Novo cálculo da Infraero é questionado

Uma nova metodologia para avaliar a capacidade dos aeroportos administrados pela Infraero expande o número anual de passageiros que cada um pode receber. Com a mudança, entre os 20 aeroportos mais movimentados do país, 12 que até fevereiro seriam definidos como saturados passaram a estar dentro do limite.

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Especialistas ouvidos pela Folha questionam a alteração. "É a mesma coisa que colocar oito pessoas num carro. É conveniente dizer que vai caber, mas fica pior que mercado de peixe", diz o professor de engenharia aeronáutica da USP São Carlos James Waterhouse.

O aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), por exemplo, passou de uma capacidade de 3,5 milhões de pessoas para uma faixa de 4,5 milhões a 6,8 milhões por ano. Neste ano, até outubro, 4,3 milhões de pessoas já tinham passado pelo terminal.

A Infraero afirma que a revisão da capacidade de passageiros foi possível porque houve diminuição do índice de voos internacionais em relação aos domésticos, que exigem menos infraestrutura e têm atendimento mais ágil.

Outro fator foram as alterações no sistema operacional, como novas tecnologias de check-in não consideradas na metodologia de cálculo anterior.

Segundo pesquisadores, porém, o avanço tecnológico possibilita o atendimento a um número maior de passageiros, mas não amplia a capacidade de um aeroporto.

Para justificar a alteração do cálculo, a Infraero defende também que mais voos poderiam ser oferecidos nos horários menos procurados pelos passageiros.

O economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Carlos Campos diz que o argumento não é válido para todos os aeroportos. "Eles incorporam no cálculo a ociosidade da madrugada. Mas qual executivo viaja às três da manhã?"

AVACALHANDO

Para o chefe do departamento de engenharia de transportes da Escola Politécnica da USP, Nicolau Gualda, o novo cálculo não tem razão de ser. "Guarulhos, por exemplo, não tem condições de oferecer serviço minimamente adequado com dois terminais. Mudar a capacidade, só avacalhando o nível de serviço oferecido", afirma.

A capacidade anterior no aeroporto de Guarulhos era de 20,5 milhões de passageiros por ano. Até outubro deste ano, já haviam passado pelo local 22 milhões de pessoas. O movimento passa a ser aceito pelo novo limite, que é de 16,6 milhões a 25 milhões por ano.

Segundo o novo cálculo, somente o aeroporto de Vitória (ES), com 2,1 milhões de passageiros até outubro, já teria ultrapassado a capacidade. O índice passou de 560 mil para uma faixa entre 1,3 milhão e 1,9 milhão por ano.

Para a Anac (agência que regula a aviação civil), os aeroportos nacionais já saturados são dois: Guarulhos e Congonhas. O órgão estabelece limites nos aeroportos que chegam à saturação, tomando medidas como a redução do número de voos autorizados a decolar e pousar nos locais.

OUTRO LADO

O superintendente de operações da Infraero, Marçal Goulart, afirma que a capacidade de um aeroporto leva em conta outros fatores além da infraestrutura, como a demanda dos voos domésticos ou internacionais.

"Antes cerca de 50% dos voos eram domésticos, hoje já são quase 60%. Isso possibilita prever uma capacidade acima do projeto inicial, porque o processo [de embarque] de passageiros e aeronaves é muito mais simples", disse.

Para Goulart, muitos dos aeroportos tidos como saturados operam no limite apenas na hora de pico, em que há mais movimento. Há outros horários que ainda podem ser aproveitados. "Viracopos tem três horas de pico de manhã, duas à noite e o restante abandonado."

Válido para os 67 aeroportos administrados pela Infraero, o novo cálculo não leva em consideração as obras que serão realizadas para a Copa de 2014. Os índices serão revistos periodicamente, segundo Goulart. "Se o aeroporto começar a ter um acúmulo de passageiros, vamos refazer o cálculo."