Treinamento
03/07/2009 - 17h12

Internação psiquiátrica é via-crúcis de pacientes

RODRIGO VIZEU
da Editoria de Treinamento

Após um mês de surto psicótico causado por drogas e esquizofrenia e sem conseguir internação, Carlos (nomes de pacientes e familiares são fictícios para preservar sua identidade), morador de Caucaia do Alto, distrito de Cotia (Grande São Paulo), enforcou-se em casa. O suicídio, relatado pelos irmãos Marta e Antonio, ocorreu no último 17 de março, dia em que Carlos completaria 25 anos.

A situação ilustra um gargalo da saúde mental pública oito anos após a reforma psiquiátrica de 2001, que vem fechando hospitais psiquiátricos para priorizar o atendimento comunitário dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial).

Rafael Hupsel/Folha Imagem
Os irmãos Marta e Antonio (nomes ficitícios), de Caucaia do Alto, distrito de Cotia (SP), cujo irmão se suicidou após três dias sem conseguir internação
Marta e Antonio (nomes ficitícios), de Caucaia do Alto, Cotia (SP), cujo irmão se suicidou após três dias sem conseguir internação

Em 1998, houve 167 residentes de Cotia em internações psiquiátricas por grupo de 100 mil habitantes, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 2007, o número caiu para 28,8.

A cidade tem um Caps, mas ele não é preparado para internação. Ficar em outro município depende da central de vagas da Secretaria Estadual de Saúde, que pode demorar até uma semana para liberar leito, de acordo com Messias Padrão, psiquiatra que atendeu André.

"Esse modelo é pior que um queijo suíço. Hospício é ruim, mas asfixiar o sistema não dá. É preciso compensar com equipe de saúde mental nas unidades de saúde e com ambulatório especializado. Não tem como conter um paciente em surto numa casa", reclama o médico.

Marta também precisou buscar alternativa para se internar. Na mesma época em que Carlos esteve em crise, ela tentou se matar com remédios, consequência de uma depressão. Sem conseguir leitos na rede pública, ela se internou graças à ajuda de amigos que pagaram uma clínica particular.

Outro lado

Por meio de assessoria, a Secretaria de Saúde do Estado disse só ter registros de pedidos de internação de Carlos nos dias 2 e 4 de março e que, diante da dificuldade de encontrar leitos na Grande São Paulo, foi feito uma solicitação à Secretaria de Saúde da capital, a qual informou desconhecer pedidos relativos ao paciente.

A secretaria estadual argumentou que, para conseguir internação, é importante refazer os pedidos diariamente. "É um procedimento cruel. Isso se chama desassistência", diz Messias Padrão.

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