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27/07/2004 - 03h48

10 passos para conhecer Neruda

Laura Hosiasson
especial para a Folha de S.Paulo

Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto era seu verdadeiro nome. As versões sobre o nome de adoção são várias, e o poeta nunca as esclareceu completamente. Ele parece ter se deleitado com a nebulosa dessas fontes. Segundo a pesquisa mais recente, tudo indica que o nome Pablo foi tirado do compositor espanhol Pablo de Sarasate (1844-1908), e o sobrenome Neruda, da violinista austríaca Guilhermina Norman-Neruda (1839-1911), e não do escritor theco Jan Neruda, como sempre se pensou. O importante é que, com esse ato, apenas com 16 anos, o poeta marcava formalmente um momento inaugural de seu projeto poético, passando a assinar sempre com ele desde 1920. Para mais informações sobre a polêmica dos nomes de Neruda, ver o artigo de Robertson Alvarez, em www.cervantesvirtual.com/pneruda/Robertson.htm.

A novela "Ardente Paciência", do escritor chileno Antonio Skármeta, serviu como ponto de partida para o roteiro do filme "O Carteiro e o Poeta", de Michael Radford, com o ator Massimo Troisi e com Philippe Noiret no papel de Neruda. A história baseia-se na relação de Neruda com um carteiro italiano que ele teria conhecido em Capri, cujo perfil está tomado de um personagem real de Isla Negra com quem Neruda teve contato. O filme, de 1995, foi um sucesso internacional e o ator Massimo Troisi foi indicado para Oscar de melhor ator, em 1996.

A viúva, Matilde Urrutia _sua terceira mulher_, inaugurou a Fundação Pablo Neruda em 1986 (www.fundacionneruda.org). O projeto era uma idéia do poeta, que já havia doado, em vida, grande parte de sua biblioteca pessoal à Universidade do Chile. A Fundação mantém as três casas de Neruda no Chile, que hoje funcionam como casas-museu: a Chascona (em Santiago), a Sebastiana (em Valparaíso) e a casa de Isla Negra. Cada uma possui coleções particulares do poeta, como conchas, garrafas, bonecos e carrancas, além de bibliotecas. A fundação promove atividades culturais, oficinas de literatura, cursos variados e exposições.

Neruda esteve no Brasil em várias oportunidades. Em 1945, participou do famoso comício em homenagem a Luis Carlos Prestes, no estádio do Pacaembu, com Jorge Amado e outros militantes do Partido Comunista Brasileiro, que vivia um raro intervalo de legalidade. Na oportunidade, ele leu um belíssimo poema dedicado a Prestes, que se encontra no "Canto Geral": "Quantas coisas quisera hoje dizer, brasileiros...".

O poeta Carlos Drummond de Andrade também prestou homenagem ao amigo chileno em seu poema-manifesto "Consideração do Poema", que abre o livro "A Rosa do Povo", de 1945: "Estes poetas são meus. De todo orgulho,/ de toda a precisão se incorporaram/ ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius/ sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo. Que Neruda me dê sua gravata chamejante/ Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski...".

O centenário do poeta tem sido celebrado no mundo inteiro com simpósios, colóquios, edições e reedições de sua obra e de inúmeras biografias. Acaba de ser publicada no Chile uma edição de luxo "oficial" do centenário de Pablo Neruda em dois volumes titulada "Imagen y Testimonio". Nessa edição foram reunidos 11 textos de um grupo seleto de escritores e críticos literários, entre os quais Mario Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Ernesto Sábato, Thiago de Melo, Hans Magnus Enzensberger e Robert Pring-Mill, além de trabalhos de artistas plásticos como Guayasamín e Roberto Matta. Há também um texto de Pablo Picasso e fotografias e manuscritos do poeta.

Também foi lançado recentemente "Pablo Neruda - Epistolário Viajero (1927-1973)", de Abraham Quezada, publicado pela editora chilena RIL. O autor reuniu a correspondência (em grande parte inédita) do poeta nos anos em que trabalhou no Ministério de Relações Exteriores do Chile.

A obra de Neruda pode ser encontrada em edições e reedições recentes em português. Em 2004 foram lançados "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada", pela José Olympio, e "Crepusculário", em edição bilíngüe, pela L&PM. O "Canto Geral" foi publicado pela Bertrand Brasil em 2002. Convém dar uma olhada também na autobiografia "Confesso que Vivi", lançada em 2000 pela Bertrand Brasil. Para quem quer uma visão do conjunto da obra, está também a "Antologia Poética de Pablo Neruda" editada pela José Olympio com excelente tradução de Eliane Zagury. Nas boas livrarias de São Paulo existem também edições em espanhol de grande parte da obra. Vale a pena ler os excelentes prólogos da editora espanhola Cátedra para "Odas Elementares", "Residência en la Tierra" e "Canto General".

No Brasil, vale a pena lembrar que existem inúmeros testemunhos de suas passagens e das amizades que por aqui deixou. O poeta Thiago de Mello foi um de seus grandes amigos ao longo de toda a vida e foi uma das personalidades de destaque, convidado por ocasião das homenagens do centenário do nascimento de Neruda, no Chile. A escritora Clarice Lispector deixou uma curiosa entrevista com o poeta chileno, durante uma de suas estadas no Rio de Janeiro nos anos sessenta. O crítico literário Davi Arrigucci Jr. publicou em 1979, um breve mas contundente ensaio sobre o poeta, titulado "Contorno da Poética de Neruda".

Em São Paulo, a Biblioteca Infanto-juvenil Pablo Neruda funciona desde 1956, oferecendo um acervo importante de títulos infanto-juvenis, didáticos, paradidáticos e de referência. A biblioteca está localizada na praça Joaquim José da Nova s/n, Vila Maria (tel. 0/xx/11/6954-2813) e promove atualmente um ciclo chamado "Oficina de Idéias".

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