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Careta e ginástica curam empresas doentes
SHIN OLIVA SUZUKI
RODRIGO TAVARES
DA EQUIPE DE TRAINEES
A proliferação de dores e doenças relacionadas ao trabalho levou os médicos a cunharem um
novo conceito. Hoje são os postos
de trabalho que estão doentes e
não os trabalhadores.
A médica Maria Maeno, do
Centro de Referência em Saúde
do Trabalhador, diz que os empresários não sabem o quanto
"uma pessoa suporta trabalhar".
Maria Maeno integra o grupo
de médicos que compartilham a
idéia de que os trabalhadores
adoecem porque o seu posto de
trabalho é "doente".
Um bom exemplo é o setor de
telemarketing, que emprega cerca
de 400 mil pessoas no país. Os
operadores permanecem sentados por seis horas e suas únicas
ferramentas são as cordas vocais e
os dedos.
Em alguns casos, respondem a
mais de cem ligações por dia,
muitas delas de clientes furiosos.
É o típico posto de trabalho doente. O resultado é o desenvolvimento de dores musculares, estresse, disfonia (alteração na voz)
e as LER/ Dort (lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho).
Na central de atendimento do
banco Sudameris em Santo Amaro (SP), em 1996, 89% dos empregados tinham rouquidão, 53%
sentiam dor durante a fala e cerca
de 20% possuíam LER/Dort.
O banco adaptou o mobiliário,
diminuiu o ruído e conscientizou
os funcionários acerca da postura
correta. Eles fazem caretas (exercícios orofaciais) para diminuir o
estresse e melhorar a voz. Em
2001, os índices foram de 54%,
16% e 1%, respectivamente.
Na ACS Call Center, de Uberlândia (MG), entre as medidas
adotadas para reduzir a disfonia,
a empresa sugere que os funcionários troquem os doces por frutas e sucos, que são benéficos às
cordas vocais. Na Páscoa, a firma
deu aos empregados suco de laranja, em vez do tradicional ovo.
"Quando entregamos o suco, a
maioria vaiou", conta a responsável por recursos humanos, Maria
Aparecida Garcia.
A lian gong, uma ginástica terapêutica chinesa, tem sido a arma
da editora Abril para combater as
lesões nos braços entre os empregados do serviço de atendimento.
79% dos praticantes afirmam que
as dores no corpo diminuíram.
Certificado internacional
A preocupação com a melhoria
do ambiente de trabalho fez com
que algumas empresas recebessem reconhecimento internacional.
A empresa de alimentos De Nadai, de Santo André (SP), e a
Companhia Energética Santa Elisa, de Sertãozinho (SP), são as
únicas indústrias brasileiras a
possuírem o certificado SA8000,
do Instituto de Responsabilidade
Social dos EUA.
A De Nadai perdia 31.464 horas
por ano com empregados afastados por LER/Dort. Os investimentos em saúde reduziram o
número para 4.920 horas em
2001.
Na Santa Elisa, o investimento
vai desde a correção da postura
dos cortadores de cana até terapia
para controlar o consumismo.
Para Rosmary Delboni, responsável pela equipe, "é um conjunto
de ações que, somadas, levam ao
resultado positivo"
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