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Educação
24/06/2005

Adaptar pedagogia ao aluno do século 21

MARCELA CAMPOS E
RENATA BAPTISTA
Equipe de trainees

Adequar os métodos pedagógicos ao aluno da era digital é um novo desafio da educação brasileira, segundo os especialistas consultados pela Folha. No país, apenas 10% das escolas públicas têm laboratório de informática e 14% dispõem de aparelhos de TV e vídeo, segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

Para a pedagoga Léa Fagundes, 75, presidente da Fundação Pensamento Digital, o rádio e a TV ainda não estão ao alcance dos alunos na escola, embora estejam em todas as casas, ricas ou pobres. "Crianças e jovens vivem outras experiências e a escola não se deu conta", diz.

O único programa nacional de grande abrangência para informatização das escolas públicas é o Proinfo (Programa Nacional de Informática na Educação), criado pelo Ministério da Educação em 1997. A proposta era instalar 100 mil micros em 6.000 escolas. Oito anos depois, há 53,8 mil computadores em 4.640 escolas.

Para a inglesa Jane Wreford, 59, especialista em educação, o problema vai além dos recursos tecnológicos. A inadequação começa nos métodos pedagógicos que não evoluíram com o passar dos anos. Quando Wreford chegou ao Brasil, ficou impressionada ao ver que aulas aqui consistem em fazer alunos copiarem nos cadernos o que o professor escreve na lousa --de costas para a classe, despejando conteúdo sem explicação prévia. Jane visitou escolas públicas da Grande São Paulo a convite do Instituto Fernand Braudel, em 2002, e relatou a experiência no documento "Gestão do ensino público em São Paulo: Por que ensinam e aprendem tão pouco?".

Selma Garrido Pimenta, diretora da Faculdade de Educação da USP, afirma que a escola trata os alunos como peças de um sistema industrial. "Eles têm uma aula de matemática, depois português, depois história, depois geografia... E você espera que no fim ele saia pronto, como se os professores fossem operadores de uma linha de montagem. Não é assim, as crianças nunca são iguais."

O colunista da Folha Gilberto Dimenstein, que coordena o Projeto Aprendiz, compara a escola de hoje a um depósito de crianças. "O aluno fica em média duas horas e meia em uma sala de aula superlotada, com professor desmotivado, dando um currículo nada a ver. É como colocar um jogador de basquete em um campo de futebol. Isso não foi feito para a pessoa aprender e sim para tirar a criança da rua."

Com 60 anos de experiência como professora, Eglê Malheiros, 77, afirma que a tecnologia é um instrumento, mas não uma solução. "Não sou contra o uso de computadores, mas isso não adianta se o professor não está preparado, se não tem biblioteca." Para ela, o professor precisa ter criatividade e ser capaz de ensinar com base na realidade.

Desinteresse

O descompasso entre métodos pedagógicos e jovens da era digital contribui para o desinteresse e para o abandono da escola --que atingiu 14% dos estudantes do ensino médio público em 2002. "Quem tem interesse, entusiasmo, se sente feliz, não abandona a escola, não fracassa, não agride", afirma Fagundes.

Aumentar o envolvimento dos estudantes foi uma das soluções da Escola Estadual Francisco Cristiano Lima de Freitas, de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), para reduzir a evasão em 65%.

O grêmio da escola tem 32 integrantes e mobiliza os alunos. Os jovens se reúnem com vereadores para pedir obras como a reforma de uma calçada e a instalação de um semáforo na esquina da escola. "Os pedidos foram aprovados, mas estão parados", conta a presidente do grêmio, Damares Zamengo da Silva, 14.

Damares não contém um sorriso ao falar de seu sonho, na cabine onde funciona a rádio da escola. "Quero fazer ciência política na USP. Disse para meus gremistas: ‘Vou ser presidente do Brasil um dia’. Toda a escola falou que vai votar em mim."
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