Treinamento
02/07/2009 - 21h47

Medo da proibição domina cidade

ANNA CAROLINA CARDOSO
ESTELITA HASS CARAZZAI
Enviadas especiais a Minaçu (GO)

O medo dos minaçuenses de que a mina de amianto seja fechada já fez com que um empreendimento imobiliário de R$ 20 milhões na cidade fosse cancelado antes mesmo de começar. Em Minaçu é assim: toda vez que surge uma polêmica em torno do amianto, corre o boato de que a mineração pode ser proibida, e os investimentos são afugentados.

O empresário goiano Nildemar Franco Amaral Júnior, 40, pretendia construir um condomínio com 374 lotes na cidade. O projeto foi abortado quando uma sondagem com potenciais compradores revelou que poucos estavam dispostos a investir em imóveis. "Os próprios trabalhadores da empresa têm medo de perder o emprego", diz o empresário.

Desde o início do ano, quando rumores sobre o fechamento da mina voltaram a circular em Minaçu e se somaram à crise global, os preços dos lotes à beira do lago Cana Brava, principal área de lazer da cidade, caíram pela metade. Dono de uma imobiliária, Amilson Seabra, 46, não vende nem um terreno ali há mais de seis meses.

Estelita Carazzai/Folha Imagem
Funcionário da imobiliária Amilson Seabra, em Minaçu, mostra o mapa de um loteamento próximo ao lago de Cana Brava
Funcionário da imobiliária Amilson Seabra, em Minaçu, mostra o mapa de um loteamento próximo ao lago de Cana Brava

Inseguros, muitos moradores evitam qualquer tipo de investimento. Há 15 anos em Minaçu, os comerciantes Aurora Duarte, 43, e Maurissane Duarte, 52, chegaram quando a cidade vivia dias promissores e a Sama empregava mais pessoas. "Eu vendia frango assado na feira. Em dia de pagamento da Sama, eram 30 peças a mais", lembra Aurora.

Estelita Carazzai/Folha Imagem
Maurissane Moreira Duarte e a mulher, Aurora, em sua loja de equipamentos e tintas em Minaçu; o casal planeja se mudar para Palmas (TO), com medo do banimento do amianto
Maurissane Moreira Duarte e a mulher, Aurora, em sua loja de equipamentos e tintas em Minaçu; o casal planeja se mudar para Palmas (TO), com medo do banimento do amianto

Ela e o marido não pensaram duas vezes na hora de construir a casa e a loja na avenida Maranhão, a principal da cidade. Hoje, não pretendem mais erguer o andar de cima. Preferem investir o dinheiro em um ponto em Palmas (TO), onde o filho mais novo vai estudar.

Assim como Aurora e Maurissane, toda Minaçu depende do dinheiro movimentado pela mina. Se a Sama fecha, Minaçu acaba, dizem os moradores.

Foi o que aconteceu a Bom Jesus da Serra, na Bahia. A mina de amianto local foi explorada de 1940 até o descobrimento da jazida goiana, em 1962. Hoje, sem outra atividade, a economia da cidade está estagnada.

Em Minaçu, mesmo com a mina operando normalmente, quem pode se previne contra a possibilidade de seu fechamento. O empresário Luiz Marques, 47, mantém uma poupança, para o caso de ter que se mudar.

Estelita Carazzai /Folha Imagem
Luiz Marques, proprietário da loja de roupas A Goianinha, em Minaçu, ao lado da funcionária Aline Morais
Luiz Marques, proprietário da loja de roupas A Goianinha, em Minaçu, ao lado da funcionária Aline Morais

Para os defensores do amianto, toda a polêmica a respeito do seu banimento é provocada por interesses comerciais de quem desenvolve e comercializa fibras alternativas.

O argumento é recorrente em toda conversa sobre o tema em Minaçu _seja na Câmara Municipal, no sindicato dos mineiros, na Sama ou nas ruas.

"Por trás disso, com certeza tem alguma outra firma, aquela que faz caixa d'água de plástico", diz a manicure Keila Costa, 29. "Eles não estão preocupados com a gente; estão preocupados em ganhar dinheiro."

Alternativas

A crença de que não haveria outra forma de a cidade sobreviver é alimentada, também, pelo fracasso de outras atividades econômicas.

O cultivo de alho, abacaxi, mandioca e banana já foi estimulado pelo governo municipal, mas não houve resultados significativos. A única atividade que tem tradição em Minaçu, além da mineração, é a pecuária --mas ela se restringe a poucos e pequenos produtores.

"Escoar a produção é o problema", explica o secretário de Administração do município, Alberto de Oliveira. No extremo norte de Goiás, Minaçu está fora da rota das principais rodovias que cortam o Estado. O isolamento faz com que o custo para levar a produção aos grandes centros seja alto e é apontado como a principal razão do desinteresse de outras empresas em investir no lugar.

Para a economista Claudia Carvalho, da UFG, o governo goiano errou ao não buscar alternativas para o município antes.

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