Chapada Diamantina - Xique-Xique de Igatu
Eduardo Asta/Folha Imagem
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Ruína da antiga vila de garimpeiros de Xique-Xique de Igatu, na Bahia |
JANAINA FIDALGO
da Folha Online
Andar pelas ruas de pedra de Igatu é como estar numa cidade cenográfica de um filme medieval. Ruínas e casas de pedra entremeadas por casas de alvenaria compõem o visual desse distrito de Andaraí.
Ninguém sabe dizer com certeza de onde vem o nome Xique-Xique. Uma das versões o relaciona a uma planta encontrada em abundância na região --um tipo de cacto silvestre. Há quem diga que esse era o apelido do primeiro garimpeiro a se instalar no local. Já Igatu, incorporado depois ao nome do vilarejo, quer dizer "águas boas", em tupi-guarani.
Em meados do século 20, o vilarejo era ocupado por garimpeiros e chegou a ter mais de 4.000 moradores. Hoje, tem cerca de 400. Com o declínio da extração de diamantes, de 1844 a 1920, parte das residências dos garimpeiros foi abandonada e muitas ruas e casas, destruídas por estarem em áreas de mineração. Nessa época, o vilarejo quase se transformou numa cidade fantasma.
Conhecendo Igatu
A melhor maneira de conhecer a cidade é andar a pé e sem pressa por suas ruas de pedra. Assim, descobrem-se ruínas, histórias e personagens interessantes. Um deles é o artista plástico soteropolitano Marcos Zacariades, 41.
Morador de Xique-Xique há seis anos, Zacariades inaugurou no começo deste ano a Galeria Arte e Memória. Instalado em uma ruína da antiga vila, o espaço, a céu aberto, reúne objetos que pertenceram aos garimpeiros. Bateias, louças, lamparinas e diamantes fazem parte do acervo fixo.
O artista plástico e ex-bancário levou dez meses para montar, com recursos próprios, a galeria. Nela há peças doadas, compradas ou achadas.
"A galeria é um projeto de vida. Quis preservar a memória porque Igatu é pura história", diz.
Com entrada gratuita, o espaço funciona de terça a domingo, das 9h às 17h. Além da exposição fixa, a galeria conta ainda com mostras temporárias de diferentes artistas plásticos. Em um espaço anexo à galeria, Zacariades montou uma loja na qual o artesanato da região é vendido. Há objetos produzidos pela população de Igatu, como os colares de eucalipto, e outros vindos de Rio de Contas e Salvador.
Na parte "nova" do vilarejo, onde ficam os restaurantes e bares, impossível não notar e atender ao apelo de uma placa fixada em uma das casas: "Entra aqui e compre alguma coisa (sic)".
À primeira vista o espaço é uma lojinha como qualquer outra, onde são vendidos de doces e remédios a licores e preservativos, mas basta um minuto de prosa com o proprietário para mergulhar na história de Xique-Xique de Igatu.
O professor e comerciante Amarildo dos Santos, 39, é um "cartório" vivo, uma espécie de "regional" do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De cabeça Amarildo vai logo dizendo que Igatu tem 193 mulheres e 210 homens --403, no total. Em um caderno, tem registrado todos os nomes e idades dos moradores da cidade. Sabe quem nasceu, morreu ou se ausentou.
Os manuscritos de Amarildo são uma atração à parte. Atualmente ele tem quatro histórias: "As Novas Atrações Turísticas", "Uma Mulher Lavando Roupa no Rio", "Amarildo dos Santos - O Cidadão do Bem" e "Xique-Xique - Um Pequeno Resumo da Nossa História Antiga". Nos últimos três anos, Amarildo já vendeu mais de cem exemplares --todos escritos à mão.
"Antes eu fazia com mimeógrafo, mas não ficavam com boa qualidade. O resultado não era legal. Aí os turistas deram a idéia de eu fazer escrito", diz.
- Galeria Arte & Memória (rua Luis dos Santos, s/nº, tel. 0/xx/75/ 335-2510). E-mail: galeria@arte-memoria.com.br
- Ponto Amarildo (rua Sete de Setembro, s/nº)
*A jornalista Janaina Fidalgo e o designer gráfico Eduardo Asta viajaram a convite do Hotel Paraguaçu (tel. 0/xx/75/335-2073).
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