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ECONOMIA
Dados de educação e renda mostram que não é só a distribuição geográfica de raças no país que é desigual
Negros são 63% dos pobres e 69% dos indigentes do Brasil
ALESSANDRA MILANEZ
DA EQUIPE DE TRAINEES
Não somos todos Severinos
iguais em tudo na vida. Os
versos do poeta João Cabral de Melo Neto, escritos em
1955 e que expressavam a mesma
miséria para todos, não podem
ser aplicados à totalidade da pobreza do Brasil. Os dados do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) apontam que a pobreza não é democrática quando
se analisa a cor daqueles por ela
atingidos.
O Brasil ocupa a 74ª posição no
IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) da ONU. Uma pesquisa feita por Marcelo Paixão, da
ONG Fase, afirma, no entanto,
que o país cai para a 108ª posição
se forem analisadas apenas as
condições dos afro-descendentes.
Se somente a parcela branca for
contabilizada, o país ocupa a 48ª
posição, ou seja, o Brasil dos brancos é quase duas vezes e meia
mais rico do que o dos negros.
Os negros, que, de acordo com
os critérios do IBGE, são a soma
de pretos e pardos, representam
45% da população, mas são 64%
dos pobres e 68% dos indigentes
do país. Segundo Ricardo
Henriques, pesquisador do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), são considerados pobres aqueles que não ganham o
suficiente para pagar uma cesta
alimentar mais um mínimo de
gastos individuais com vestuário,
habitação e transporte. O valor
necessário para cobrir esses gastos varia conforme a região, mas
ficaria em torno de um salário mínimo (R$ 180) em São Paulo.
Na faixa de indigência (pobreza
extrema), foram incluídos aqueles que não ganhavam o suficiente
para uma cesta alimentar, o que
corresponderia a cerca de meio
salário mínimo (R$ 90).
Educação e trabalho
Ao longo da década, os índices
de analfabetismo têm caído em
todo o país, mas as diferenças entre brancos e negros permaneceram praticamente inalteradas.
Os negros representam quase
metade da população do país. Esses números, porém, podem variar significativamente de região
para região. Em Santa Catarina,
apenas 8,5% da população do Estado é negra, enquanto em Sergipe esse número sobe para 80%.
No Estado de São Paulo, os negros
representam 26,8% da população.
Os índices relacionados a educação também apontam para
uma desproporção entre negros e
brancos em qualquer região do
país. No Brasil, 8,3% da população branca é analfabeta; entre os
pretos, esse índice chega a 21%.
Os brancos estudam em média
dois anos a mais do que os negros.
Essa diferença de escolaridade
pode ser apontada como um dos
principais fatores para a renda
mais baixa dos negros. Em 1999,
30% dos chefes de família de cor
parda ganhavam até meio salário
mínimo, índice quase duas vezes
e meia maior do que os chefes de
família de cor branca (12,7%).
Quando analisamos os chefes
de família que ganham mais de
cinco salários mínimos, esse indicador se inverte: são 14% entre os
brancos e 3,2% entre os pardos.
Ao cruzarmos dados de educação e renda, temos a síntese da situação da população do país: dentre os que estão trabalhando, os
negros têm, em relação aos brancos, menos da metade de anos de
estudo e ganham menos da metade do que os brancos ganham.
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