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24/11/2003
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04h32
free-lance para a Folha de S.Paulo
Quando Paul Gauguin cansou-se da Europa, pegou um barco e zarpou para o Taiti. Nas ilhas Marquesas, a 870 km de Papeete, morreu pobre, doente e preso.
Sua morte completou cem anos em maio deste ano. Para relembrar a história dele, está em cartaz em Paris a mostra "Gauguin: Taiti", que reúne suas obras produzidas no Pacífico Sul.
Nada na vida de Gauguin foi muito normal. Até sobre a sua morte há lendas. Reza uma delas que, ao ver o corpo do morto, um serviçal mordeu-lhe o cocuruto. Não era canibalismo, frequente no imaginário envolvendo ilhas distantes, mas um costume para checar se a pessoa estava morta.
Até 19 de janeiro, a exposição, reúne mais de 150 pinturas, esculturas de madeira e manuscritos autobiográficos nas Galeries Nationales du Grand Palais (www.rmn.fr/gauguintahiti).
É a primeira vez que o painel "De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde Vamos?" fica à mostra fora dos EUA depois de 50 anos.
Pintada em 1897, a obra é uma despedida. Deprimido pela morte de sua filha Aline, aos 20 anos, ele decidiu cometer suicídio, mas, antes, quis "pintar uma tela imensa e nela colocar toda a minha energia". Resultado: a obra de 1,39 m por 3,75 m. Ao terminar o quadro, envenenou-se com arsênico. Mas não morreu. Escreveu sobre o quadro a um amigo.
Sobre a pergunta "de onde viemos", escreveu Gauguin: "À direita, no canto, vê-se um bebê que dorme cercado por três nativas sentadas no chão. Duas figuras, vestidas de vermelho, trocam idéias. Uma mulher de dimensões propositadamente maiores, a despeito da perspectiva, ergue um braço e observa atônita essas duas figuras que se atrevem a conjecturar sobre seus destinos".
A mulher que apanha uma fruta reproduz Eva, mas, em vez da maçã, segura uma manga.
"A figura central apanha uma fruta. (...) O ídolo, com braços erguidos misteriosamente, aponta para o além. O apanhar da fruta simboliza os prazeres da vida; a figura em plenitude simbolizaria a eterna felicidade, caso o ídolo não estivesse lá para nos lembrar das verdades eternas --uma constante ameaça à humanidade." Essa é descrição que o pintor fez para a questão "quem somos?".
O canto esquerdo representa "para onde vamos". "Uma figura sentada parece ouvir o ídolo. Uma velha, já bem próxima da morte, parece aceitar com resignação a sua própria sorte, fechando a história. Uma estranha ave branca, prendendo um lagarto com os pés, representa a futilidade das palavras vazias."
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Mostra em Paris exibe o Taiti de Gauguin
HELOISA LUPINACCIfree-lance para a Folha de S.Paulo
Quando Paul Gauguin cansou-se da Europa, pegou um barco e zarpou para o Taiti. Nas ilhas Marquesas, a 870 km de Papeete, morreu pobre, doente e preso.
Sua morte completou cem anos em maio deste ano. Para relembrar a história dele, está em cartaz em Paris a mostra "Gauguin: Taiti", que reúne suas obras produzidas no Pacífico Sul.
Reprodução |
"Visão após Sermão", de 1888, do pintor francês Paul Gauguin, que retratou o exotismo das ilhas do Pacífico Sul |
Nada na vida de Gauguin foi muito normal. Até sobre a sua morte há lendas. Reza uma delas que, ao ver o corpo do morto, um serviçal mordeu-lhe o cocuruto. Não era canibalismo, frequente no imaginário envolvendo ilhas distantes, mas um costume para checar se a pessoa estava morta.
Até 19 de janeiro, a exposição, reúne mais de 150 pinturas, esculturas de madeira e manuscritos autobiográficos nas Galeries Nationales du Grand Palais (www.rmn.fr/gauguintahiti).
É a primeira vez que o painel "De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde Vamos?" fica à mostra fora dos EUA depois de 50 anos.
Pintada em 1897, a obra é uma despedida. Deprimido pela morte de sua filha Aline, aos 20 anos, ele decidiu cometer suicídio, mas, antes, quis "pintar uma tela imensa e nela colocar toda a minha energia". Resultado: a obra de 1,39 m por 3,75 m. Ao terminar o quadro, envenenou-se com arsênico. Mas não morreu. Escreveu sobre o quadro a um amigo.
Sobre a pergunta "de onde viemos", escreveu Gauguin: "À direita, no canto, vê-se um bebê que dorme cercado por três nativas sentadas no chão. Duas figuras, vestidas de vermelho, trocam idéias. Uma mulher de dimensões propositadamente maiores, a despeito da perspectiva, ergue um braço e observa atônita essas duas figuras que se atrevem a conjecturar sobre seus destinos".
A mulher que apanha uma fruta reproduz Eva, mas, em vez da maçã, segura uma manga.
"A figura central apanha uma fruta. (...) O ídolo, com braços erguidos misteriosamente, aponta para o além. O apanhar da fruta simboliza os prazeres da vida; a figura em plenitude simbolizaria a eterna felicidade, caso o ídolo não estivesse lá para nos lembrar das verdades eternas --uma constante ameaça à humanidade." Essa é descrição que o pintor fez para a questão "quem somos?".
O canto esquerdo representa "para onde vamos". "Uma figura sentada parece ouvir o ídolo. Uma velha, já bem próxima da morte, parece aceitar com resignação a sua própria sorte, fechando a história. Uma estranha ave branca, prendendo um lagarto com os pés, representa a futilidade das palavras vazias."
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