Treinamento
08/07/2009 - 13h08

"Extinto", xipaia é redescoberto no Pará

JOÃO PAULO GONDIM
da Editoria de Treinamento

Considerado extinto, o idioma xipaia foi "redescoberto" em 1988 por uma então estagiária do Museu Paraense Emilio Goeldi, Carmen Rodrigues. À procura de uma língua indígena para estudar, ela soube que talvez houvesse falantes do xipaia em Altamira (a 898 km de Belém) e cruzou o Estado em busca deles.

Em 23 de agosto daquele ano encontrou Maria Xipaya, atualmente com 81. Dias mais tarde, também conheceu uma prima dela, Izabel.

"Naquele momento, iniciei o trabalho de pesquisa sobre a língua e pude perceber que Maria Xipaya tinha maior fluência, com lembranças de um vasto vocabulário e desenvoltura para relatar, em xipaia, histórias de seu passado e de seu povo", diz Carmen, professora de letras da UFPA (Universidade Federal do Pará). Desde então, ela grava depoimentos da índia.

Em seu estudo, a linguista conheceu mais dois xipaias que falam xipaia sem fluência.

Nos registros, Maria contou que "xipaia" é um bambu, com haste forte e flexível, usado para fazer flechas. Por achar que possui tais características, um grupo de índios do Pará passou a se denominar assim.

Maria descende dessa etnia e sabe que seu idioma está a perigo. "Eu não quero que acabe a gíria do xipaia", diz ela, que ensina a fala para dois netos. Qualquer língua corre risco de se extinguir quando não é mais usada no dia a dia, possui um número reduzido de falantes e estes não estão transmitindo a língua para crianças. Segundo mapa da Unesco há 45 em estado crítico no país (veja quadro na página 10).

Ensino de línguas

Maria Xipaya aprendeu o português quando era criança porque o achava "bonito". "Eu não aprendi tudo, não. Mas mesmo assim eu falo." A assimilação do novo idioma sofreu resistência materna. A mãe temia que a filha se esquecesse do seu idioma original.

A índia não só sabe falar português e xipaia, como também se comunica em curuaia. Esta foi ensinada por seu marido, Alberto Kuruaya, um dos últimos falantes. Ele morreu no ano passado.

São comuns casamentos entre xipaias e curuaias. Membros dos dois grupos vivem às margens do rio Curuá, no Pará. O convívio entre as etnias deu-se por conta da expulsão, em 1885, dos xipaias de seu território, na beira do rio Iriri, por seus inimigos caiapós.

É com o nome de seu pai, Manoel Cajubim, que ela pretende batizar o centro de aprendizado da língua e cultura xipaia que planeja criar em Altamira. Maria, o filho Raimundo e Carmen enviaram um projeto ao Ministério da Cultura. O objetivo era ganhar um prêmio de resgate cultural. Não deu certo, mas Maria ainda planeja construir a sua escola. Ela quer que sua língua seja como o bambu que a batiza: que vergue, mas não quebre.

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