24/06/2005
Capacitar continuamente e avaliar o desempenho dos professores
ÁLVARO FAGUNDES
Da equipe de trainees
Leonardo Wen/Equipe de trainees |
|
Sala de aula da quarta séria, em escola estadual do Jardim Novo Morunbi, zona sul de São Paulo |
O caminho que leva à melhoria da educação básica pública brasileira precisa passar pela qualificação e pela avaliação do desempenho dos professores, na opinião da maio ria dos especialistas consultados pela Folha.
A legislação do Brasil diz que todos os educadores de ensino médio e de 5ª a 8ª série do fundamental devem ter nível superior em curso de licenciatura plena. Os de educação infantil e das quatro séries iniciais do ensino fundamental podem ter o curso normal de nível médio.
De acordo com o Inep, em 2004, pouco mais da metade (57,6%) dos professores da rede pública de educação básica possuíam ensino superior.
Na opinião da ex-secretária da Educação de São Paulo (1982-1985), Guiomar Namo de Mello, a formação universitária não garante qualidade. "O Brasil, há 50 anos, tinha melhores professores que hoje e não havia tantos educadores com curso superior."
O diretor da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Ministério da Educação, o professor de filosofia Renato Janine Ribeiro, também reclama das faculdades. "Só na pós-graduação há certeza de qualidade. O ensino de graduação é muito ruim e, se não mudar isso, a formação dos professores também continuará muito ruim."
Para a diretora da Faculdade de Educação da USP, Selma Garrido Pimenta, o problema está relacio nado ao crescimento do ensino superior privado. "As universidades que são mercantilistas abrem os cursos mais baratos de serem mantidos, que são os de formação de professores."
No ano passado, a Secretaria da Educação da Bahia avaliou, para efeitos de carreira, o conhecimento pedagógico e de conteúdo de seus professores. No caso dos professores da primeira série, um terço dos 6.386 educadores foi aprovado. Entre os professores das séries finais do ensino fundamental (de 5ª a 8ª) e da 1ª à 3ª série do ensino médio, 59% dos 9.558 profissionais foram aprovados.
O teste vale por três anos, e os professores aprovados recebem um aumento em seus salários. "Além de valorizar a carreira pelo mérito, a certificação é um instrumento para verificar a eficácia", diz à Folha a secretária da Educação da Bahia, Anaci Bispo Paim.
Um outro ponto citado pelos especialistas é que o treinamento do educador tem que ser constante."A formação continuada ajuda o professor a ter práticas de ensino mais eficientes. Ela deve ajudá-lo a pensar o trabalho escolar, e não ser um conjunto de teorias", afirma o presidente da Associação Internacional de História da Educação, António Nóvoa.
Favorável aos cursos de formação, o diretor do Sindicato dos Profissionais de Educação do Ensino Municipal de São Paulo, Cláudio Fonseca, reclama das condições oferecidas pelo poder público. "Muitas escolas não têm nem professores substitutos para trabalhar no lugar dos que estão em treinamento. O governo que não tiver uma política de formação permanente é melhor não se considerar governo."
Sistemas de avaliação
Segundo os entrevistados, os professores teriam de ser mais cobrados. Uma das sugestões apresentadas é a avaliação dos educadores pelo rendimento dos alunos. "Na verdade não deveria haver outro critério. Se os alunos não estão aprendendo, o professor não está ensinando", afirma Guiomar Namo de Mello.
De acordo com o relatório do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2003, mais de 50% dos alunos de quarta série tiveram desempenho crítico ou muito crítico em língua portuguesa e em matemática
As faltas dos professores também seriam um reflexo da pouca cobrança. Para 75,8% dos pais de alunos de escolas públicas, a falta constante é um dos maiores problemas da escola, conforme pesquisa do Inep divulgada em maio. Segundo o presidente do sindicato municipal de professores, a crítica não corresponde à verdade. "Isso é um desvio de avaliação. Boa parte das faltas são causadas pela ineficiência das condições de trabalho que levam a doenças como depressão e problemas vocais", diz Fonseca.
Veja estatísticas em
www.inep.gov.br