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16/12/2003 - 03h34

Aflição do tempo faz parte da história

MAURÍCIO TUFFANI
free-lance para a Folha de S.Paulo

A idéia de que o homem vive em conflito com o tempo tem sido constante desde os primórdios da civilização. Na mitologia grega, para evitar que algum de seus filhos o castrasse e o dominasse, do mesmo modo que fizera com seu pai Urano, o deus Cronos (tempo, em grego, conhecido como Saturno pelos romanos) devorou os recém-nascidos à medida que foram paridos por sua mulher, Réia. A "moral da história", mostrada pelo poeta Hesíodo (séc. 8º a.C.) em sua obra "Teogonia" (origem dos deuses, em grego) é a de que o tempo se encarrega de consumir tudo o que ele mesmo gerou.

Já no início da era cristã, o filósofo latino Sêneca (7 a.C.-65 d.C.), em uma carta a seu amigo Paulino —a quem tentava convencer que largasse a vida pública para se dedicar à filosofia—, afirmou que o sentimento de que o tempo passa rapidamente não atingia somente os homens das classes inferiores da sociedade, mas também os cidadãos mais ilustres. Nesse documento, conhecido mais tarde como a obra "Sobre a Brevidade da Vida", Sêneca disse que "finalmente, constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela [a vida] já passou por nós sem que tivéssemos percebido".

Com o capitalismo, o tempo passou a desempenhar um papel fundamental nas relações econômicas e, consequentemente, um peso sem precedentes sobre a vida das pessoas. Em 1736, nos Estados Unidos, Benjamin Franklin (1706-1790) escreveu: "Lembre-se que tempo é dinheiro. Aquele que pode ganhar dez xelins por dia por seu trabalho e vai passear ou fica vadiando metade do dia, embora não despenda mais do que seis pence durante seu divertimento ou sua vadiação, não deve computar apenas essa despesa; gastou, na realidade, ou jogou fora, cinco xelins a mais".

Já no século seguinte, a mesma importância que fora atribuída por Franklin ao tempo também foi reconhecida pelo filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), ao elaborar seu conceito de alienação do trabalho. Em sua obra "Elementos Fundamentais para a Crítica da Economia Política", anterior a "O Capital", ele afirmou que toda riqueza capitalista se baseia no "roubo do tempo de trabalho alheio".

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