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30/09/2003 - 03h26

Veja os principais arquitetos e escritórios da nova geração

MARA GAMA
especial para a Folha de S.Paulo

Angelo Bucci

Angelo Bucci, 39, formado pela FAU-USP em 1987, é professor de projetos da escola. Soma prêmios importantes e é destaque da geração em São Paulo. Com Álvaro Puntoni, 38, também da FAU-USP, e uma equipe de arquitetos, recebeu em 1992 o primeiro prêmio no concurso para o pavilhão do Brasil em Sevilha.

Em 2000, vieram a indicação para o prêmio internacional Mies van der Rohe, pela clínica de psicologia em Orlândia (interior de São Paulo), e o prêmio Ex Aequo, da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, pela garagem Trianon, projeto realizado com o escritório MMBB.

Na imagem 6 da galeria, a entrada da clínica, em estrutura de concreto, paredes de pedra e circulação envolvida por painéis de madeira.

Bucci acredita que a nova geração começa a mostrar alguns caminhos: "Depois de um período de desmantelamento, que caracterizou os anos 70, e de abandono, nos 90, tenho a impressão de que os arquitetos recomeçam a discutir e construir um acordo ético sobre a prática e o estatuto da arquitetura".

MMBB

Com experiência em projetos urbanos, o arquiteto Milton Braga, 40, formado em 1986 pela FAU-USP, desenvolve um plano de uma nova rede de metrô leve para Coimbra, em Portugal. O escritório MMBB, formado por Braga, Fernando de Mello Franco e Marta Moreira, foi um dos dez (seis de Portugal, dois da Espanha, um do Brasil e um de Israel) convidados pela Universidade de Coimbra para participar da elaboração do projeto.

"Projetamos a interface da rede do metrô leve com outros transportes: trem interurbano, ônibus interurbanos, ônibus, táxis e carros, numa estação implantada sobre o rio Mondego, que corta e marca a cidade, uma importante e necessária articulação da área urbana dessa parte de Coimbra", conta Braga. A nova estação é como uma ponte, "uma porta ou janela de onde a vista de Coimbra é privilegiada", diz.

As imagens 13 e 14 da galeria mostra, o projeto, que ocupa área de 30 mil m2. Vencedor, em 2000, do prêmio Ex Aequo na 4ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo -pelo estacionamento Trianon, em São Paulo-, entre outros prêmios, Braga considera que a arquitetura brasileira "é muitas vezes mal construída, apesar do esforço dos arquitetos. Num país de juros tão altos, o tempo do bom desenvolvimento do projeto e da construção é proibitivo. Melhorar a arquitetura é muito mais que melhorar os arquitetos".

Fernando Maculan

Formado pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1997, Fernando Maculan, 29, venceu, com Ana Claudia Valle e Rafael Yanni, o concurso para a construção da nova sede do Instituto dos Arquitetos do Brasil em Minas, obtendo o prêmio Usiminas Arquitetura em Aço, em 1988.

Em conjunto com Pedro Morais e Roberta Vasconcellos, mantém o escritório AUA, responsável pelo projeto de algumas casas em Nova Lima (MG). Nas fotos 11 e 12 da galeria, um projeto para um casal sem filhos. Com previsão de expansão futura, a casa terá dois blocos distintos, para área íntima e de serviços, com conexões.

Apesar de ver importância nos concursos para obras públicas, Maculan é crítico em relação a eles: "Uma nova geração vem se firmando, o que pode ser visto nos concursos em Minas, no Espírito Santo, em São Paulo, em Goiás. Infelizmente, grande parte dos projetos vencedores não é executada".

Alexandre Delijaicov

Alexandre Delijaicov, 41, formou-se pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, em 1985, e atua na divisão técnica de projetos da Secretaria de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo. Ali, junto com uma equipe, desenvolve o projeto dos CEUs (Centros Educacionais Unificados), representados nas imagens 1 e 2.

