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27/01/2004 - 02h54

Treze olhares para entender as estrelas

JOÃO STEINER
especial para a Folha de S.Paulo

"De onde viemos, onde estamos, para onde vamos?" São as questões fundamentais que a astronomia procura responder. A humanidade sempre se fez essas perguntas e sempre encontrou respostas, ora de natureza filosófica, ora religiosa; os avanços da astrofísica permitem respostas a partir de métodos e rigor científicos.

O Universo surgiu há cerca de 14 bilhões de anos com uma grande explosão: o Big Bang. Nas primeiras frações de segundo, se criaram as grandes estruturas, que dariam lugar às galáxias e aos aglomerados de galáxias; no primeiro segundo, já existiam as partículas elementares; nos três primeiros minutos, formaram-se os núcleos que dariam origem aos átomos. As primeiras galáxias, as primeiras estrelas e os primeiros planetas só surgiram quando o Universo tinha 1 bilhão de anos.

Vivemos numa ilha. Nela, há 100 bilhões de estrelas, entre as quais o Sol. Todas essas estrelas giram em torno de um centro comum, um buraco negro com uma massa muito grande (cerca de 3 milhões de vezes a do Sol). A essa ilha chamamos de galáxia. A luz leva 90 mil anos para atravessá-la de uma ponta a outra. Como a nossa, há 100 bilhões de outras galáxias no Universo. Nossa galáxia surgiu há 13 bilhões de anos.

Nasa
Imagem de Netuno
O Sol é uma estrela comum. Como ela, existem cerca de 100 bilhões em cada uma das galáxias que podemos estudar. A fonte da energia que faz com que todas essas estrelas brilhem é nuclear: no centro das estrelas, onde a densidade e a temperatura são mais elevadas (20 milhões de graus centígrados), os átomos de hidrogênio se fundem para formar átomos de hélio e, também, átomos de elementos químicos mais pesados. Isso libera uma energia gigantesca. Ao explodirem, as estrelas jogam pelo espaço restos que, enriquecidos de novos elementos químicos, dão origem a novas gerações de estrelas. O Sol e o Sistema Solar têm cerca de 5 bilhões de anos.

O sistema solar tem nove planetas. Para ver belas imagens desses corpos celestes, acesse o site http://pds.jpl.nasa.gov/planets, da Nasa. Quantos planetas existem no Universo? Não se sabe ao certo. É difícil observá-los: eles não têm luz própria e o brilho de uma estrela próxima o ofusca. Técnicas recentes, porém, permitem que certos planetas sejam detectados. Com isso, já se descobriram mais de cem deles. É provável que existam cerca de 500 bilhões de planetas somente na nossa galáxia.

Como se formam os elementos químicos? O hidrogênio e o hélio se formaram nos primeiros minutos do Universo. Todos os outros elementos mais pesados, como carbono, oxigênio etc., essenciais para a vida como a conhecemos, foram criados nos núcleos das estrelas e, depois, expelidos para o espaço. Somos filhos das estrelas e netos do Big Bang. Não sabemos como a vida surgiu na Terra nem se existe vida em outros planetas. Algumas teorias sugerem que a vida se iniciou em outros sistemas planetários e que sementes dela foram trazidas para a Terra por grãos de poeira. Outras sugerem que a vida surgiu nos oceanos terrestres.

Mesmo que apenas uma fração de planetas seja semelhante à Terra, o número de planetas em todo o Universo que possuem condições de abrigar vida deve ser muito grande. Também é provável que, caso existam, as formas de vida extraterrestres sejam muito menos ou muito mais avançadas que a do Homo sapiens; esse é um estágio muito efêmero na evolução. Mas não há evidência científica que outras civilizações tenham visitado a Terra.

Divulgação
Nebulosa captada pelo Hubble
As mais belas imagens de estrelas, planetas, nebulosas e galáxias produzidas até hoje foram obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble. Você pode ver uma seleção dessas imagens nos sites http://hubblesite.org/gallery e http://heritage.stsci.edu.

O Brasil tem vários grupos de astronomia que realizam pesquisas de vanguarda. Cerca de 2% de toda a ciência astronômica mundial é feita no Brasil. As principais instituições são: o Departamento de Astronomia da USP (www.astro.iag.usp.br), o Observatório Nacional (www.on.br), o Laboratório Nacional de Astrofísica (www.lna.br), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (www.das.inpe.br) e o Departamento de Astronomia da UFRGS (www.if.ufrgs.br/ast).

Para quem deseja fazer carreira em pesquisa ou ensino de astronomia, recomenda-se curso de bacharelado em física e pós-graduação (mestrado e doutorado) em astronomia. A razão é que essa disciplina requer muitos conhecimentos básicos e avançados de física e de matemática. O Brasil possui sete programas de pós-graduação com doutorado em astronomia (USP, ON, Inpe, UFRGS, UFMG, UFRN, UFSC). Há outras universidades com pós-graduação, mas apenas no nível de mestrado (UFRJ, UEL, Unesp, UFPR).

Os principais telescópios brasileiros são gerenciados pelo LNA (Laboratório Nacional de Astrofísica). Entre eles, estão os do Observatório do Pico dos Dias (www.lna.br/opd/opd.html). O Brasil possui 2,5% dos dois telescópios Gemini, de 8 m de espelho cada um, situados no Havaí e nos Andes chilenos (www.lna.br/gemini/gemini.html). Além disso, o Brasil é dono de 34% do telescópio Soar (Southern Astrophysical Research), de 4,1 m de espelho, também nos Andes chilenos (www.lna.br/soar/soar.html).

Alguns livros para aprender mais: no nível introdutório, "Hubble: A Expansão do Universo" (Odysseus, 179 págs., R$ 24), de Augusto Damineli Neto; no intermediário, "Astronomia: Uma Visão Geral do Universo" (Edusp, 288 págs., R$ 42), de Amâncio Friaça e outros; no avançado, "Astronomia e Astrofísica" (Editora da UFRGS, 608 págs., esgotado), de Kepler de Souza Oliveira Filho e Maria de Fátima Saraiva. Esse livro também está disponível on-line, em http://astro.if.ufrgs.br.

Astrologia é ciência? Não.

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