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17/02/2004 - 03h22

Novo status para a mente humana

CAROLINA CHAGAS
free-lance para a Folha de S.Paulo

Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Raio-X

Nome: Orestes Vicente Forlenza, 37
Especialidade: psiquiatra
Formação: Faculdade de Medicina da USP (também mestrado e doutorado), especialização no Instituto de Psiquiatria de Londres
Onde atua: Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e clínica particular

Desde quando entrou em quarto lugar na Faculdade de Medicina da USP, em 1982, o psiquiatra Orestes Forlenza, 37, viu sua área de atuação tornar-se definitivamente uma ciência médica. "Hoje, é comum na rotina do consultório de um psiquiatra tratar um problema com a medicação apropriada", afirma. Forlenza diz que a psiquiatria se beneficiou muito da pesquisa fármaco-genética, mas, "como havia uma grande defasagem em relação às outras áreas, há ainda algo a evoluir".

Com a rotina dividida entre o consultório particular (com mais de dois terços dos pacientes bem acima dos 18 anos) e o Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), Forlenza é um dos médicos que continuam lutando para diminuir essa distância. Mais especificamente, quando se trata do mal de Alzheimer, doença que atinge cerca de 40% da população mundial entre 85 e 90 anos. "Com o aumento da expectativa de vida, há uma necessidade crescente de preparar médicos para receber essa demanda", diz ele.

Depois de um flerte com a cirurgia, Forlenza decidiu seguir os passos do pai, o também psiquiatra ainda em plena atividade Orestes Forlenza Neto. Já no mestrado, começou a se interessar por psiquiatria geriátrica, com especial enfoque em demências e outras doenças mentais de origem orgânica.

Uma temporada de quase um ano no Instituto de Psiquiatria de Londres aproximou-o da pesquisa in vitro, sem distanciá-lo da clínica. Segundo ele, "ao contrário, tornei-me um clínico melhor, ainda mais rigoroso e atento aos efeitos dos medicamentos". O trabalho em laboratório também faz de Forlenza um otimista em relação ao controle da doença. "Acredito que em dez anos teremos um tratamento efetivo", afirma.

A passagem por Londres também aproximou o médico da International Psychogeriatric Association (IPA), uma associação mundial com sede nos EUA que fomenta pesquisas em psiquiatria geriátrica. Da organização de um dos congressos regionais da associação em São Paulo, em 1987, surgiu o projeto, que recentemente, lançou um holofote sobre Forlenza. "Depois de reunir uma constelação de especialistas renomados de fora e do Brasil, resolvi, com Paulo Caramelli [neurologista do HC], montar um livro sobre o assunto", conta.

A publicação acabou se tornando a primeira em língua portuguesa a apresentar uma abordagem interdisciplinar dos distúrbios psiquiátricos que atingem os idosos. Com 760 páginas e 61 capítulos redigidos por pesquisadores de áreas distintas, "Neuropsiquiatria Geriátrica" (Atheneu, 2000) ganhou o prêmio Jabuti na categoria de ciências naturais e saúde em 2001 e passou a ser adotado como referência pelos profissionais da área.

Com a primeira edição esgotada, Forlenza acaba de ser convidado a escrever mais um volume sobre o assunto. Depois de dois anos de dedicação intensa à brochura premiada, ele pretende escrever o livro, mas com calma, para ter tempo de curtir a mulher, Andrea, e as duas filhas, Sabrina, 1, e Bettina, 4. "Temos de nos organizar para ter tempo para tudo."

Quando questionado sobre até quando pretende trabalhar, Forlenza pára e pensa. "Pergunta difícil para quem trabalha com memória", afirma, mas em seguida emenda: "Até quando minha memória permitir."

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