Inspirado no conceito da Escola Parque, idealizada nos anos 1950 pelo educador Anísio Teixeira, o CEU une creche e ensino básico, aprendizado de artes plásticas e aplicadas, ginástica, teatro, música e dança e espaços comunitários.

Outra inspiração é a idéia dos parques infantis desenvolvida por Mario de Andrade nos anos 1930. O projeto é estruturador: "São conjuntos de equipamentos urbanos que desenham praças como as das pequenas cidades, onde todos se encontram", explica o arquiteto.

Para Delijaicov, a arquitetura brasileira tem um débito social: "Ainda precisamos construir uma cultura arquitetônica, uma cultura construtiva e uma cidade com qualidade arquitetônica para todos", diz.

Pedro Mendes da Rocha

O arquiteto Pedro Mendes da Rocha, 40, acaba de enfrentar uma grande empreitada. Ele é o responsável pelo projeto de comunicação visual e implantação da 5ª Bienal Internacional de Arquitetura. "Foi um trabalho de grande escala, com uma grande equipe e com um compromisso intenso entre funcionalidade e expressão plástica e espacial."

As fotos 17 e 18 mostram o interior do prédio da Bienal, onde o arquiteto usa cores vivas para demarcar os andares e desenhar as linhas internas dos guarda-corpos. "O projeto tenta criar um diálogo entre as obras expostas, o desenho incrível do prédio de Niemeyer e o parque Ibirapuera", diz. Com currículos paralelos de edifícios e montagens de exposições, Pedro considera a instalação "Videozoo", no Sesc Pompéia, em 1996, uma de suas preferidas. "Pude especular bastante acerca de formas, planos, cores. É uma obra poética e lúdica, que explora a arquitetura descolando um pouco do eminentemente funcional", diz.

Sobre o panorama atual, pondera: "Na arquitetura hegemônica, principalmente nos projetos de edifícios residenciais, perdemos muito nos últimos anos. Acho inaceitável que a elite, que outrora construiu Higienópolis, onde a maioria dos edifícios das décadas de 50 e 60 é de boa qualidade, produza hoje Moema e o 'revival' do neoclássico. Nos prédios comerciais, a estrutura elegante, racional, pré-fabricada, é revestida com pré-fabricados de fachada 'clássica'. É uma falsidade que contraria os princípios da boa arquitetura".

Bruno Santa Cecília

Para Bruno Santa Cecília, 26, os concursos alimentam o trabalho: "É uma oportunidade para se confrontar com um panorama mais amplo de uma região, de um país ou do mundo", diz.

Com Alexandre Brasil, 30, André Luiz Prado, 29, e Carlos Alberto Maciel, 29, Santa Cecília montou a Arquitetos Associados, em Belo Horizonte. O escritório mineiro venceu vários concursos, entre os quais o da sede do Crea (Conselho Regional de Arquitetura e Engenharia) de Vitória e o da requalificação da avenida Goiás (imagem 4 da galeria), em Goiânia, em 2000.

"Em um país com a riqueza cultural do Brasil, tentativas de uniformização são excludentes. O único momento de coesão foi no movimento moderno. Com a ditadura, o país ficou em profundo silêncio, e só agora a arquitetura recupera a vitalidade", acredita.

Marcelo Morettin e Vinicius Andrade

O escritório de Marcelo Morettin e Vinicius Andrade toca a obra de restauro e modernização da Faculdade de Medicina da USP, na zona oeste de São Paulo.

"É uma obra grande, que parte de uma realidade para transformá-la, mas com o cuidado de não perder suas características mais relevantes. Tem a escala da cidade de São Paulo", diz Morettin, 34, formado pela FAU-USP em 1991.

O projeto venceu um concurso nacional em outubro de 1998, foi detalhado pelo escritório a partir de 1999 e entrou em obras no ano passado. "A primeira fase deve ficar pronta no fim de 2004", diz Morettin.

