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28/10/2003 - 02h48

Conheça a vida e a obra de Portinari, em 12 etapas

FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

Reprodução
"Os Retirantes" (1944)
Para conhecer o conjunto da obra do pintor de Brodósqui, comece, se puder, rumo a dois museus paulistanos que apresentam obras de Portinari de forma permanente. O Masp (Museu de Arte de São Paulo) tem em sua coleção algumas das mais relevantes peças do artista, como "Os Retirantes" (1944), "Enterro na Rede" (1944) e "O Lavrador de Café" (1939), enquanto a Pinacoteca do Estado apresenta uma de suas peças mais exibidas em exposições no exterior, "O Mestiço" (1934). Em ambos os locais, é possível constatar a forte presença social da obra de Portinari, que, no entanto, nunca deixou de lado a questão formal de suas construções.

Fabiana Beltramin/Folha Imagem
"A Colona" (1938)
O roteiro de perseguição a Portinari é, em São Paulo, bastante amplo. Outra instituição com um bom acervo sobre o pintor é o Instituto de Estudos Brasileiros da USP, que expõe permanentemente as principais obras da Coleção Mario de Andrade, como "A Colona" (1938) e "Retrato de Mario de Andrade" (1935). São trabalhos que pertenceram ao escritor paulista, o que representa um "plus" na história das obras. Há também o Memorial da América Latina, que, em seu Salão de Atos, abriga o painel "Tiradentes" (1948-49) e é uma das marcas importantes de Portinari —até 30 de dezembro, apresenta a exposição "Portinari e o Painel de Tiradentes: o Processo de Criação", que traz 18 réplicas dos estudos do pintor para o painel, encomendados por Oscar Niemeyer, além de fotos do pintor enquanto executava a obra e cartas trocadas entre ele e o arquiteto.

Finalmente, ainda na capital paulista, é possível conhecer um Portinari sem seus contornos sociais e de uma simplicidade rara: a tela "Floresta e o Veado" (1938), que está na mostra permanente do Museu da Casa Brasileira. A obra foi encomendada, na década de 40, pelo ex-prefeito de São Paulo Fábio da Silva Prado (1934-1937), que então morava na casa, hoje sede do museu.

Vailton Silva Santos/Folha Imagem
Igreja de São Francisco
Percorridas as principais instituições de São Paulo, é hora, para quem pode, de circular por outros locais no Brasil nos quais Portinari apresenta obras importantes. A primeira visita merece ser feita à igreja de São Francisco, na Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Projetada por Oscar Niemeyer em 1944, a igreja contém um mural sobre a vida de são Francisco assinado pelo pintor.

Reprodução/Folha Imagem
"Café" (1935)
Depois de Minas, a próxima visita deve ser ao Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. A instituição apresenta, em caráter permanente, a tela "Café" (1935), um dos marcos da obra de Portinari, pois foi premiada na Exposição Internacional de Pintura do Instituto Carnegie, de Pittsburgh (EUA), em 1935.



Ainda no Rio, não se pode deixar de visitar os murais do Ministério da Educação e Saúde, marco arquitetônico do modernismo no país, projetado pela notável equipe composta por Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos Leão e Ernani Vasconcelos, com a supervisão de Le Corbusier. Para o edifício, Portinari criou os murais em azulejos, para os quais Vinicius de Moraes criou o poema "Azul e Branco", as cores da obra.

O roteiro no Rio merece incluir também uma visita à exposição "Castro Maya, Colecionador de Portinari", a ser aberta em novembro, no Museu Chácara do Céu, no bairro de Santa Tereza. O museu foi uma das residências do empresário e mecenas Raymundo Ottoni Castro Maya (1894-1968), considerado o maior colecionador privado de Portinari. Na mostra, estarão as cerca de 200 obras de Portinari que compõem o acervo da instituição, entre óleos, desenhos, gravuras e ilustrações, como as feitas nos anos 40 para os livros "O Alienista" e "Memórias Póstumas", ambos de Machado de Assis, um trabalho valioso de colaboração entre artes plásticas e literatura.

Como preparação para as visitas ou viagens, o leitor pode se aventurar em vários livros sobre Portinari. Um dos mais didáticos é "Cândido Portinari", de Annateresa Fabris (Edusp, 194 págs., R$ 49,50), que apresenta um percurso completo da carreira do pintor. Da mesma autora, há ainda "Portinari, Pintor Social" (Perspectiva, 147 págs., R$ 21), que explora sua faceta mais importante. Mais poética é a publicação do escritor e jornalista Antonio Callado "Retrato de Portinari" (Paz e Terra, 188 págs., R$ 29). Outro texto importante sobre o artista está em "Dos Murais de Portinari aos Espaços de Brasília", do crítico Mario Pedrosa (Perspectiva, 421 págs., R$ 19), que faz uma análise vibrante dos trabalhos em grande escala do pintor.

Fique de olho no lançamento do catálogo "raisonée", isto é, completo, "Candido Portinari - Obra Completa", previsto para estar nas livrarias no próximo mês pela editora do Projeto Portinari. A obra, organizada pelo filho do artista, João Candido, é o resultado de 24 anos de um trabalho de levantamento, catalogação e pesquisa, não só no Brasil mas em mais de 20 países das três Américas, da Europa, da África e do Oriente. Ocupando cinco volumes de 512 páginas cada um, esse será o primeiro catálogo com essas características em toda a América Latina. Uma outra opção de catálogo, menor em envergadura, é o "Candido Portinari (1903-1962)", da Edições Pinakotheke (104 págs., R$ 45). Clique aqui para ver uma galeria de imagens desse livro.

Portinari foi um homem integrado ao seu tempo e, por isso, qualquer relação de publicações sobre ele precisa conter livros que analisem o contexto dos anos 30 e 40 no país. Recentemente reeditado, "Arte para Quê", de Aracy Amaral (Studio Nobel, 434 págs., R$ 45), faz justamente essa tarefa, com a perspectiva de valorizar a produção engajada no país. Portinari é também analisado em "Arte Internacional Brasileira" (Lemos Editorial, 311 págs., R$ 55), de Tadeu Chiarelli, numa pesquisa ampla sobre marcas da produção nacional. De forma mais ampla, "Latin American Art in the Twentieth Century" (Phaidon, 352 págs., importado) apresenta um complexo panorama da produção na América Latina, com um texto de Ivo Mesquita específico sobre a produção brasileira.

A internet também oferece boas opções para conhecer mais sobre o pintor. O site do Projeto Portinari (www.portinari.org.br) apresenta, no momento, 500 das 4.700 obras atribuídas ao artista e uma vasta gama de informações indispensáveis. Outro endereço importante de consulta está disponível no site do Instituto Itaú Cultural (www.itaucultural.com.br), em sua enciclopédia de artes visuais. O verbete sobre o artista apresenta 93 imagens, além de biografia e textos auxiliares.

Finalmente, uma tarefa mais difícil: ficar de olho nas mostras de cinema, pois o filme sobre o pintor, o curta "Candido Portinari, o Pintor de Brodósqui" (1968), de João Batista de Andrade, não é fácil de encontrar e só tem sido exibido em mostras ocasionais. Mas é, por incrível que pareça, a única produção cinematográfica sobre Portinari.

Leia mais
  • Caminho das Pedras: Influências múltiplas
  • Galeria de imagens do livro "Candido Portinari 1903-1962"

         

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