Miguel Srougi, 56, falou sobre o estado atual da medicina e especulou sobre os problemas que a imortalidade traria.

Pedro Azevedo/Folha Imagem
O médico urologista Miguel Srougi
"A medicina vem diminuindo as chances de morrer precocemente, mas está longe de nos levar à imortalidade", disse o médico, que citou avanços como a terapia genética, a telecirurgia e a previsão de haver, em breve, um coração artificial.

Srougi disse que, caso a imortalidade fosse alcançada, a humanidade enfrentaria problemas como escassez de alimentos, água e espaço —que já se verificam em alguns locais— e destacou também questões morais e sociais. Entre os problemas, estariam o desestímulo ao desenvolvimento pessoal, a necessidade de controlar a reprodução e a criação "dois mundos", um dos mortais e outro dos imortais —já que o benefício dificilmente se estenderia a toda a população.

Para o médico, professor de urologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), é preciso ter consciência da inevitabilidade da morte. "A gente não gosta de pensar nisso, mas tem que ter essa idéia na cabeça."

Para chegar à conclusão de que a morte não pode ser vencida, Srougi falou da dificuldade de frear o envelhecimento, que torna o ser humano mais vulnerável. Há fatores hereditários, como os gerontogenes ("genes da velhice"), e extrínsecos, como mutações celulares provocadas pela alimentação.

O médico comentou que, além de fatores medicinais, há alguns artifícios para expandir a longevidade —praticar exercícios, evitar a obesidade, não comer carne vermelha e não fumar— e citou uma pesquisa de 1996 da revista "Scientific American" que aponta, para o ano 2500, uma expectativa de vida em torno de 140 anos. Mas também foi irônico: "Depois do período reprodutivo, envelhecemos e não servimos mais para muita coisa".

Em sua conclusão, o médico defendeu que, mais do que uma vida muito longa, deve-se buscar uma vida feliz. E citou o autor irlandês Bernard Shaw (1856-1950): "Não tente viver para sempre. Você não terá sucesso".

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