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26/05/2003 - 07h43

Pais temem rediscutir a era do apartheid

do enviado especial da Folha de S.Paulo à África do Sul

O bispo Desmond Tutu -ganhador do Nobel da Paz de 1984 pela sua persistente campanha antiapartheid- usou a metáfora do arco-íris para definir seu país. Nada mais apropriado. Na África do Sul, a cor da pele determinava a perda de diretos elementares, e a cor das idéias, a prisão ou a morte.

Mas, mesmo por detrás das grades, o regime dividia brancos e negros. Era cama para os primeiros e chão para os outros.

Em um trecho de "A Filha de Burger" (ed. Rocco, 1985), a romancista branca sul-africana Nadine Gordimer, Nobel de Literatura de 1991, descreve num detalhe, aparentemente secundário, como a repressão sabia se tingir de legalidade: "À Rosa se permitia uma visita ao presídio a cada dois meses durante o primeiro ano, enquanto seu pai [líder anti-racista branco que fora condenado à morte] era prisioneiro classe "D".

Recebia dele, e escrevia de volta, uma carta por mês, sem ultrapassar as 500 palavras regulamentares. Quando excedeu esse limite por uma frase, a página foi cortada naquele ponto pelo chefe da carceragem, que censurava a correspondência dos prisioneiros. Seu pai lhe contou, na visita seguinte, como se divertira tentando construir, a partir do contexto da frase antecedente, o que teria acrescentado à parte que faltava".

Muitos pais ainda se perguntam se é melhor discutir o passado com os adolescentes -uma geração nascida após o fim do apartheid- ou enterrar os sofrimentos, por estarem próximos demais daquela época.

O governo está lançando um programa de anistia para que os envolvidos nas torturas saiam do anonimato e contem o que sabem. O secretário da Presidência, Frank Chikane, negro, vítima de torturas, dispôs-se publicamente a renunciar ao direito de perseguir seus carrascos.

A explicação que ele deu recentemente ao "Sunday Independent" foi a de que a atitude seria um exemplo a outros sul-africanos "para que os responsáveis pelas atrocidades se sintam livres e não vivam com medo de que um dia possam ser processados".

A África do Sul tem sorte. Tem heróis e pode celebrá-los. Eles lutaram
por uma causa incontestável, clara, definida e concreta. O país conta com heróis conhecidos e outros anônimos. Na península do Cabo, há um pitoresco vilarejo chamado Simon Town -símbolo da luta branca.

Na década de 60, uma lei obrigava os não-brancos a morar em áreas expressamente reservadas, e as remoções podiam ser dramáticas. Muitas vezes, os militares esperavam que todos saíssem de casa para trabalhar para jogar fora os pertences e derrubar o imóvel.

Em Simon Town, os brancos assinaram uma petição contra a remoção de milhares de "coloured". Ignorada pelo governo, a petição entrou para a história local e é lembrada com orgulho.

Com o programa de reclamação de terra, os ex-deportados podem entrar na Justiça e receber uma indenização ou as terras de volta.

Museu do apartheid

Recentemente foi erguido em Johannesburgo o Museu do Apartheid, que expõe recortes de jornais, fotos e palavras das vítimas. Segundo o folheto de apresentação, o princípio básico do apartheid era segregar tudo. Diz: "Nos visite e entenda como toda forma de iniquidade racial leva inevitavelmente à destruição".

Ao chegar, o visitante recebe uma etiqueta e pode entrar somente pela porta indicada na etiqueta. É um modo de experimentar, sem maiores consequências, a separação.


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