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28/04/2008

Jornalismo 2.0 - do RSS ao iMovie

NATALIE CONSANI
para o Novo em Folha

O livro "Jornalismo 2.0 - Como sobreviver e prosperar - Um guia de cultura digital na era da informação", do jornalista norte-americano Mark Briggs, deve fazer parte da bibliografia de qualquer jornalista, especialmente aqueles interessados em escrever / produzir conteúdo para "plataformas" online, como blogs e sites de notícia.

Para iniciantes na "web 2.0", a obra é bastante completa. Parte de conceitos muito básicos, como o que é propriamente internet, define siglas comuns a quem opera a rede, como FTP, megabytes, feeds, RSS e, capítulo a capítulo, vai aumentando o nível de complexidade do conteúdo, até chegar a ensinar, passo a passo, como editar e postar arquivos de vídeo com dois dos mais populares softwares de edição.

O livro está disponível em português para downloads gratuitos no seguinte endereço: http://knightcenter.utexas.edu/journalism20.php

Apesar da crescente complexidade do conteúdo, Biggs mantém uma linguagem simples e muito concisa. Recheia seus argumentos e suas dicas com muitos exemplos, boa parte deles envolvendo jornais e jornalistas reputados e até vencedores de importantes prêmios, como Pulitzer. E, claro, dá exemplos de repórteres ousados, que estão inovando com as ferramentas à disposição.

E mais: no final - ou ao longo - de todos os 11 capítulos do livro, Biggs sugere tarefas para os leitores aprenderem e testarem na prática.

Para dar uma idéia de como Biggs usa esse didatismo no livro e que tipo de informações práticas ele traz para quem, como eu, é totalmente "foca digital", eis um resumo dos capítulos do livro.

CAPÍTULO A CAPÍTULO

Capítulo 1: FTP, MB, RSS, oh!!!!!

Parte do mais básico, como o título sugere, para introduzir o jornalista leigo no mundo da internet, antes de chegar ao da web 2.0.

Começa contando como a rede funciona, o que são bytes, kilobytes, megabytes até definir para quê serve o RSS, o que é feed...

*Capítulo 2: Web 2.0 *

Do que se trata, afinal, a web 2.0? O capítulo responde a essa pergunta com muitos exemplos e, para variar, de forma bastante didática. "Web 2.0 tem tudo a ver com abertura, organização e comunidade", diz Briggs. Essa "nova internet" pressupõe compartilhamento e distribuição de dados, participação ativa do que antes seria a "audiência", descentralização e mobilidade. "Os leitores não são mais receptores passivos de mensagens. Eles criam, compartilham e comentam. E eles esperam poder fazer isso também nos sites de notícias."

Capítulo 3: Ferramentas e brinquedos

Apresenta o leitor aos "hardwares 2.0" que, de uma forma ou de outra, dão suporte e ainda mais perspectiva a tudo o que Briggs descreve no capítulo anterior. Ele fala de pen drives, smartphones, iPods e o que isso tudo tem a ver com jornalismo:

"Seja um "mojo" (jornalista móvel): A adoção crescente das tecnologias de comunicação móvel não apenas altera o modo pelo qual as audiências recebem as notícias, mas também introduz novas formas de produzir informações. Jornalistas móveis - ou mojos - estão se tornando cada vez mais comuns nas estações de TV e começando a aparecer nos jornais.
Também chamados de jornalistas mochileiros, eles podem carregar uma quantidade de ferramentas para o local dos acontecimentos para produzir notícias de uma forma totalmente multimídia. Um laptop com conexão sem fio, uma câmera de vídeo (que também pode tirar fotos) e um gravador de áudio são as peças básicas do equipamento usado pelos jornalistas para produzir notícias ou blogs, fotos, vídeo ou áudio."

