Leonel Tavares de Miranda e Albuquerque

29.jul.1903 - 14.mar.1986

 

Ministro da Saúde


O paraibano Leonel Tavares de Miranda e Albuquerque despertou a atenção da imprensa em 1967. Ele era o mais desconhecido dos ministros convidados por Arthur da Costa e Silva. Na época, a Folha citava esse anonimato para chamá-lo de “a figura que mais curiosidade provocava” entre os escolhidos para as pastas.


Leonel Miranda nasceu na Paraíba em 29 de julho de 1903. Antes de ingressar na vida política como ministro da Saúde, era médico e empresário.


Vinha de família abastada, sendo neto de coronel e filho de um senhor de engenho. Ainda assim, foi por dificuldades financeiras que trocou a Faculdade de Medicina da Bahia pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1927, com especialização em clínica cirúrgica.


No Rio, foi estagiário na Casa de Saúde D. Eiras, em Botafogo, que cuidava de doentes mentais. Anos depois, já com o diploma, acabou assumindo o controle da instituição, uma das mais renomadas do Rio.


Em relato à Folha, Miranda descreveu outro de seus empreendimentos, aquele que considerava “umas das experiências mais fascinantes de sua vida”: a clínica de Paracambi, na Baixada Fluminense.


O projeto teve como inspiração uma experiência nigeriana de comunidade que integrava famílias e pacientes. Miranda copiou a idéia com os doentes mentais, particularmente afetados pelo problema da segregação.


Para fundar a clínica, o futuro ministro contou com a ajuda de Oscar Niemeyer - um comunista declarado. Apesar desse histórico, ironicamente foi Paracambi que fez com que Leonel Miranda se tornasse um apoiador do golpe militar.

Amizade

 

O ministro da Saúde conheceu Costa e Silva no fim dos anos 50, quando o militar morava na rua São Clemente, em Botafogo. Segundo Miranda, os dois se tornaram “bons amigos”. Quando veio o movimento de 1964, o médico se aproximou do futuro presidente “em sinal de gratidão”, por Costa e Silva ter ajudado a “salvar o Brasil”.


O receio de Miranda com o futuro do Brasil surgiu após um incidente em Paracambi. A clínica de 900 leitos havia sido criada com os recursos provenientes de um aviário do médico, que funcionava ao lado da comunidade. O proprietário relatava que, um dia, chegou no local e encontrou “alguns estranhos” medindo as terras. Era uma invasão. “Eu sou filho de senhor de engenho e tenho uma concepção diferente de terra”, declarou à <b>Folha</b>.


Ainda médico, Miranda assistiu ao comício de 13 de março, na Central do Brasil, quando Jango anunciou suas reformas. Ali, estava acompanhado pelos futuros golpistas.


Nos dois anos que ocupou o Ministério da Saúde, entre 1967 e 1969, Leonel Miranda implantou o Plano Nacional de Saúde e fez uma reforma administrativa. Sua gestão também criou a Embramed (Empresa Brasileira de Medicamentos), que tinha como finalidade produzir remédios e vacinas de baixo custo por meio de convênios com laboratórios estrangeiros.


Alvo de críticas da oposição em relação à eficácia de seus projetos, Miranda colocou o cargo à disposição com a eleição de Emílio Medici. No discurso de despedida, em outubro de 69, o paraibano sublinhou: “Não sou político; sou um profissional de medicina e um administrador”.


Após a passagem pelo ministério, Leonel Miranda não retornou à vida política. Faleceu no Rio de Janeiro, em 14 de março de 1986, deixando mulher e dois filhos.

 

 

 

 

 

 

 

Ouça o áudio

 

 

Senhor presidente, senhores conselheiros. É inegável que a revolução de 64 trouxe a segurança da vida que se gozava no Brasil até então. Terminou com o movimento de subversão claro e evidente.

 

O primeiro governo da revolução tinha meios de manter instrumentos aptos para manter o governo e garanti-lo. Depois, o segundo governo da revolução, dirigido por Vossa Excelência, talvez não tenha os instrumentos necessários à continuação... para preservar a continuação da vida nacional. E todos nós, que estamos testemunhas do interesse, da dedicação, do desvelo de Vossa Excelência no sentido de encontrar a solução que se diz democrata para o Brasil, mas que, neste momento, todos nós verificamos também que o acidente último da votação na Câmara foi apenas um acidente num rosário de atitudes e de acontecimentos que marcam bem um propósito revolucionário no Brasil.

 

Então, senhor presidente, não vejo como nós nos possamos eximir do dever de tomar os instrumentos necessários à preservação da vida do Brasil, da vida que nós adotamos no Brasil. E esse é um sacrifício que Vossa Excelência fará, com certeza, dado o seu espírito democrático. Eu acho que devem se adotar os instrumentos necessários para manter a nação brasileira dentro do regime da tranqüilidade, da ordem e do trabalho.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os militares do golpe de 64 se autoproclamavam “revolucionários”, chamando os opositores do regime de “contra-revolucionários”. Em seu voto, o ministro da Saúde Leonel Miranda destoou dessa convenção e se referiu às críticas do deputado Marcio Moreira Alves como “um acidente num rosário de atitudes e de acontecimentos que marcam bem um propósito revolucionário no Brasil”. Na ata da reunião, a expressão foi trocada.


Miranda também fez muitos elogios ao presidente durante seu voto. Foi por causa da amizade com Costa e Silva que o médico se tornou ministro. Antes, não tinha envolvimento com a política.