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Novo em Folha 46ª turma
11/12/2008

82% dos brasileiros ignoram ato que radicalizou repressão militar

NATÁLIA PAIVA
DA EDITORIA DE TREINAMENTO

Se cada brasileiro se deparasse com este caderno especial, pelo menos 150 milhões pensariam: "Que raios significa AI-5?". Pesquisa do Instituto Datafolha mostra que 82% da população "nunca ouviu falar" do ato de 1968 que radicalizou a ditadura. Dos 18% que disseram ter ouvido falar, 67% não souberam o significado da sigla.

Longe de inesperado, o resultado reflete programas de história ruins nos colégios, universidades sem financiamento para produção de conhecimento e falta de interesse coletivo por um projeto nacional calcado no conhecimento histórico, diz Carlos Guilherme Mota, professor de história da USP e autor de "História do Brasil: Uma Interpretação" (2008).

"As heranças colonial, imperial e de ditadura estão na base desses resultados. Vivemos num país, afinal, em que as elites não têm preocupação em incentivar a educação e a pesquisa histórica", diz.

Mais que lacuna educacional, Denise Rollemberg, professora de história da UFF (Universidade Federal Fluminense), diz tratar-se de um processo que envolve esquecimento e reconstrução de fatos e processos históricos. O Brasil, diz, ou não reconhece seu passado de ditadura militar ou dele tem uma versão "muito distorcida".

Rollemberg afirma que nem a ditadura nem o golpe tiveram apoio apenas das forças militares- a sociedade balizou o regime e seus atos. "Em 1968, você vê muito pouca resistência ao AI-5. A própria OAB só vai se manifestar contra em 1972." Mas, continua, "a partir de determinado momento da abertura política, a sociedade passa a construir uma memória que a desvincula do apoio ao golpe."

Como na França e na Alemanha do pós-guerra -quando era "doloroso" reconhecer o apoio popular dado ao fascismo-, no Brasil pós-abertura política, quando a democracia passa a ser valorizada, há uma reconstrução do passado a partir do presente. Nessa reconstrução, esquece-se o que houve para esquecer-se do aval dado.

Daniel Aarão Reis, também professor de história da UFF, concorda. Diz que, sempre que uma sociedade muda de valores -como ocorreu no Brasil, ao mudar de ditadura para democracia-, surge o desafio de compreender por que se tolerou a situação agora deixada de lado. "É muito mais simples não falar do assunto, esquecer."

Para Rollemberg, a pesquisa ainda revela a indiferença dos brasileiros em relação ao autoritarismo, já que 52% dizem que os militares agiram bem ou são indiferentes ao ato. "Há a idéia de que não tem importância não saber. Essa indiferença também cumpre seu papel."

Para Marcus Figueiredo, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), o resultado também era esperado, já que boa parte da população brasileira nasceu após 1968. Mas mesmo dentre os brasileiros acima de 60 anos, 73% desconhecem o ato.

"Mas esse fato tem 40 anos e não faz parte do calendário das datas nacionais. Foi um acontecimento que teve vida curta, em 1968 e 1969. Daí para frente, foi uma ameaça. Acho irrelevante as pessoas não saberem."

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