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20/12/2007

POR TRÁS DE UMA BOA PAUTA

da Folha de S.Paulo

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São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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Merendeiras dizem receber prêmio para racionar comida em escolas
Cozinheiras afirmavam ganhar R$ 40 de empresa para misturar água em molho servido a alunos

Práticas foram relatadas por nove cozinheiras de três escolas públicas paulistanas em vistorias do Conselho de Alimentação Escolar

ALENCAR IZIDORO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A maçã é entregue aos alunos pela metade. Para a refeição render, pedaços de frango são esmiuçados e misturados a legumes que não estavam previstos no cardápio. No molho de tomate joga-se bastante água -ajuda a gastar menos.
As práticas foram relatadas em agosto por nove cozinheiras de três escolas municipais da zona leste de São Paulo durante vistorias promovidas por um dos órgãos oficiais de fiscalização da merenda -o CAE (Conselho de Alimentação Escolar).
O órgão, formado por pais, professores e funcionários públicos, é responsável pelo controle das verbas da merenda e prepara relatórios ao governo federal sobre os problemas -que podem levar à suspensão de repasses da União.
As merendeiras das Emeis Vital Brasil e São Francisco e do CEI Jardim Colorado disseram ao conselho ter como "prêmio de economia" um bônus mensal de R$ 40 pago pela empresa terceirizada, a Nutriplus, contratada pela Prefeitura de São Paulo para realizar os serviços em 158 unidades escolares.
"Meu filho costuma chegar em casa morrendo de fome. O lanche que eles dão é muito pouco, deve estar faltando", conta a mãe de um aluno de quatro anos da Emei Vital Brasil ouvida pela Folha na última terça -seu nome é preservado para não expor a criança.
A Nutriplus confirma a existência de um prêmio às merendeiras, mas afirma ser somente um incentivo "à qualidade do serviço como um todo", e não à economia de alimentos.
A Prefeitura de São Paulo afirma que a investigação ainda não acabou, mas que vistorias realizadas nas escolas após a formalização das acusações não constataram os problemas.
A empresa afirmou à Folha que a entrega de só metade da maçã visava facilitar a mastigação das crianças (que podiam repetir a porção) e era pedida pelas unidades. Ela é remunerada pela fruta inteira.
"Você acha que a maioria das crianças vai brincar e volta para pegar a segunda metade da maçã? Não é mais fácil, então, a prefeitura pagar por meia maçã?", questiona José Ghiotto Neto, presidente e representante dos professores no CAE.
A Nutriplus disse que mudou seus procedimentos e que, a partir do dia 5, os alunos passaram a receber as duas metades da maçã de uma só vez.
"As cozinheiras disseram que dava para economizar, em alguns casos, mais de 50%", diz José Pereira da Conceição Júnior, terapeuta e membro do CAE como representante dos pais. Apesar das deficiências, ele se diz a favor da terceirização. "O modelo é bom. O problema é a forma como os serviços estão sendo prestados."

Modelo em expansão
A terceirização da merenda -iniciada na gestão Marta Suplicy (PT) e ampliada em julho, na de Gilberto Kassab (DEM)- atinge 849 unidades (59% da rede municipal). O índice antes era de 33%. Seis empresas fazem os serviços atualmente.
Pelo modelo, as empresas ficam responsáveis não só pela compra dos produtos mas pelo preparo nas escolas e distribuição da merenda aos alunos.
Trata-se, nas palavras do secretário municipal de Gestão, Januário Montone, de retirar das diretoras a função de comandante de uma cozinha industrial para que se dediquem ao trabalho de pedagogas.
Em 2006, a merenda de toda a rede custava R$ 14 milhões por mês. Hoje, apenas com as terceirizadas, são R$ 18 milhões por mês (sem somar a comida de 41% das unidades, preparada por agentes escolares).
A gestão Kassab diz que a comparação dos custos não é válida, pois não contabiliza todas as despesas da prefeitura no modelo tradicional com a mão-de-obra e a compra de novos utensílios de cozinha por parte das terceirizadas.
Das seis empresas que atuam em São Paulo, ao menos quatro -Nutriplus, SP Alimentação, Geraldo J. Coan e Sistal- são ou foram alvo de investigações em vários pontos do país por órgãos como a Controladoria-Geral da União, o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público da União e dos Estados.
Foram constatados superfaturamento, suspeitas de corrupção, baixa qualidade do alimento e uso irregular de servidores públicos. As empresas negam as acusações.

Suspeita renovada
Na zona sul de São Paulo, a direção da Emei Cora Coralina questionou a pequena quantidade da comida dada às crianças pela empresa Sistal.
Reclamou, por exemplo, da inclusão de apenas metade da salsicha na refeição.
Além disso, agentes escolares eram deslocados para preparar e distribuir a merenda porque a terceirizada não dispunha de pessoal suficiente, apesar de receber pela mão-de-obra.
Procurada pela Folha, a empresa não se manifestou sobre as reclamações.

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