Capítulo 4: Novos métodos de reportagem

As novas ferramentas e tecnologias podem ser assustadoras, mas também podem deixar o jornalismo melhor, mais transparente e mais próximo do leitor. Para Biggs, o uso da tecnologia na apuração, o arquivamento e na análise dos dados torna o trabalho jornalístico ainda mais preciso. Como fazer isso? Algumas dicas:

Pare de usar papel - arquive no computador
Organize os dados numa planilha; insira nela o maior número de campos e utilize números para cruzar informações entre planilhas Reportagem com Auxílio do Computador (RAC) deve ser arquivada digitalmente, para continuar sendo um banco de dados público.
Bancos de dados podem, ainda, ser compartilhados entre várias pessoas ou por uma redação toda. E Biggs dá exemplos:

No Ventura County Star, Howard Owens construiu um banco de dados para fontes de notícias e o disponibilizou para que todos os repórteres pudessem compartilhar os dados na Web.

"Toda fonte de informação era guardada lá e ficava accessível a toda a redação", disse Owens.

Outra novidade da web 2.0 que pode ser considerada uma nova forma de fazer reportagem é a possibilidade da reportagem colaborativa. Grosso modo, é pedir a colaboração dos leitores, com informações, durante o processo de reportagem.

Capítulo 5: Como fazer um blog

Antes disso: afinal, o que é um blog? Ele considera uma mídia de vanguarda, revolucionária, poderosa, e que mudou para sempre o modo como se dissemina notícias. Algumas características prórpias dos blogs: 1- Jornal online, em estilo de conversa, atualizado frequentemente. 2- Links com outras notícias complementares, inclusive de outros blogueiros. 3- A maioria permite comentários dos leitores.

Quer começar seu próprio blog? O livro dá boas dicas:

Leia outros blogs primeiro
Conheça os blogs dos jornais, faça uma leitura dos 100 primeiros da lista do Technorati (site que monitora blogs - www.technorati.com).
Selecione os posts de que mais gosta e reflita sobre porque gosta deles
Anote os melhores elementos de outros blogs, que você poderá incorporar no seu
Cheque a freqüência de atualização e veja se é satisfatória ou não

E fala também sobre forma, sempre com exemplos e dicas:

Pense num blog como um e-mail
Vá direto ao ponto
Coloque links nas suas citações de fontes
Foque num tópico
Seja breve nos posts e lembre-se de que você é o intermediário entre seus leitores e as fontes de informações que eles estão querendo perseguir.
Atualize diariamente, nem que seja com idéias de uma próxima matéria ou links para reportagens sobre temas aos quais vai se dedicar em breve
Descubra um tema sobre o qual seja apaixonado. Você precisa estar apaixonado pelo blog para valer a pena.

Além dessas dicas, é possível encontrar neste capítulo informações sobre como postar fotos, por que postá-las, de que forma administrar os comentários e manter o alto nível do debate no blog. Também dá exemplos de jornalistas que fizeram blogs bacanas que, ao invés de roubar-lhes tempo, ajudaram a melhorar a cobertura que eles já faziam em suas áreas de atuação.

Capítulo 6: Como escrever para a Web

O autor diz: Veja o texto por partes, não mais como um todo, e se concentre em entender aquilo que seu leitor quer de você, nesta plataforma. Deve-se preocupar mais em mandar informações parciais, que serão atualizadas, do que num todo, numa matéria pronta e acabada.

Dicas? Sim, ele dá muitas. Selecionei algumas:

A urgência faz parte deste tipo de cobertura
Notícias "parciais" também (exemplo: engarrafamento que parou uma estrada por uma hora. Talvez, isso nem fosse notícia num jornal impresso. Mas, na web, pelo menos por essa uma hora, é notícia sim)
Escreva com vibração, mas objetividade
Sentenças diretas e simples, uma idéia por sentença
Use verbos e substantivos fortes
O público da web aceita melhor os estilos não convencionais de escrever
Coloque a hora em que escreve no texto; indicadores de tempo são importantes para o leitor. Ele dá um exemplo bem bacana de um jornal que contou uma história policial, mas do desfecho para o começo, marcando os fatos pelas horas em que aconteceram
Para manchetes, corra riscos e prefira linguagem coloquial
A arte, em web, ganha outro significado. Pergunte-se: que tal um mapa localizador? Posso "linkar" com história passada? Devo usar áudio para essa matéria? E um vídeo? Vale a pena uma cartilha interativa? Como se vê, os recursos vão muito além da dobradinha foto x infográfico.

