Orlando Geisel

5.set.1905 - 30.mai.1979

 

Chefe do EMFA (Estado-Maior das Forças Armadas)


Orlando Geisel, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, esteve presente à reunião do AI-5, em 13 de dezembro de 1968, por razões quase protocolares. Dez meses depois, no entanto, com o falecimento do presidente Arthur da Costa e Silva, tornou-se o segundo homem mais influente da ditadura militar, no governo de Emilio Garrastazú Medici (1969-1974).

 

General disciplinado, Orlando defendeu, em seu voto no encontro do Conselho de Segurança Nacional, que o presidente deveria ter plenos poderes para modificar a Constituição. "Se não tomarmos, neste momento, esta medida que está sendo aventada, amanhã vamos apanhar na cara, senhor presidente", afirmou.

 

Com o agravamento do estado de saúde de Costa e Silva, o irmão do futuro presidente Ernesto Geisel (1974-1979) foi cogitado para assumir o Executivo, mas a indicação não prosperou. A escolha pela sucessão, em 1969, terminou com a posse de Medici e a indicação de Orlando para o Ministério do Exército no lugar do general Lyra Tavares.

 

Último dos generais nomeados por João Goulart (1961-1964), Orlando promoveu a reforma da pasta e o reaparelhamento do Exército no período de maior repressão política aos opositores. Durante sua gestão, assumiu o controle da segurança, apesar de ter sido contrário à formação do CIE (Centro de Informação do Exército) no governo Costa e Silva.

 

A fé na força militar o fazia querer continuar como ministro com o fim do mandato de Medici, apesar de seus problemas de saúde _tivera pneumonia e sofrera de uma inflamação no pericárdio. Mas sua permanência, endossada por boa parte dos generais, não foi possível pela vontade daquele que seria o próximo presidente _seu irmão, Ernesto, que, à época, chefiava a Petrobras.

 

Orlando foi cabo eleitoral de Ernesto, que sempre cuidou para que sua escolha não fosse atribuída ao irmão. Sempre foram muito amigos, desde a infância pobre, em Bento Gonçalves (RS). Seguindo o caminho de Orlando, Ernesto –dois anos mais jovem– se inscreveu no Colégio Militar de Porto Alegre e, mais tarde, chegou à Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro. Chegaram a morar juntos, e, como homenagem, Ernesto deu ao filho o nome de Orlando.

 

A política militar era motivo de discordância entre os dois. Ficaram três anos se falar em razão da Novembrada, em 1955, quando o general Henrique Lott depôs dois ocupantes da Presidência para assegurar a posse de Juscelino Kubitschek. Enquanto Orlando atuava como executor do estado de sítio no Rio de Janeiro, Ernesto não admitia que alguém se insurgisse contra o presidente que o havia nomeado.

 

Em entrevistas anos mais tarde, Ernesto dizia temer que, no primeiro despacho, os dois brigassem. Pela intermediação de Medici, tentou oferecer-lhe o cargo de embaixador em Portugal, possibilidade negada por Orlando. A agonia fez com que o cargo de ministro do Exército fosse o último escolhido pelo novo presidente, e foi o próprio que comunicou sua escolha ao irmão.

 

"Foi uma dor terrível pra mim. O Orlando nunca mais me visitou. Até morrer, nem foi ao palácio, nem ao Riacho Fundo [residência de fim de semana da Presidência]", relatou Ernesto a Gaspari. Orlando, enfim, deixou o governo em 1974. Não tinha influência nas decisões, mas o irmão evitava contrariá-lo.

 

Ainda continuou por dois anos na casa oficial dos ministros do Exército, o Palácio da Laguna, por ter quebrado a perna depois de um acidente vascular cerebral. Nem Vicente Dale Coutinho, o novo ministro, tampouco o irmão tinham coragem de fazê-lo sair.

 

Orlando morreu aos 74 anos de parada cardíaca, provocada por uma insuficiência respiratória, em 30 de maio de 1979, em Brasília. Deixou dois filhos, Augusto Guilherme e Lídia Geisel Domingues.

 

 

 

 

 

 

Ouça o áudio

 

 

Senhor presidente e senhores membros do Conselho de Segurança Nacional. O meu parecer, o meu ponto-de-vista, já é de sobejo conhecido, conhecido, de sua Excelência, presidente. Coincide, em termos gerais, com a maioria dos pareceres emitidos nesta mesa. E é, como não poderia deixar de ser, de inteiro aplauso à medida que Sua Excelência pretende tomar [pausa longa]. Responsável direto e imediatamente subordinado à Sua Excelência nos problemas ligados às nossas Forças Armadas, devo ser e sou um dos homens melhores informados do que se passa no campo da contra-revolução neste país.

 

Concordo inteiramente e corroboro as palavras do Excelentíssimo senhor chefe do Serviço Nacional de Informações. Se não tomarmos, neste momento, esta medida que está sendo aventada, amanhã vamos apanhar na cara, senhor presidente. Desejaria, apenas, que se fizesse um adendo neste projeto: é o adendo já preconizado por Sua Excelência, o senhor ministro da Fazenda, e já apoiado pelo Excelentíssimo senhor ministro do Interior. Que dê uma... uma faculdade ao presidente para modificar a Constituição nos pontos em que fossem necessários. É esse o meu parecer, senhor presidente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao afirmar que, se não fosse instituído o AI-5, os militares iriam "apanhar na cara", o general Orlando Geisel comprovava sua lealdade ao Exército e respeito à hierarquia. O tom firme do comentário, no entanto, foi poupado na transcrição da ata oficial da reunião; a palavra "cara" foi substituída por "carne".

 

Como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, declarou-se "um dos homens melhores informados sobre o que se passa no campo da contra-revolução neste país." Defendeu, ainda, a possibilidade de o presidente Arthur da Costa e Silva modificar a Constituição quando considerasse necessário, opinião compartilhada por Delfim Netto (Fazenda) e Afonso Albuquerque (Interior).

 

Orlando concordou, em seu voto, com o então chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações), Emilio Garrastazú Medici, do qual viria a ser subordinado dez meses mais tarde. Assumiu, em 1969, o posto de ministro do Exército naqueles que são considerados os anos mais repressivos da ditadura militar no Brasil.