São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001
 

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ECONOMIA

Dados de educação e renda mostram que não é só a distribuição geográfica de raças no país que é desigual

Negros são 63% dos pobres e 69% dos indigentes do Brasil

ALESSANDRA MILANEZ
DA EQUIPE DE TRAINEES

Não somos todos Severinos iguais em tudo na vida. Os versos do poeta João Cabral de Melo Neto, escritos em 1955 e que expressavam a mesma miséria para todos, não podem ser aplicados à totalidade da pobreza do Brasil. Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que a pobreza não é democrática quando se analisa a cor daqueles por ela atingidos.
O Brasil ocupa a 74ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU. Uma pesquisa feita por Marcelo Paixão, da ONG Fase, afirma, no entanto, que o país cai para a 108ª posição se forem analisadas apenas as condições dos afro-descendentes. Se somente a parcela branca for contabilizada, o país ocupa a 48ª posição, ou seja, o Brasil dos brancos é quase duas vezes e meia mais rico do que o dos negros.
Os negros, que, de acordo com os critérios do IBGE, são a soma de pretos e pardos, representam 45% da população, mas são 64% dos pobres e 68% dos indigentes do país. Segundo Ricardo Henriques, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), são considerados pobres aqueles que não ganham o suficiente para pagar uma cesta alimentar mais um mínimo de gastos individuais com vestuário, habitação e transporte. O valor necessário para cobrir esses gastos varia conforme a região, mas ficaria em torno de um salário mínimo (R$ 180) em São Paulo.
Na faixa de indigência (pobreza extrema), foram incluídos aqueles que não ganhavam o suficiente para uma cesta alimentar, o que corresponderia a cerca de meio salário mínimo (R$ 90).

Educação e trabalho
Ao longo da década, os índices de analfabetismo têm caído em todo o país, mas as diferenças entre brancos e negros permaneceram praticamente inalteradas.
Os negros representam quase metade da população do país. Esses números, porém, podem variar significativamente de região para região. Em Santa Catarina, apenas 8,5% da população do Estado é negra, enquanto em Sergipe esse número sobe para 80%. No Estado de São Paulo, os negros representam 26,8% da população.
Os índices relacionados a educação também apontam para uma desproporção entre negros e brancos em qualquer região do país. No Brasil, 8,3% da população branca é analfabeta; entre os pretos, esse índice chega a 21%.
Os brancos estudam em média dois anos a mais do que os negros. Essa diferença de escolaridade pode ser apontada como um dos principais fatores para a renda mais baixa dos negros. Em 1999, 30% dos chefes de família de cor parda ganhavam até meio salário mínimo, índice quase duas vezes e meia maior do que os chefes de família de cor branca (12,7%).
Quando analisamos os chefes de família que ganham mais de cinco salários mínimos, esse indicador se inverte: são 14% entre os brancos e 3,2% entre os pardos.
Ao cruzarmos dados de educação e renda, temos a síntese da situação da população do país: dentre os que estão trabalhando, os negros têm, em relação aos brancos, menos da metade de anos de estudo e ganham menos da metade do que os brancos ganham.


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