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26/10/2004 - 02h54

A rede a favor da escola

Karla Maia
free-lance para a Folha de S.Paulo

A mesa coberta por pilhas de livros e enciclopédias parece uma imagem cada vez mais distante para os alunos de ensino fundamental e médio que diariamente exploram a internet em busca de apoio para os estudos. Não há mais como evitá-la, nem desaprovar seu uso -a rede é parte do cotidiano dessas crianças e jovens, que podem tirar proveito dela. O desafio é saber escolher, entre a infinidade de sites a um clique de distância, os que ajudam a melhorar o aprendizado.

A escola tem papel fundamental nessa orientação. Além da indicação em sala de aula, vários colégios contam com sites próprios, nos quais oferecem textos complementares, exercícios para resolução, material de revisão, correção de provas e sugestões de links para apoio a pesquisas. "O professor conta com a internet como um canal para continuar a aula. Isso funciona para todas as disciplinas, desde a primeira série até o ensino médio, e é muito usado por todos", diz Jânia do Valle, diretora de informática do Colégio Augusto Laranja, que, desde 2001, disponibiliza material novo em seu site quase diariamente.

Outro caminho que também vem sendo explorado por algumas escolas é o uso da "webquest", uma metodologia que orienta a busca na rede. Partindo de um tema proposto pelo professor, os alunos pesquisam em sites pré-selecionados e montam uma nova página na internet abordando o assunto. O Colégio Dante Alighieri aplica essa técnica há quatro anos. A atividade costuma ser interdisciplinar, dura de um a seis meses, e as páginas criadas pelos alunos ficam disponíveis no site do colégio. "A grande ferramenta é a vontade do professor em olhar aquele recurso e pensar como pode torná-lo útil", complementa Miriam Brito Guimarães, professora de informática do Dante.

Publicar na internet o conhecimento gerado em sala de aula pode se transformar em fonte de aprendizado. "O estudante aprende e gera um retorno para a sociedade. Essa é uma ação transformadora, e não simplesmente uma transposição de conteúdo", explica Sergio Ferreira do Amaral, professor da Unicamp e membro de um grupo de pesquisas na área de tecnologia aplicada à educação.

Para aqueles que ainda não recebem supervisão escolar no direcionamento de suas pesquisas e estudos on-line, especialistas na área sugerem algumas medidas para tirar maior proveito da internet. A mais importante é verificar a procedência do site. O ideal é que se busque informação em bibliotecas virtuais, jornais, revistas e sites de instituições reconhecidas. Também se recomenda a consulta de mais de uma página como fonte da mesma informação, pois assim é possível checar se os dados são iguais. Além disso, a linguagem usada deve ser adequada ao grau de escolaridade do aluno.

Muitas vezes, a diversidade proporcionada pela internet pode se configurar como uma armadilha, principalmente para os mais jovens. "Não dá para deixar um aluno do ensino fundamental procurando em uma ferramenta de busca. Ele acha coisas boas, mas também muitas ruins e ainda não é capaz de separá-las", diz Mariza Mendes, consultora de informática educacional do Senac São Paulo. Nesses casos, segundo ela, a participação dos pais pode ser essencial: o aluno pode ensinar o pai a fazer uma busca, e este, que tem mais discernimento sobre o que está lendo, pode dizer se o site encontrado é confiável ou não.

Já os jovens do ensino médio preferem ter liberdade para pesquisar, como ressalta Jânia, do Augusto Laranja: "O aluno mais velho quer ter autonomia. Nessa idade, já está mais apto a diferenciar o que é bom do que não é. O desenvolvimento dessa capacidade também faz parte da sua formação".

A saída do universo restrito dos portais educacionais e sites previamente indicados pode significar mais tempo gasto nas buscas pela rede, mas abre espaço para conhecimentos até então impensados. "O aluno vai à internet para buscar um assunto específico e encontra referência a algo que lhe interessa. Então ele passa a pesquisar sobre esse novo tema. É como uma engrenagem", diz Silvia Fichmann, coordenadora do Laboratório de Investigação de Novos Cenários de Aprendizagem, da Escola do Futuro da USP.

Em alguns casos, o aprendizado pode vir de sites ou recursos que não têm um perfil educacional. "A diversão é o interesse inicial do aluno na internet. Cabe ao educador perceber as habilidades que o jovem desenvolve ao navegar e ampliar o repertório daquilo que pode ser feito on-line", explica Marcia Padilha Lotito, coordenadora de projetos em educação e tecnologias do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).

Seguindo essa linha de atuação, que une entretenimento e aprendizagem, é possível recorrer até a chats e blogues, geralmente vistos como recursos que apenas desviam o foco de atenção dos estudos. "Os blogues de pessoas que estão vivendo em áreas de conflito, por exemplo, podem ser aproveitados como uma rica ferramenta para o estudo de história contemporânea", acredita Mariza, do Senac.

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