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27/08/2002 - 02h50

Gilson Schwartz: Internauta inteligente vira psiconauta

GILSON SCHWARTZ
colunista da Folha

Algumas pessoas são mais bonitas que outras. Ou jogam melhor futebol, são mais afinadas. Mas será que um indivíduo pode ser mais inteligente que outro?

Os defensores dos modelos de inteligência emocional, os consultores de inteligência competitiva e os pesquisadores de inteligência artificial acreditam que sim.

A inteligência alheia assusta e seduz. Haveria "personal trainers" para o desenvolvimento de múltiplas inteligências, cada pessoa poderia se tornar mais criativa. Mas há ceticismo quanto à relação entre evolução tecnológica e aprimoramento da inteligência. Afinal, o cérebro do Homo sapiens não sofreu mutações ao longo da história.

Reinventando a antiga propaganda de xampu, o cérebro é o mesmo, mas as mentalidades... mudam. Mais que internautas, tornamo-nos psiconautas, exploradores de estados de consciência transpessoal. Entre o susto e a sedução, cada inteligência depende de trocas com inteligências alheias.

As maiores e melhores universidades do mundo estão, lado a lado com escolas, empresas, órgãos de governo e ONGs, redesenhando estratégias e pedagogias para enfrentar o desafio de recriar os espaços que levam da informação ao conhecimento.

Na maioria dos casos, o desafio assume a forma de concorrência predatória e, pior, aposta na pura e simples automação de processos travestida de educação a distância.

A pergunta crucial é: estou entrando num sistema onde apenas consumo cada vez mais informação? Redes que não oferecem diálogo e experimentação não passam de anabolizantes cognitivos. Fazem volume, mas não dão força e, no longo prazo, fazem mal à saúde mental.

As novas mídias digitais podem servir de academia para treinar a cooperação e a competição. Mas a inteligência de cada nó depende da qualidade de sua amarração aos outros nós da mesma rede.

Gilson Schwartz, 42, é diretor acadêmico da Cidade do Conhecimento, rede do Instituto de Estudos Avançados da USP que está com inscrições abertas para a construção do "Dicionário do Trabalho Vivo" (www.cidade.usp.br). Colaborador da Folha desde 1983, é músico amador.
E-mail - schwartz@usp.br

Leia a coluna anterior: O "penso, logo existo" não basta

     

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