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02/01/2008

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São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

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"Se o Estado cede, o Estado acaba", diz Lula sobre bispo
Em café com jornalistas, presidente critica a greve de fome de d. Luiz Cappio

Para o petista, a obra no rio São Francisco é a mais humanitária deste governo; ele reclama do cansaço e conta que Gil fica no cargo

Ricardo Marques/Folha Imagem

O presidente Lula, no Planalto, durante café com jornalistas

LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a greve de fome do bispo de Barra (BA), d. Luiz Cappio, e afirmou que as obras de transposição de parte das águas do rio São Francisco vão sair. "Se o Estado cede, o Estado acaba", afirmou o presidente, em referência à greve do religioso.
Lula falou a jornalistas em um café da manhã no Planalto. Ele classificou as obras da transposição de "projeto mais humanitário do governo" e disse ter aprendido que a greve de fome vai contra os preceitos da igreja. Contou que ele próprio já se valeu dessa forma de protesto, durante seis dias na década de 80, quando estava preso. Mas foi convencido por d. Cláudio Hummes, ex-arcebispo de São Paulo que está hoje no Vaticano, a interromper o jejum.
"Aprendi com meus companheiros da Igreja Católica que só Deus dá e pode tirar a vida", disse. E relembrou a experiência: "Dá uma fome...".
Na hora e meia de conversa, o presidente fez projeções otimistas sobre a economia, mas admitiu que a única coisa que o deixará de "antena ligada" neste fim de ano é a crise financeira nos EUA, porque, segundo ele, "ninguém sabe" o tamanho do problema. Falou sobre política interna e externa.
Lula fumou uma cigarrilha e tomou dois cafés expressos. Rejeitou pão -só come aos domingos-, comeu frutas e bolo de coco. Só demonstrou irritação quando questionado se o senador Edison Lobão (PMDB-MA) assumirá o Ministério de Minas e Energia.
Reclamou que todo mundo tira férias, menos o presidente, e admitiu que poderá tirar alguns dias de descanso na primeira semana de janeiro. À exceção de uma rápida entrevista que deu ao final, a conversa não foi gravada, a pedido da Secretaria de Comunicação Social da Presidência. Também não foram permitidas anotações.

GREVE DE FOME
O presidente afirmou que entre a greve de fome do bispo d. Luiz Cappio e os 12 milhões de nordestinos que serão beneficiados com o projeto, ficará com a população, garantindo a continuidade das obras. "Só quem carregou lata d'água e viu sua cabrinha morrer sabe o que é o problema da seca." Lula disse esperar que a igreja diga ao bispo o que disse a ele: que não se mete em questões técnicas. Afirmou que o bispo deveria seguir os preceitos cristãos e emendou: "Espero que ele tenha juízo". Disse que o projeto ajudará a acabar com a indústria do caminhão-pipa no país. E acrescentou que, se o Estado cedesse à greve de fome, outros grupos também a fariam.

BOLÍVIA
O presidente atribuiu parte da crise na Bolívia ao "preconceito" de que o presidente Evo Morales seria vítima. Defendeu a ascensão de um indígena: "Num país onde 80% da população é de índios, não pode ter governante de olho verde que fala inglês". Lula contou que, até as 10h de segunda, quando estava na Bolívia, os técnicos da Petrobras e da estatal boliviana não tinham chegado a um acordo sobre o retorno dos investimentos do Brasil naquele país, e que ele disse a Morales: "Vai ser muito ruim para a Bolívia e o Brasil e para mim e para você se não tiver acordo".
Após mais de quatro horas de reunião, Lula e Evo acabaram anunciando que a estatal investirá até R$ 1 bilhão em projetos para extração de gás na Bolívia nos próximos anos. Afirmou que não tem divergências com Evo, ainda que "muita gente aposte numa guerra" entre eles. Considera o radicalismo do boliviano uma reação ao suposto preconceito contra ele.

TARSO
"Achei que o Tarso tinha morrido", contou Lula, a respeito do desmaio do ministro da Justiça, durante cerimônia em La Paz no último domingo. O presidente disse que o incidente impressionou a comitiva brasileira e que, naquela noite em La Paz, ele próprio dormiu com "a porta aberta e a luz acesa", com medo de ter "um piripaque na Bolívia". Segundo boletins médicos, Tarso foi vítima do "mal das alturas" -a capital boliviana está 3.600 metros acima do nível do mar.

CHÁVEZ
Lula disse ontem que "é fácil, muito fácil" negociar com o venezuelano Hugo Chávez. Atribuiu isso ao fato de Chávez ter uma vontade política muito grande em relação à América do Sul. O presidente culpou a burocracia dos dois países pelas dificuldades nos acordos entre a Petrobras e a PDVSA.

MERCOSUL
Lula defendeu o bloco, elogiou a recente reunião ocorrida em Montevidéu e disse: "O filho pode não ser a criança mais bonita. Mas é nosso, e os outros não podem colocar defeitos".

SENADO
Admitiu que, apesar de os integrantes da base aliada somarem 53 senadores, só conta com 45 aliados no Senado -número que permite aprovar qualquer projeto, menos mudanças na Constituição. "Sabemos qual é a base, quem está com a gente e quem não está."

REFORMAS
Lula afirmou que a reforma tributária será enviada até fevereiro. Sobre a reforma política, disse que tem provocado os partidos, mas que essa é uma atribuição do Congresso.

CAOS AÉREO
O presidente reconheceu que problemas devem ocorrer nos aeroportos neste fim de ano, mas disse acreditar que será em dimensão menor do que em 2006. Questionado se faltou planejamento, tergiversou, dizendo que está há cinco anos no poder e que "isso é coisa para médio e longo prazos".

MINAS E ENERGIA
Lula reagiu irritado ao ser questionado se o senador Edison Lobão (PMDB-MA) viraria ministro de Minas e Energia, como dizem peemedebistas. "Você vai indicá-lo?", rebateu o presidente à Folha, acrescentando: "Nunca falei isso". Lula afirmou que "não sabe de onde saem essas notícias". Cauteloso, também disse ter aprendido o "peso" de suas palavras.

IMPRENSA
Reclamou que não há a palavra "desculpa" no "dicionário da imprensa", em referência a 2004, quando citou "espetáculo do crescimento" para se referir a avanços econômicos. Disse que passou aquele ano "apanhando" da imprensa e que o crescimento se confirmou.

POLÍTICA
Afirmou não ter "problema político" pela frente. Citou, no contexto da CPMF, que a oposição e os aliados terão o mesmo tratamento, e exemplificou: disse que anteontem liberou R$ 300 milhões para a construção do Rodonel em São Paulo e R$ 1,5 bilhão para a construção do metrô no Estado governado por José Serra (PSDB).

GIL
Lula disse que o ministro Gilberto Gil (Cultura) ficará no cargo. Contou ter jantado anteontem com ele -os dois jogaram cartas até as 2h. "O Gil é uma pessoa leve", afirmou.

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