São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2002
 

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Careta e ginástica curam empresas doentes

SHIN OLIVA SUZUKI
RODRIGO TAVARES
DA EQUIPE DE TRAINEES

A proliferação de dores e doenças relacionadas ao trabalho levou os médicos a cunharem um novo conceito. Hoje são os postos de trabalho que estão doentes e não os trabalhadores.

A médica Maria Maeno, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, diz que os empresários não sabem o quanto "uma pessoa suporta trabalhar".

Maria Maeno integra o grupo de médicos que compartilham a idéia de que os trabalhadores adoecem porque o seu posto de trabalho é "doente".

Um bom exemplo é o setor de telemarketing, que emprega cerca de 400 mil pessoas no país. Os operadores permanecem sentados por seis horas e suas únicas ferramentas são as cordas vocais e os dedos.

Em alguns casos, respondem a mais de cem ligações por dia, muitas delas de clientes furiosos. É o típico posto de trabalho doente. O resultado é o desenvolvimento de dores musculares, estresse, disfonia (alteração na voz) e as LER/ Dort (lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho).

Na central de atendimento do banco Sudameris em Santo Amaro (SP), em 1996, 89% dos empregados tinham rouquidão, 53% sentiam dor durante a fala e cerca de 20% possuíam LER/Dort.

O banco adaptou o mobiliário, diminuiu o ruído e conscientizou os funcionários acerca da postura correta. Eles fazem caretas (exercícios orofaciais) para diminuir o estresse e melhorar a voz. Em 2001, os índices foram de 54%, 16% e 1%, respectivamente.

Na ACS Call Center, de Uberlândia (MG), entre as medidas adotadas para reduzir a disfonia, a empresa sugere que os funcionários troquem os doces por frutas e sucos, que são benéficos às cordas vocais. Na Páscoa, a firma deu aos empregados suco de laranja, em vez do tradicional ovo. "Quando entregamos o suco, a maioria vaiou", conta a responsável por recursos humanos, Maria Aparecida Garcia.

A lian gong, uma ginástica terapêutica chinesa, tem sido a arma da editora Abril para combater as lesões nos braços entre os empregados do serviço de atendimento. 79% dos praticantes afirmam que as dores no corpo diminuíram.

Certificado internacional

A preocupação com a melhoria do ambiente de trabalho fez com que algumas empresas recebessem reconhecimento internacional.

A empresa de alimentos De Nadai, de Santo André (SP), e a Companhia Energética Santa Elisa, de Sertãozinho (SP), são as únicas indústrias brasileiras a possuírem o certificado SA8000, do Instituto de Responsabilidade Social dos EUA.

A De Nadai perdia 31.464 horas por ano com empregados afastados por LER/Dort. Os investimentos em saúde reduziram o número para 4.920 horas em 2001.

Na Santa Elisa, o investimento vai desde a correção da postura dos cortadores de cana até terapia para controlar o consumismo.

Para Rosmary Delboni, responsável pela equipe, "é um conjunto de ações que, somadas, levam ao resultado positivo"



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