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07/07/2003
-
04h21
da Folha de S.Paulo, em Santiago
Quem vai esquiar no Chile geralmente passa um dia ou dois em Santiago. O que pode parecer um momento de fazer hora, transforma-se num programa "mui rico".
Ao chegar à capital chilena o encantamento é inevitável. São avenidas largas, rodeadas de praças arborizadas, sobre as quais se espalham casais namorando, fazendo piquenique, senhoras passeando e adultos indo para o trabalho.
A imagem ultrapassa e muito as expectativas de quem tem na cabeça o protótipo de uma capital sul-americana. O roteiro de pontos turísticos, como o palácio de la Moneda, sede do governo, que ainda conserva marcas dos tiros do golpe contra Allende, e os cafés com pernas, lanchonetes onde garçonetes servem clientes trajando uma microssaia, servem de curiosidade, mas não devem tomar o dia do turista.
O centro é conservado, "pero no mucho". Alguns prédios foram restaurados, outros não escondem as marcas do tempo, que parecem até elegantes, como se os prédios tivessem vastos e charmosos cabelos grisalhos.
O conhecido Mercado Central, onde são vendidas espécies de frutos do mar "pacíficas" raramente vistas por nós, "atlânticos", é cercado de barraquinhas que vendem de tudo, de lindas meias listradas à la Emília do Sítio do Picapau Amarelo a caixinhas de fósforos decoradas com fotos de artistas pop, como Michael Jackson, Jim Morrison e um punhado de "boys band". Um bom suvenir para os amigos que sempre querem um "recuerdo" de viagens. Há, ainda, bancas especializadas em ervas milagrosas, tais como as que temos por aqui, com saquinhos ornados com rótulos bem-humorados.
Caminhar por Santiago já é um passeio e tanto. De quase todo lugar avista-se a cordilheira dos Andes, uma visão quase holográfica.
À noite, a cidade não decepciona. Há três focos de bares e danceterias que agradam a tipos específicos de público.
Brasil
A noite mais interessante está no curioso e estiloso bairro Brasil. São bares com menos gente, dotados de um clima difícil de se encontrar por aí. Com casarões antigos, o bairro tem a bela praça Brasil. De frente para ela, o Barroco Cafe Exposiciones é obrigatório para quem gosta da mistura de arte, charme e uns tragos. Com pé-direito alto, janelas verticais monumentais voltadas para a praça e mesas espaçadas, o bar promove exposições temporárias de artistas jovens.
Para expor nas paredes locais, não há confusão: basta levar seu portfólio e mostrá-lo. Se o proprietário Javier Simpsom aprovar, o trabalho vai para as paredes pintadas em tons fortes de azul, vermelho e amarelo.
Mas mesmo sem exposição, a decoração do bar já é um prato cheio para quem gosta de ambientes esteticamente curiosos. Lustres de bolinhas de vidro, daqueles que ficavam nos criados-mudos das casas das bisavós, espalham-se por todos os lados. As cadeiras remetem às de tortura, com espaldar alto, mas não são desconfortáveis.
No menu, as cervejas nacionais saem por cerca de R$ 5 e uma dose de uísque Johnnie Walker, R$ 12. O único defeito, para madrugadores, é que o bar fecha às 2h.
Uma vez em Santiago, com vontade de ir ao Barroco, mas sem o endereço em mãos, chegar lá é fácil. Na praça Brasil, pergunte onde fica a Anistia Internacional. A organização é vizinha de porta do bar. Os dois ocupam o mesmo segundo andar do mesmo casarão.
Providência
A região mais propagandeada pelos guias é a rua Suécia, no bairro Providência. Ali, danceterias temáticas como a Infierno, que faz jus ao nome, tocam hits do axé e do funk brasileiro que confundem o turista quanto à latitude e à longitude em que ele está.
O lugar vive com filas na porta, e a música, ensurdecedora, pode ser ouvida na rua, nos bares que esparramam mesas pela calçada para servir jarros das cervejas Cristal e Austral, acompanhados de sanduíches ou de pratos como o "de povre" (ou de pobre): arroz, feijão, bife e batatas fritas.
As casas ficam lotadas de adolescentes. Um simpático bulevar é salpicado por essas danceterias e bares que lembram um pouco a Vila Olímpia de São Paulo, mas mais temática, com um leve toque de Disney.
Bellavista
A Bellavista é um bairro boêmio agradável, com uma rua cheia de bares, restaurantes e barraquinhas de hippies. Dali, saem algumas pequenas vias "afluentes", com discotecas. Há locais para todos os gostos. De botecões que lembram os nossos bares de esquina, com luminosos anunciando frango na brasa e outras receitas populares como o lomito, sanduíche feito com fatias de carne, a reduzidos espaços alocados em casas antigas que vendem cerveja e tocam jazz. É difícil não achar um lugar que agrade no meio de tantas possibilidades.
