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09/06/2003
-
05h51
da Folha de S.Paulo
"Eles fizeram tão bem, que até o Carnaval do Rio utiliza sua mão-de-obra", conta o carnavalesco Joãosinho Trinta, 69, ao se referir ao talento de artistas de Parintins. Hoje, há uma troca de conhecimento entre os carnavalescos do Rio e os artistas do Norte.
A técnica desenvolvida na movimentação dos carros e a dramatização adotada no Carnaval do Rio são importadas dos artistas do festival de Parintins.
Tudo começou, em 1989, no encontro de Joãosinho com dois estagiários vindos da ilha: Juarez Lima, 38, e Karu Carvalho, 40, que foram ao Rio para aprender com o mestre, na época, na Beija-Flor. Leia trechos da entrevista que o carnavalesco concedeu à Folha.
ANTES - Há mais de dez anos, duas pessoas que trabalhavam no festival em Parintins me procuraram na escola de samba Beija-Flor, onde eu estava trabalhando, e fizeram um estágio comigo, durante uns quatro meses. Depois eles voltaram para Parintins. Eles [Juarez Lima e Karu Carvalho] vieram para conhecer a escola de samba.
DEPOIS - Cinco anos depois, quando fui a Parintins, fiquei maravilhado com o que vi. Realmente é um espetáculo formidável, um espetáculo grandioso, de muita imaginação, de muita criatividade.
Completamente diferente. Não é Carnaval, porque não acontece numa avenida, como o Carnaval do Rio, mas numa arena, o bumbódromo, como eles dizem lá. Não tem nada que ver com Carnaval. É um espetáculo folclórico sobre o Amazonas.
BIS - Devo ter ido três vezes seguidas, mas aí não pude mais ir, porque tive isquemia, mas voltei no ano passado. [O espetáculo] Cresceu muito. Até fiz uma crítica, porque as alegorias tomaram dimensões enormes e isso abafou um pouco a presença das danças, dos conjuntos que se apresentam, e eu achei que desequilibrou um pouquinho. As alegorias tomaram proporções gigantescas, uma coisa inimaginável até. Difícil de fazer. O povo mesmo ficou um pouco diminuído, e as danças, o conjunto, em segundo plano. Procurei chamar a atenção para esse desequilíbrio. Vamos ver se a minha observação é válida.
TÉCNICA - Eles adquiriram uma técnica muito grande. Com a diferença que o Carnaval no Rio se processa numa avenida, que é a Marquês de Sapucaí. As alegorias do Rio têm que se movimentar, têm que caminhar, enquanto que, em Parintins, as alegorias são fixas, acontecem no teatro de arena. São montadas em módulos. E isso permitiu ao pessoal de Parintins desenvolver muitos movimentos. Eles adquiriram uma técnica tão grande, que as pessoas do Rio começaram a importar as pessoas de Parintins. Eu mesmo trouxe, neste ano, vários artistas de lá. Lá em Parintins, como a apresentação é num teatro de arena, num local fixo, isso permitiu que eles explorassem mais esse movimento. No Rio, a situação é outra. É um desfile, um cortejo.
PREFERIDO - Meu coração bateu pelos dois. Sou Garranchoso, uma mistura de Garantido com Caprichoso.
PADRINHO - Sou garoto-propaganda de Parintins. Levei a diretoria da Coca-Cola, que começou a patrocinar a festa. Eu sou realmente o padrinho. Gosto muito do festival, sou o maior admirador e um padrinho muito honrado. O festival de Parintins é um dos maiores espetáculos da terra. É longe das grandes capitais, numa pequena ilha. O trabalho é feito por eles. Não gosto de falar que ajudei, porque eles sozinhos criaram tudo aquilo. Colaborei um pouquinho. O talento dos artistas é muito maior do que a ajuda que eu dei. Eles fizeram tão bem, que até o Carnaval do Rio utiliza sua mão-de-obra.
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"Eles fizeram tão bem, que até o Carnaval do Rio utiliza sua mão-de-obra", conta o carnavalesco Joãosinho Trinta, 69, ao se referir ao talento de artistas de Parintins. Hoje, há uma troca de conhecimento entre os carnavalescos do Rio e os artistas do Norte.
A técnica desenvolvida na movimentação dos carros e a dramatização adotada no Carnaval do Rio são importadas dos artistas do festival de Parintins.
Tudo começou, em 1989, no encontro de Joãosinho com dois estagiários vindos da ilha: Juarez Lima, 38, e Karu Carvalho, 40, que foram ao Rio para aprender com o mestre, na época, na Beija-Flor. Leia trechos da entrevista que o carnavalesco concedeu à Folha.
ANTES - Há mais de dez anos, duas pessoas que trabalhavam no festival em Parintins me procuraram na escola de samba Beija-Flor, onde eu estava trabalhando, e fizeram um estágio comigo, durante uns quatro meses. Depois eles voltaram para Parintins. Eles [Juarez Lima e Karu Carvalho] vieram para conhecer a escola de samba.
DEPOIS - Cinco anos depois, quando fui a Parintins, fiquei maravilhado com o que vi. Realmente é um espetáculo formidável, um espetáculo grandioso, de muita imaginação, de muita criatividade.
Completamente diferente. Não é Carnaval, porque não acontece numa avenida, como o Carnaval do Rio, mas numa arena, o bumbódromo, como eles dizem lá. Não tem nada que ver com Carnaval. É um espetáculo folclórico sobre o Amazonas.
BIS - Devo ter ido três vezes seguidas, mas aí não pude mais ir, porque tive isquemia, mas voltei no ano passado. [O espetáculo] Cresceu muito. Até fiz uma crítica, porque as alegorias tomaram dimensões enormes e isso abafou um pouco a presença das danças, dos conjuntos que se apresentam, e eu achei que desequilibrou um pouquinho. As alegorias tomaram proporções gigantescas, uma coisa inimaginável até. Difícil de fazer. O povo mesmo ficou um pouco diminuído, e as danças, o conjunto, em segundo plano. Procurei chamar a atenção para esse desequilíbrio. Vamos ver se a minha observação é válida.
TÉCNICA - Eles adquiriram uma técnica muito grande. Com a diferença que o Carnaval no Rio se processa numa avenida, que é a Marquês de Sapucaí. As alegorias do Rio têm que se movimentar, têm que caminhar, enquanto que, em Parintins, as alegorias são fixas, acontecem no teatro de arena. São montadas em módulos. E isso permitiu ao pessoal de Parintins desenvolver muitos movimentos. Eles adquiriram uma técnica tão grande, que as pessoas do Rio começaram a importar as pessoas de Parintins. Eu mesmo trouxe, neste ano, vários artistas de lá. Lá em Parintins, como a apresentação é num teatro de arena, num local fixo, isso permitiu que eles explorassem mais esse movimento. No Rio, a situação é outra. É um desfile, um cortejo.
PREFERIDO - Meu coração bateu pelos dois. Sou Garranchoso, uma mistura de Garantido com Caprichoso.
PADRINHO - Sou garoto-propaganda de Parintins. Levei a diretoria da Coca-Cola, que começou a patrocinar a festa. Eu sou realmente o padrinho. Gosto muito do festival, sou o maior admirador e um padrinho muito honrado. O festival de Parintins é um dos maiores espetáculos da terra. É longe das grandes capitais, numa pequena ilha. O trabalho é feito por eles. Não gosto de falar que ajudei, porque eles sozinhos criaram tudo aquilo. Colaborei um pouquinho. O talento dos artistas é muito maior do que a ajuda que eu dei. Eles fizeram tão bem, que até o Carnaval do Rio utiliza sua mão-de-obra.
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