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27/07/2004 - 03h24

Praticar, incubar ou começar pequeno

Ana Tereza Clemente
free-lance para a Folha de S.Paulo

Em algumas universidades, a empresa júnior —idéia que surgiu na Escola de Administração Essec, de Paris, em 1967— prepara os alunos para desenvolver projetos e prestar consultoria nas áreas em que vão se formar. Normalmente, a universidade banca a infra-estrutura, e os jovens colocam a mão na massa. "A iniciativa surgiu da necessidade de complementar o ensino acadêmico", conta Victor Rosa Marinho de Queiroz, 23, presidente da Fejesp (Federação das Empresas Juniores do Estado de São Paulo). "Vivenciar o dia-a-dia de uma pequena empresa serve de laboratório para os alunos, que desenvolvem um perfil empreendedor", diz Queiroz, aluno do quinto ano de engenharia elétrica na Unicamp e conselheiro da 3E, empresa júnior criada em 1990.

A condição para participar de uma empresa júnior é ser graduando —e participar de um processo seletivo, já que, como no mercado comum, há mais interessados do que as empresas comportam. Cada curso atende pequenos e microempresários com serviços de suas áreas competentes. Os números dão uma idéia do sucesso: o último mapeamento, feito em 2003, indicou 600 empresas juniores no Brasil, 200 delas no Estado de São Paulo.

Incubadoras são outro formato existente para gestar uma empresa ou novo empreendimento. Em São João da Boa Vista, também no interior de São Paulo, desenvolve-se a primeira incubadora cultural do país. A idéia é transformar agitadores em empreendedores, explica Francisco Martins Bezerra, 52, criador da ONG Procultura. "O desafio é fazer com que os artistas enxerguem a cultura como um negócio e ponham o pé no chão. Pensar na cultura como empreendimento rentável não mata o sonho", acredita.

Por meio de cursos do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), a incubadora capacita artistas de várias áreas para formatar projetos e captar recursos, além de oferecer treinamento em marketing cultural, fluxo de caixa e plano de negócio. "É uma tentativa de ganhar dinheiro fazendo arte", diz a atriz Marli Marques, 35, diretora do grupo de teatro Ai, Cacilda!, que tem como objetivo montar sua primeira peça.

O Sebrae-SP também está envolvido em um programa com escolas da rede pública, o qual ensina alunos da primeira à oitava série do ensino fundamental a montar uma empresa —do estudo de mercado à venda dos produtos e à satisfação do cliente, estratégia importante diante da alta competitividade. "Formamos 800 na primeira turma em São José dos Campos", diz José Luiz Ricca, 62, diretor-superintendente da instituição.

Só em São Paulo há 1,3 milhão de empresas registradas na Junta Comercial. As empresas informais são 2,6 milhões. Explicam essa disparidade a alta carga de tributos e o penoso processo de abertura de uma empresa. "No primeiro ano, 30% delas fecham; 60% encerram suas atividades até o quinto ano", afirma Ricca.

"A falta de preparo para enfrentar a realidade, a ausência de políticas públicas que apóiem novos tipos de iniciativa e a burocracia da legislação atrapalham muito o brasileiro", diz.

As mulheres têm se dado bem na empreitada. Em 2000, elas tinham 29% de participação no empreendedorismo brasileiro, contra 71% dos homens. Quatro anos depois, essa porcentagem está quase equilibrada: 46% contra 54%.

"O Sebrae tem tentado conscientizar as pessoas a, antes de se lançar como empreendedoras, entenderem minimamente os mecanismos empresariais, elaborarem seus planos de negócio. Ter uma boa idéia é só o ponto de partida, mas não basta para trabalhar no azul."

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