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HELOISA LUPINACCIda Folha de S.Paulo, em Santiago
Quem vai esquiar no Chile geralmente passa um dia ou dois em Santiago. O que pode parecer um momento de fazer hora, transforma-se num programa "mui rico".
Ao chegar à capital chilena o encantamento é inevitável. São avenidas largas, rodeadas de praças arborizadas, sobre as quais se espalham casais namorando, fazendo piquenique, senhoras passeando e adultos indo para o trabalho.
A imagem ultrapassa e muito as expectativas de quem tem na cabeça o protótipo de uma capital sul-americana. O roteiro de pontos turísticos, como o palácio de la Moneda, sede do governo, que ainda conserva marcas dos tiros do golpe contra Allende, e os cafés com pernas, lanchonetes onde garçonetes servem clientes trajando uma microssaia, servem de curiosidade, mas não devem tomar o dia do turista.
O centro é conservado, "pero no mucho". Alguns prédios foram restaurados, outros não escondem as marcas do tempo, que parecem até elegantes, como se os prédios tivessem vastos e charmosos cabelos grisalhos.
O conhecido Mercado Central, onde são vendidas espécies de frutos do mar "pacíficas" raramente vistas por nós, "atlânticos", é cercado de barraquinhas que vendem de tudo, de lindas meias listradas à la Emília do Sítio do Picapau Amarelo a caixinhas de fósforos decoradas com fotos de artistas pop, como Michael Jackson, Jim Morrison e um punhado de "boys band". Um bom suvenir para os amigos que sempre querem um "recuerdo" de viagens. Há, ainda, bancas especializadas em ervas milagrosas, tais como as que temos por aqui, com saquinhos ornados com rótulos bem-humorados.
Caminhar por Santiago já é um passeio e tanto. De quase todo lugar avista-se a cordilheira dos Andes, uma visão quase holográfica.
À noite, a cidade não decepciona. Há três focos de bares e danceterias que agradam a tipos específicos de público.
Brasil
A noite mais interessante está no curioso e estiloso bairro Brasil. São bares com menos gente, dotados de um clima difícil de se encontrar por aí. Com casarões antigos, o bairro tem a bela praça Brasil. De frente para ela, o Barroco Cafe Exposiciones é obrigatório para quem gosta da mistura de arte, charme e uns tragos. Com pé-direito alto, janelas verticais monumentais voltadas para a praça e mesas espaçadas, o bar promove exposições temporárias de artistas jovens.
Para expor nas paredes locais, não há confusão: basta levar seu portfólio e mostrá-lo. Se o proprietário Javier Simpsom aprovar, o trabalho vai para as paredes pintadas em tons fortes de azul, vermelho e amarelo.
Mas mesmo sem exposição, a decoração do bar já é um prato cheio para quem gosta de ambientes esteticamente curiosos. Lustres de bolinhas de vidro, daqueles que ficavam nos criados-mudos das casas das bisavós, espalham-se por todos os lados. As cadeiras remetem às de tortura, com espaldar alto, mas não são desconfortáveis.
No menu, as cervejas nacionais saem por cerca de R$ 5 e uma dose de uísque Johnnie Walker, R$ 12. O único defeito, para madrugadores, é que o bar fecha às 2h.
Uma vez em Santiago, com vontade de ir ao Barroco, mas sem o endereço em mãos, chegar lá é fácil. Na praça Brasil, pergunte onde fica a Anistia Internacional. A organização é vizinha de porta do bar. Os dois ocupam o mesmo segundo andar do mesmo casarão.
Providência
A região mais propagandeada pelos guias é a rua Suécia, no bairro Providência. Ali, danceterias temáticas como a Infierno, que faz jus ao nome, tocam hits do axé e do funk brasileiro que confundem o turista quanto à latitude e à longitude em que ele está.
O lugar vive com filas na porta, e a música, ensurdecedora, pode ser ouvida na rua, nos bares que esparramam mesas pela calçada para servir jarros das cervejas Cristal e Austral, acompanhados de sanduíches ou de pratos como o "de povre" (ou de pobre): arroz, feijão, bife e batatas fritas.
As casas ficam lotadas de adolescentes. Um simpático bulevar é salpicado por essas danceterias e bares que lembram um pouco a Vila Olímpia de São Paulo, mas mais temática, com um leve toque de Disney.
Bellavista
A Bellavista é um bairro boêmio agradável, com uma rua cheia de bares, restaurantes e barraquinhas de hippies. Dali, saem algumas pequenas vias "afluentes", com discotecas. Há locais para todos os gostos. De botecões que lembram os nossos bares de esquina, com luminosos anunciando frango na brasa e outras receitas populares como o lomito, sanduíche feito com fatias de carne, a reduzidos espaços alocados em casas antigas que vendem cerveja e tocam jazz. É difícil não achar um lugar que agrade no meio de tantas possibilidades.
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