A foto 15 é do "Estúdio de Policarbonato", erguido em Carapicuíba, na Grande São Paulo. A casa foi destaque em publicações da França, da Itália, da Espanha e do Japão.

Comparando a arquitetura dos anos áureos do modernismo brasileiro com a do momento atual, Morettin afirma: "Hoje, existem arquitetos e obras isoladas que atraem o interesse internacional; naquela época, em meados do século passado, o conjunto da arquitetura brasileira era muito mais forte e vigoroso".

Espaço Sideral

Cristiano Kunze, 29, e os arquitetos do Espaço Sideral, de Porto Alegre, praticam o que chamam de "arquitetura atômica", que vai da cidade ao mobiliário.

Formados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, André Jost Mafra, 32, Nathalia Cantergiani, 25, Micael Eckert, 29, Ana Claudia Vettoretti, 26, Rafael Fornari Carneiro, 24, e Kunze foram os vencedores, em 1999, dos concursos para a construção de biblioteca (foto 7 da galeria), capela e cafeteria na Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Kunze considera esse o principal projeto do Sideral: "Foi concurso público, e tivemos muita liberdade. Gostamos principalmente pelo detalhamento".

Para Kunze, há uma recuperação crítica do modernismo: "A arquitetura vem se diversificando desde o início dos anos 90. É difícil encontrar um movimento homogêneo. Estamos numa época de influências simultâneas, e o denominador comum é a revalorização do movimento moderno. Mas ele voltou mais aberto, e há uma reaproximação com os valores locais".

Una

O Una, escritório de Fernanda Barbara, 36, Cristiane Muniz, 32, Fábio Valentim, 33, e Fernando Viégas, 32, tem experiência em concursos e grandes obras no âmbito público. Foi o vencedor do concurso nacional de arquitetura para reciclagem do prédio da agência central dos Correios, em São Paulo, em 1997. No momento, os arquitetos acumulam as construções do correio e do Centro Universitário Maria Antonia, da USP, na zona central de São Paulo (fotos 9 e 10).

Para Fernanda, o cenário atual é complexo: "Os bons arquitetos estão longe do mercado imobiliário e do poder público, atuando em obras de exceção, que pouco podem contribuir para a ordenação da cidade. A maior parte das construções, públicas ou privadas, são projetos que só tendem a agravar o nosso caos urbano. É o caso dos conjuntos habitacionais periféricos feitos pelo governo, dos sinistros edifícios ditos neoclássicos do mercado imobiliário ou das grandes obras viárias, para ficarmos em alguns exemplos. O enfrentamento dos grandes problemas da cidade tornou-se inadiável, e os arquitetos cumprirão papel decisivo na sua resolução".

Ronaldo L'Amour e Zeca Brandão

Por ser uma intervenção histórica de escala urbana, Ronaldo L'Amour, 42, considera o conjunto do calçadão dos Mascates, do Shopping de Santa Rita e do Mercado das Flores, no bairro histórico de São José, no centro de Recife, sua obra mais importante.

Formado em 1985 pela Universidade Federal de Pernambuco, L'Amour obteve, com Zeca Brandão, o Prêmio Internacional de Desenho Urbano na 10ª Bienal de Arquitetura de Quito, em 1996, pela obra que se vê na imagem 19 da galeria.

"Além da dimensão social, conseguimos criar uma imagem coerente com o uso e com o lugar", diz Zeca Brandão, 46, formado em 1980 pela FAU Bennett do Rio e finalizando sua tese de doutorado na Architectural Association School, de Londres.

Sobre a repercussão da arquitetura brasileira hoje, Brandão pondera: "Mesmo no contexto latino-americano, o Brasil fica atrás de países como México, Chile e Argentina". Para L'Amour, durante o modernismo havia coesão. "Hoje, o panorama internacional é outro. São enfoques individuais, e a arquitetura brasileira reflete essa pulverização."

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