Capítulo 7: Audio Digital e Podcasting

Parte do básico, mostrando os principais formatos de áudio (como os compactados MP3, WMA e Real e os não compactados WAV e AIFF); ajuda a escolher um gravador digital, com opções que vão desde os R$ 200 até R$ 1.000, e ainda dá dicas sobre quando usar microfones com ou sem fio.

Uma vez captada a entrevista - o que já é parte do dia-a-dia de qualquer jornalista - é hora de editar. E Briggs mostra passo a passo como fazer, sugerindo até softwares para isso, como o gratuito Audacity que, segundo ele, pode ser baixado pela internet.

Para quem não sabe muito bem como inserir esses arquivos de áudio - ou os podcastings - nas páginas informativas de seus jornais, ele dá bons exemplos de publicações americanas que já fazem isso com sucesso.

Capítulo 8: Tirando e administrando fotos digitais

Sabe o que é um pixel, um megapixel, a relação entre eles e os "dpi" que indicam a qualidade de fotos? Todas as respostas estão neste capítulo e ainda:

a resolução ideal para cada plataforma de publicação (ex: 72 dpi está bom para a web; já um jornal exige 200 dpi e uma revista, 300)
a luz ideal para cada foto (e por que dias nublados são melhores que os ensolarados)
como enquadrar e segurar a câmera
programas de edição
e um passo a passo de como cortar e editar as imagens

*Capítulo 9: Produzindo vídeos para notícias de atualidades e variedades
&
Capítulo 10: Edição básica de vídeo*

Jornais estão produzindo alguns dos melhores vídeos de jornalismo nos EUA e no mundo, sustenta Biggs. E ele dedica os capítulos 9 e 10 a dar informações detalhadas de como um repórter "leigo" pode fazer clipes de qualidade praticamente profissional sem precisar de grandes esforços de edição. Alguns toques:

você pode produzir vídeos para internet com equipamentos de US$ 500, um software gratuito de edição e um desktop ou notebook
use tripé
use o foco automático da câmera
lembre-se do áudio: é muito importante, especialmente na internet, em que a imagem mostrada fica muito pequena. Então, escolha um bom microfone e use fone de ouvido na câmera para testar o som enquanto grava as imagens (Briggs aproveita e mostra diversas opções de microfones, seus prós e contras)
pense em como o vídeo vai contar a história. E planeje antes de sair
os melhores vídeos são compostos de muitas seqüências curtas

Você vai conhecer, ainda, os principais planos de tomadas e para quê eles servem. E, depois, descobrir - passo a passo - como editar as imagens e exportá-las para a web usando dois softwares gratuitos: o iMovie, do Mac, e o Windows Movie Maker, para os demais Pcs. Também nessa parte, o livro é rico em exemplos e dicas importantes, como as sobre direitos autorais de músicas de fundo e como colocar títulos para identificar entrevistados.

Capítulo 11: Escrevendo roteiros, fazendo gravações em off

Nada de improviso na gravação do áudio. O capítulo mostra como fazer um bom roteiro para entrevistas e gravações de off, mesmo em caso de notícias de última hora.

Por exemplo, indica:

escolher uma locação sem muitos ruídos ao fundo, como a casa ou o escritório da fonte
passar algumas perguntas prévias ao entrevistado, para que ele possa articular-se antes de responder e sentir-se menos pressionado
não falar enquanto a fonte estiver falando - nem aqueles inevitáveis "claro", "compreendo"
aquecer as cordas vocais antes de grava o off (como? Cantando, por exemplo).

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